GEERTZ, Clifford. Centers, Kings, and Charisma: Reflections on the Symbolics of Power. In Local Knowledge: Further Essays in Interpretive Anthropology. pp. 121–146. New York: Basic Books, 1983.
Williams Souza Silva
Centers, Kings, and Charisma: Reflections on the Symbolics of Power (Centros, reis e carisma: reflexões sobre o simbolismo do poder) é o sexto capítulo do livro O saber local de Clifford Geertz, obra que reúne reflexões feitas em diferentes momentos de sua trajetória acadêmica, sobre temas como: o trabalho do antropólogo, o poder político, as artes e a literatura, entre outros.
A discussão desse capítulo gira em torno da noção de carisma e como se legitima o poder de determinadas figuras que se constituirão em “autoridades políticas”. Nesse percurso, Geertz parte de um estudo comparativo entre três monarquias, em períodos históricos diferentes e que também tiveram características muito distintas: a Inglaterra do século XVI, o Marrocos dos séculos XVIII e XIX e o Java Hindu do século XIV.
Partindo da perspectiva de Max Weber sobre o carisma, Geertz busca entender como em diferentes culturas este é usado para manter o poder de um líder. Para o autor de O saber local, a concepção de Weber sobre carisma não está completa e se apresenta de modo simplificado, pois cara compreender a relação entre a autoridade, líder e carisma depende da construção cultural de uma dada sociedade, ou seja, cada cultura terá princípios diferentes para eleição de líder.
Geertz retoma então a discussão de Eduward Shils sobre o tema, uma vez que o ultimo dá ênfase ao valor simbólico do carisma e em como este se relaciona aos centros da ordem social. Geertz argumenta: "se o carisma é um sinal de envolvimento com os centros da ordem da sociedade, e se tais centros são fenômenos culturais, e, portanto, historicamente construídos, as investigações sobre os símbolos de poder e sua natureza são empreendimentos semelhantes”.
A comparação feita pelo o autor entre as três diferentes monarquias teve por objetivo de mostrar esse argumento. Na Inglaterra, o carisma da rainha Elizabeth se deu pela ideia de virtude, ela mesma se tornou um símbolo de tal representação. Na Indonésia, o rei era visto como o mediador entre deuses e homens, deste modo o carisma era produzido pela hierarquia – o que é difere da monarquia elisabetana onde o carisma se dava pela alegoria. Já no Marrocos, o processo da construção do carisma se assemelhava, segundo Geertz, a doutrina calvinista de predestinação e ao contrário dos exemplos anteriores, não havia um centro, os reis nem mesmo ficavam em um único local, estavam em constante movimento e esse era um elemento fundamental de seu poder.
A castidade de Elizabeth, a magnificência de Wuruk, o movimento de Mulay Hasan demonstram diferentes centros de carisma e poder.
Para Geertz, a comparação entre essas monarquias corrobora com a ideia de que a cultura e seus símbolos interferem na estrutura e organização política. “É por esse motivo que mesmo que o tipo de figura carismática que nos interessa seja periférico, efêmero ou sem base solida – o mais extremado dos profetas ou o mais radical dos revolucionários – devemos primeiramente examinar o centro dos símbolos e concepções que nele existem, para que possamos entendê-los e saber exatamente o que significam” (215).
Ao fazer um paralelo entre essas diferentes culturas, em tempos históricos distintos, o que o próprio Geertz chama de “justaposição excêntrica”, o autor vai dizer que ao interpretar tais contextos chegamos ao entendimento do caráter simbólico da estrutura política. Segundo Frehse (1998), ao desenvolver esse Geertz “desloca a discussão sobre o carisma do plano puramente psicológico ou sociológico para o dos fenômenos culturais e, portanto, históricos que envolvem os indivíduos e nutrem as concepções de dominação e poder destes. Assim, leva a que se pense a própria política ocidental como imbuída de um simbolismo que lhe dá sentido e define até mesmo a sua natureza”. Além disso, sua análise acaba por afastar concepções generalistas sobre a cultura e sobre como funcional as sociedades.
Em primeiro lugar parabéns pela escrita da resenha.E em segundo lugar posso dizer que refletir sobre esse texto do Geertz foi muito, principalmente no que se refere a minha pesquisa com crianças, pois estas muitas das vezes elegem suas figuras de referências, de acordo com o carisma exercido por essas figuras, pode talvez ser um misto entre o status e o estimulo, muitas vezes provocado por rituais, que muitas vezes servem para ordenar o mundo social (nas palavras do próprio Geertz), como por exemplo, as princesas precisam de coras, que funcionam como um símbolo indicativo de poder, os ritos e as imagens são caminhos para se chegar ao carisma. Utilizando um exemplo, mais próximo de mim, dentre as crianças o carismático é o que tenta ser o líder da turma, ou aquele que possui um status que o coloca em posição privilegiada próxima do centro das coisas, aquele que de alguma forma possui o ‘poder’, ser um líder, seguido por todos (ou talvez muitos), devo considerar as culturas infantis nessa constatação que me leva a observação de que: para a relação entre a autoridade e carisma, depende bastante da construção social da sociedade. Enfim continuo pensando como as proposições de Geertz muitas vezes se encaixam tão perfeitamente que as vezes chego a duvidar da minha humilde capacidade de fazer uso de alguns conceitos tão perfeitamente aplicado por ele, como um quebra-cabeças perfeito.
ResponderExcluir