Introdução
do Livro "A invenção das tradições", de Eric Hobsbawm e Terence
Ranger
Por Wener Brasil
O objetivo da introdução do livro “A Invenção das
Tradições” é fazer uma análise crítica e conceitual da noção de tradição e de
costume, bem como tematizar as implicações do que é denominado pelos autores de
invenção das tradições no processo de construção do Estado-nação.
A expressão "tradição inventada" é entendida
de maneira ampla como sendo as práticas reguladas de natureza ritual ou
simbólica, que incorporam valores e comportamentos definidos através de
repetição. Tal repetição acontece devido a novas situações e reações que se
referem ao antes, como numa ideia de continuidade.
No texto, a diferença entre tradição e costume
(vigentes nas sociedades tradicionais) é ressaltada. A tradição inventada teria
a característica de imposição de práticas fixas como repetições, já o costume
não impediria que a própria dinâmica social implicasse em inovação e
modificasse as práticas e rituais até certo ponto.
É destacado pelo autor que todo esse processo da
invenção de tradições caminha pela ritualização e formalização, sempre se
referindo ao passado, impondo a repetição. Mas, pode-se dizer que toda tradição
é inventada? Em tal sentido pode-se dizer que sim, ou seja, a depender da
maneira como ela se constitui, a permanência das regras, ou ainda, quando a
reprodução é forçada ou institucionalizada com rigidez.
Em síntese, são expostas três categorias relativas às tradições inventadas desde a Revolução Industrial: a) as que estabelecem ou simbolizam a coesão social ou as condições de admissão de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais; b) as que estabelecem ou legitimam instituições, status, ou relação de autoridade e c) aquelas cujo propósito principal é a socialização, a inculcação de ideias, sistemas de valores e padrões de comportamento.
Para concluir, um aspecto importante é avaliar qual a
ligação entre a invenção e a espontaneidade. Na verdade, se tem uma ideia que
essa criação parte de conjecturas políticas, podendo até serem inventadas para
a manipulação. Entretanto, fica claro que, para os autores do texto, as
mudanças nos costumes são processuais e partem das necessidades coletivas,
construídas através das relações de poder e de interesses nos contextos de
harmonia ou de tensão social, em que as tradições inventadas são ferramentas de
regulação.
Uma dúvida. As tradições então estariam subordinadas ao costume? Ou seja, as tradições seriam mecanismos de estabelecer, acomodar, de formalizar e por vezes institucionalizar,valores,ideias, modos de ser e agir, difundidos pelos costumes, a passo que, a cada mudança nos costumes, pelos inúmeros motivos abordados, novas tradições teriam que ser inventadas(ou reinventadas) para dá continuidade a este processo de formalização e institucionalização dos costumes? Ou essa relação entre costume e tradição pode se dá também de forma autônoma?
ResponderExcluirA "invenção das tradições" é operacionalizada com bastante dinâmica em contextos de tensões sociais. Lembro-me, neste sentido, de um trecho do pensamento de João Pacheco de Oliveira sobre os índios do Nordeste que, para recriarem e fortalecerem a sua identidade étnica num contexto intenso de contato e mistura com a sociedade envolvente, acionavam diversas metáforas que os associavam aos seus ancestrais mais remotos, observando-se como "pontas de rama" originadas de "troncos velhos" - os antepassados e seus modos de vida -, isso, provavelmente, oportunizaria a aquisição de vantagens políticas e sociais necessárias à perpetuação do grupo.
ResponderExcluirqual trabalho do joão possui essa análise? fiquei curioso!
ResponderExcluir