quinta-feira, 19 de agosto de 2010

João Batista de Macedo Freire Filho possui os títulos de Mestre e Doutor em Literatura Brasileira pela PUC - Rio. Atualmente, é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da ECO/UFRJ.

O texto do João Freire Filho traz à baila uma discussão acerca das culturas juvenis e as conseqüências destas na sociedade, outrossim, um debate acerca dos paradigmas que, até então, trataram do tema.

O artigo principia com uma análise de algumas teorias sobre de culturas juvenis, salientando características, que hoje, teriam perdido seu potencial explicativo, pois, segundo o autor, há uma invisibilidade na teoria, pois não percebe, seja por questões epistemológicas ou propriamente políticas um conteúdo plenamente organizado nas culturas juvenis, entretanto, é comum uma associação direta às ideias de mercado, marginalidade e delinqüência.

Isso é, de fato, notável nos estudos sobre a cultural metal e do rock em geral, existe uma série de textos acadêmicos que aliam tais culturas à ilegalidade, patologias mentais e emocionais e afins. Ou ainda, a grande lacuna no que diz respeito à presença feminina nas manifestações político-culturais e especificamente nas subculturas juvenis.

O autor fala sobre a importância do Centre for Contemporary Cultural Studies- CCCS, dizendo que a teoria aqui criada dirimiu alguns preconceitos referentes às culturas juvenis, ademais contribuiu para a sofisticação da teoria subcultural. Afinal, o CCCS tinha como escopo desconstruir o conceito mercadológico da cultura juvenil e tratar de forma mais próxima e meticulosa as origens sociais, econômicas e culturais dos fenômenos e culturas dos jovens do pós-guerra, portanto, sem negligenciar variáveis de qualquer natureza, essa análise de agora seria feita numa perspectiva total, talvez dada, pela característica interdisciplinar do centro.

No presente artigo, porém há uma ressalva quanto à produção do CCCS, ressalva esta feita pelos pós-subculturalistas que baseados em marcos teóricos como a sociologia do gosto e a teoria da performatividade, Bourdieu e Butler, respectivamente, pretendiam reavaliar o trânsito entre os jovens, a cultura global e suas produções, incluindo agora uma noção de hibridismo e globalização. Essa reavaliação fez surgir um novo vocabulário ( neotribos, comunidades emocionais, canais, subcanais, estilos de vida, etc.) e afastando a noção de subcultura, cujo valor explicativo, havia esgotado.

Entretanto, para o João Freire Filho a questão de centro seria a resistência. Para ele e outros autores, o CCCS teria conferido um valor muito grande às manifestações criadas pelos jovens, porém não haveria nenhuma demonstração teórica ou histórica de que as agremiações juvenis do pós-guerra tivessem um núcleo, cujo potencial fosse notadamente, contra-hegemônico, assim, nota-se que nem todos os grupos ofereciam uma contrapartida para superar a tão criticada relação de subordinação.

O autor ainda discorre a respeito de subcultura que nasce em um contexto de margem, tornar-se do mainstream e em seguida retornar a sua origem ou para outros lugares, de modo diferente da percepção original, i.e., da absorção de novos elementos no seio da subcultura. Tal processo de hibridização dá-se, pelo contato com a mídia, seja de massa ou mídia de nicho, Estado e a própria relação de consumo desses bens culturais.

Ainda há uma discussão sobre movimentos espontâneos organizados para uma finalidade específica, a saber, um acidente ambiental, escândalos políticos, uma grande festa, nesses casos, segundo o autor, os envolvidos se agrupam em redes para dispersão de uma ideia tal, e fazem valer seus pleitos, desejos e sensações. Neste caso, a espontaniedade funciona como um canal que leva o envolvido até as subculturas, através dele que se conhece o grupo, os pares e sua história. Tal panorama mostra como a estrutura do grupo é efetiva, real e subjetiva.

Algumas subculturas quanto ao conteúdo político, sendo mais sagazes, outras mais frágeis, todas, porém interligadas pelo contexto de dispersão material e simbólica, atraindo sempre público, seja indistinto (massa ou ecumênico) ou distinto (convergência de identidade) para as suas realizações físicas ou virtuais sobre alguma temática das esferas pública ou privada, todas a sua maneira, manipulando uso de recursos da tecnologia da informação, todas gerando confusão entre um pensamento desejoso, o vivido, a prática concreta, etc. E os sujeitos envolvidos ávidos por solução, realização plena de seus gostos.

Jefferson Dantas sobre Das subculturas às pós-subculturas juvenis: músicas, estilo e ativismo político.

Postando antecipadamente :)



6 comentários:

Jefferson Dantas disse...

Esqueci de colocar o título.

Das subculturas às pós-subculturas juvenis:música,estilo e ativismo políitico

eduardo disse...

eu gostei da resenha. fiquei interessado em saber sobre a diferença entre cultura e subcultura. uma cultura pode ser formada por várias subculturas? ou uma coisa não tem nada a ver com a outra? Ao ler a resenha fiquei a me perguntar se dentro da cultura sertaneja, entendida como modo de vida, há várias subculturas: quem vive do gado, que vive do roçado etc. gostaria de entender mais um pouco sobre isso.
Lembro que Geertz falava o outro texto "a interpretação das culturas" de uma delimitação do conceito de cultura para torná-lo mais poderoso... qual é a relação entre cultura e subcultura? Enfim. abração a todos.

Frank Marcon disse...

Entramos numa fase de nossos debates sobre consumo e estilo de vida numa perspectiva dos estudos culturais, em que é importante chamar a atenção para algumas questões. Gostaria de ressaltar pelo menos duas: 1) Que as teorias da linguagem e da comunicação são fundamentais aqui (ler Wittigenstein, Roland Barthes, Foucault, Bakhtin, Adorno e Horckeimer, Benjamin, entre outros clássicos nesta linha seria fundamento básico para compreender melhor tais fundamentos). 2) Entramos também numa seara que preocupa a Tânia e talvez outros, a relação entre os estudos sociais sobre consumo sempre tem relação com a discussão sobre produção (numa perspectiva dos estudos críticos de influênca inglesa, sim, afinal o contexto em que nascem tais teorias está implicado pela relação destas com a crítica ao materialismo histórico, mas se faz a partir dela. Ou seja, mesmo com o foco na cultura, a idéia e que sociedade e produção são coisas entrelaçadas, daí que o consumo é uma consequencia do que se produz. Por isto o foco da orientação inglesa é muito na cultura material, enquanto o francês tem uma perspectiva do consumo também como linguagem (a influência das teorias dos signos, semiótica). Na minha opinião uma perspectiva não precisa invalidar a outra e podemos trabalhar com a noção de consumo de maneira muito ampla, a partir do processo comunicativo que emana da relação de uso dos objetos e dos signos, enquanto estes são utilizados na vida cotidiana. Vejo aqui a discussão sobre estilos de vida, a partir destas relações de agregam indivíduos neste processo, a partir de seus contextos e sensos de pertença um universo comunicativo (linguagem e consumo). O que se usa, o que se diz. Nem sempre há uma identidade, mas podemos ter aí uma identificação. Sobre cultura e subcultura, este debate envelheceu quando a noção de objetividade de uma atribuição de cultura ou subpresença de uma dada cultura, deixaram de ter sentido. O texto de GEERTZ definitivamente utiliza cultura num outro sentido, como categoria de análise e não como categoria defidora de grupos e subgrupos. Num dado momento se utilizou subcultura para falar de uma cultura dentro da urbana, ocidental, e até mesmo, numa outra perspectiva como cultura de contradição, subversiva ou por aí, mas não funcionou muito bem, por conta das implicações primordialistas que os termos carregavam. Então, procurou-se outras categorias no contextos destes estudos sobre juventude, dentro dos estudos culturais ingleses, apresentando como alternativas conceitos como "identidade cultural", "cena" e "estilo de vida", entre outros, mesmo assim o termo insiste em reaparecer. No mais, gostaria de deixar uma provocação final. Novamente, é possível pensarmos nossos diferentes temas a partir de tais referências? quais os limites? e como seria problematizarmos alguns temas que não estão usualmente na perspectiva deste debate: comunidades rurais/tradicionais, religião, épocas anteriores a emergência da contemporaneidade, etc.

Felipe Araujo disse...

Podemos então afirmar que o debate atual se dá numa ótica de análise que vai além da categorização reducionista de (sub) culturas (a partir de referenciais politicamente definidos). Estaríamos diante de fenômenos "pós-subculturalistas", complexos e multi-facetados, nos quais movimentos coletivos em prol de interesses convergentes, antes de carregarem o rótulo de marginais, encontram legitimidade (e impulso criativo) através do enfrentamento da ideologia mercadológica proclamada pela sociedade do espetáculo. Por exemplo: a política pública brasileira referente às drogas. Uma importante linha de pesquisas vem chamando a atenção para o fato de que, além da saúde pública, importantes questões socioantropológicas demandam análises no terreno que vai das drogas à cultura e vice-versa. O livro "Drogas e cultura: novas perspectivas" (disponível em www.neip.info) questiona os argumentos históricos que embasam a política internacional proibicionista (copiada pelo Brasil). Os estilos de vida e o consumo, bem como questões referentes à privacidade estão implicadas na discussão. Grupos se mobilizam para defender suas posturas, colocam em prática discursos, resultados de pesquisas, e no meio dessa discussão à primeira vista tão antiga os antigos preconceitos se evidenciam e as culturas móveis e inacabadas da pós-modernidade - ao lado das culturas seculares auto-legitimadas primordiais, vão engendrando a retórica que edificará a página em branco da regulamentação dos usos de substâncias no território nacional.

Aline disse...

Bem, me parece que está discussão sobre (sub) cultura jovem vem sendo acompanhada por paradigmas teóricos diferenciados e bastante específicos. Se observarmos, a forma como os estudos sobre tal temática aparece disposta, podemos mensurar pelo menos três momentos principais:
1º - Momento de invisibilidade da temática. Este momento é típico de um contexto no qual o que importava para os estudos culturais eram as grandes referências, as temáticas mais gerais e universalistas. Típico dos etnógrafos modernos.
2º - Momento de visibilidade da temática a partir de uma perspectiva de anomia social, no qual a cultura do jovem é vista como a cultura daqueles que fogem às regras, aos códigos morais, aos padrões sociais típicos/ideais. Representa um viés Moderno dos séculos XIX e início do XX. Neste caso o sentido do “sub” está permeado por um sentido de abaixo, inferior.
3º - Momento de visibilidade da temática a partir de uma perspectiva de descentralização. Neste caso, há um enfoque voltado para o caráter híbrido e multifacetado da cultura jovem. O significado do “sub” está mais ligado a uma viés de diverso, plural, diferenciado. Além disso, o “sub” cultural passa a ser assumindo como algo politicamente “interessante”, plausível frentes às aspirações “pós”- modernos de “descentramentos das culturas”, dos sujeitos, dos estudos; da descoberta do mundo como “multi”.

Mateus Neto disse...

Bem, confesso que ainda sou um noviço nessa temática, mas estou muito estimulado em estudá-la. Até que gostei da leitura, mas achei a introdução muito densa... rsrs. Mas o que trago aqui são algumas proposições que vejo a partir de uma pesquisa que realizei. Percebi em minhas leituras e pesquisas (ainda indisciplinadas) que o processo da construção da identidade cultural (aqui falo pagodeira) é uma espécie de espetáculo que conquista espaços culturais e também sociais que atraem holofotes da mídia e a atenção das instituições privadas, estabelecem novas convenções e criam modismos.
A dinâmica relacional e reflexiva entre os jovens de hoje e as várias modalidades de mídia são responsáveis, acredito, por fornecer muitos dos vários recursos visuais e ideológicos incorporados pelas identidades culturais na contemporaneidade (seus signos). Ou seja, seus objetos culturais. Gostaria se possível, que alguém explanasse mais sobre o assunto. Falou galera...