João Batista de Macedo Freire Filho possui os títulos de Mestre e Doutor em Literatura Brasileira pela PUC - Rio. Atualmente, é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da ECO/UFRJ.
O texto do João Freire Filho traz à baila uma discussão acerca das culturas juvenis e as conseqüências destas na sociedade, outrossim, um debate acerca dos paradigmas que, até então, trataram do tema.
O artigo principia com uma análise de algumas teorias sobre de culturas juvenis, salientando características, que hoje, teriam perdido seu potencial explicativo, pois, segundo o autor, há uma invisibilidade na teoria, pois não percebe, seja por questões epistemológicas ou propriamente políticas um conteúdo plenamente organizado nas culturas juvenis, entretanto, é comum uma associação direta às ideias de mercado, marginalidade e delinqüência.
Isso é, de fato, notável nos estudos sobre a cultural metal e do rock em geral, existe uma série de textos acadêmicos que aliam tais culturas à ilegalidade, patologias mentais e emocionais e afins. Ou ainda, a grande lacuna no que diz respeito à presença feminina nas manifestações político-culturais e especificamente nas subculturas juvenis.
O autor fala sobre a importância do Centre for Contemporary Cultural Studies- CCCS, dizendo que a teoria aqui criada dirimiu alguns preconceitos referentes às culturas juvenis, ademais contribuiu para a sofisticação da teoria subcultural. Afinal, o CCCS tinha como escopo desconstruir o conceito mercadológico da cultura juvenil e tratar de forma mais próxima e meticulosa as origens sociais, econômicas e culturais dos fenômenos e culturas dos jovens do pós-guerra, portanto, sem negligenciar variáveis de qualquer natureza, essa análise de agora seria feita numa perspectiva total, talvez dada, pela característica interdisciplinar do centro.
No presente artigo, porém há uma ressalva quanto à produção do CCCS, ressalva esta feita pelos pós-subculturalistas que baseados em marcos teóricos como a sociologia do gosto e a teoria da performatividade, Bourdieu e Butler, respectivamente, pretendiam reavaliar o trânsito entre os jovens, a cultura global e suas produções, incluindo agora uma noção de hibridismo e globalização. Essa reavaliação fez surgir um novo vocabulário ( neotribos, comunidades emocionais, canais, subcanais, estilos de vida, etc.) e afastando a noção de subcultura, cujo valor explicativo, havia esgotado.
Entretanto, para o João Freire Filho a questão de centro seria a resistência. Para ele e outros autores, o CCCS teria conferido um valor muito grande às manifestações criadas pelos jovens, porém não haveria nenhuma demonstração teórica ou histórica de que as agremiações juvenis do pós-guerra tivessem um núcleo, cujo potencial fosse notadamente, contra-hegemônico, assim, nota-se que nem todos os grupos ofereciam uma contrapartida para superar a tão criticada relação de subordinação.
O autor ainda discorre a respeito de subcultura que nasce em um contexto de margem, tornar-se do mainstream e em seguida retornar a sua origem ou para outros lugares, de modo diferente da percepção original, i.e., da absorção de novos elementos no seio da subcultura. Tal processo de hibridização dá-se, pelo contato com a mídia, seja de massa ou mídia de nicho, Estado e a própria relação de consumo desses bens culturais.
Ainda há uma discussão sobre movimentos espontâneos organizados para uma finalidade específica, a saber, um acidente ambiental, escândalos políticos, uma grande festa, nesses casos, segundo o autor, os envolvidos se agrupam em redes para dispersão de uma ideia tal, e fazem valer seus pleitos, desejos e sensações. Neste caso, a espontaniedade funciona como um canal que leva o envolvido até as subculturas, através dele que se conhece o grupo, os pares e sua história. Tal panorama mostra como a estrutura do grupo é efetiva, real e subjetiva.
Algumas subculturas quanto ao conteúdo político, sendo mais sagazes, outras mais frágeis, todas, porém interligadas pelo contexto de dispersão material e simbólica, atraindo sempre público, seja indistinto (massa ou ecumênico) ou distinto (convergência de identidade) para as suas realizações físicas ou virtuais sobre alguma temática das esferas pública ou privada, todas a sua maneira, manipulando uso de recursos da tecnologia da informação, todas gerando confusão entre um pensamento desejoso, o vivido, a prática concreta, etc. E os sujeitos envolvidos ávidos por solução, realização plena de seus gostos.
Jefferson Dantas sobre Das subculturas às pós-subculturas juvenis: músicas, estilo e ativismo político.
6 comentários:
Esqueci de colocar o título.
Das subculturas às pós-subculturas juvenis:música,estilo e ativismo políitico
eu gostei da resenha. fiquei interessado em saber sobre a diferença entre cultura e subcultura. uma cultura pode ser formada por várias subculturas? ou uma coisa não tem nada a ver com a outra? Ao ler a resenha fiquei a me perguntar se dentro da cultura sertaneja, entendida como modo de vida, há várias subculturas: quem vive do gado, que vive do roçado etc. gostaria de entender mais um pouco sobre isso.
Lembro que Geertz falava o outro texto "a interpretação das culturas" de uma delimitação do conceito de cultura para torná-lo mais poderoso... qual é a relação entre cultura e subcultura? Enfim. abração a todos.
Entramos numa fase de nossos debates sobre consumo e estilo de vida numa perspectiva dos estudos culturais, em que é importante chamar a atenção para algumas questões. Gostaria de ressaltar pelo menos duas: 1) Que as teorias da linguagem e da comunicação são fundamentais aqui (ler Wittigenstein, Roland Barthes, Foucault, Bakhtin, Adorno e Horckeimer, Benjamin, entre outros clássicos nesta linha seria fundamento básico para compreender melhor tais fundamentos). 2) Entramos também numa seara que preocupa a Tânia e talvez outros, a relação entre os estudos sociais sobre consumo sempre tem relação com a discussão sobre produção (numa perspectiva dos estudos críticos de influênca inglesa, sim, afinal o contexto em que nascem tais teorias está implicado pela relação destas com a crítica ao materialismo histórico, mas se faz a partir dela. Ou seja, mesmo com o foco na cultura, a idéia e que sociedade e produção são coisas entrelaçadas, daí que o consumo é uma consequencia do que se produz. Por isto o foco da orientação inglesa é muito na cultura material, enquanto o francês tem uma perspectiva do consumo também como linguagem (a influência das teorias dos signos, semiótica). Na minha opinião uma perspectiva não precisa invalidar a outra e podemos trabalhar com a noção de consumo de maneira muito ampla, a partir do processo comunicativo que emana da relação de uso dos objetos e dos signos, enquanto estes são utilizados na vida cotidiana. Vejo aqui a discussão sobre estilos de vida, a partir destas relações de agregam indivíduos neste processo, a partir de seus contextos e sensos de pertença um universo comunicativo (linguagem e consumo). O que se usa, o que se diz. Nem sempre há uma identidade, mas podemos ter aí uma identificação. Sobre cultura e subcultura, este debate envelheceu quando a noção de objetividade de uma atribuição de cultura ou subpresença de uma dada cultura, deixaram de ter sentido. O texto de GEERTZ definitivamente utiliza cultura num outro sentido, como categoria de análise e não como categoria defidora de grupos e subgrupos. Num dado momento se utilizou subcultura para falar de uma cultura dentro da urbana, ocidental, e até mesmo, numa outra perspectiva como cultura de contradição, subversiva ou por aí, mas não funcionou muito bem, por conta das implicações primordialistas que os termos carregavam. Então, procurou-se outras categorias no contextos destes estudos sobre juventude, dentro dos estudos culturais ingleses, apresentando como alternativas conceitos como "identidade cultural", "cena" e "estilo de vida", entre outros, mesmo assim o termo insiste em reaparecer. No mais, gostaria de deixar uma provocação final. Novamente, é possível pensarmos nossos diferentes temas a partir de tais referências? quais os limites? e como seria problematizarmos alguns temas que não estão usualmente na perspectiva deste debate: comunidades rurais/tradicionais, religião, épocas anteriores a emergência da contemporaneidade, etc.
Podemos então afirmar que o debate atual se dá numa ótica de análise que vai além da categorização reducionista de (sub) culturas (a partir de referenciais politicamente definidos). Estaríamos diante de fenômenos "pós-subculturalistas", complexos e multi-facetados, nos quais movimentos coletivos em prol de interesses convergentes, antes de carregarem o rótulo de marginais, encontram legitimidade (e impulso criativo) através do enfrentamento da ideologia mercadológica proclamada pela sociedade do espetáculo. Por exemplo: a política pública brasileira referente às drogas. Uma importante linha de pesquisas vem chamando a atenção para o fato de que, além da saúde pública, importantes questões socioantropológicas demandam análises no terreno que vai das drogas à cultura e vice-versa. O livro "Drogas e cultura: novas perspectivas" (disponível em www.neip.info) questiona os argumentos históricos que embasam a política internacional proibicionista (copiada pelo Brasil). Os estilos de vida e o consumo, bem como questões referentes à privacidade estão implicadas na discussão. Grupos se mobilizam para defender suas posturas, colocam em prática discursos, resultados de pesquisas, e no meio dessa discussão à primeira vista tão antiga os antigos preconceitos se evidenciam e as culturas móveis e inacabadas da pós-modernidade - ao lado das culturas seculares auto-legitimadas primordiais, vão engendrando a retórica que edificará a página em branco da regulamentação dos usos de substâncias no território nacional.
Bem, me parece que está discussão sobre (sub) cultura jovem vem sendo acompanhada por paradigmas teóricos diferenciados e bastante específicos. Se observarmos, a forma como os estudos sobre tal temática aparece disposta, podemos mensurar pelo menos três momentos principais:
1º - Momento de invisibilidade da temática. Este momento é típico de um contexto no qual o que importava para os estudos culturais eram as grandes referências, as temáticas mais gerais e universalistas. Típico dos etnógrafos modernos.
2º - Momento de visibilidade da temática a partir de uma perspectiva de anomia social, no qual a cultura do jovem é vista como a cultura daqueles que fogem às regras, aos códigos morais, aos padrões sociais típicos/ideais. Representa um viés Moderno dos séculos XIX e início do XX. Neste caso o sentido do “sub” está permeado por um sentido de abaixo, inferior.
3º - Momento de visibilidade da temática a partir de uma perspectiva de descentralização. Neste caso, há um enfoque voltado para o caráter híbrido e multifacetado da cultura jovem. O significado do “sub” está mais ligado a uma viés de diverso, plural, diferenciado. Além disso, o “sub” cultural passa a ser assumindo como algo politicamente “interessante”, plausível frentes às aspirações “pós”- modernos de “descentramentos das culturas”, dos sujeitos, dos estudos; da descoberta do mundo como “multi”.
Bem, confesso que ainda sou um noviço nessa temática, mas estou muito estimulado em estudá-la. Até que gostei da leitura, mas achei a introdução muito densa... rsrs. Mas o que trago aqui são algumas proposições que vejo a partir de uma pesquisa que realizei. Percebi em minhas leituras e pesquisas (ainda indisciplinadas) que o processo da construção da identidade cultural (aqui falo pagodeira) é uma espécie de espetáculo que conquista espaços culturais e também sociais que atraem holofotes da mídia e a atenção das instituições privadas, estabelecem novas convenções e criam modismos.
A dinâmica relacional e reflexiva entre os jovens de hoje e as várias modalidades de mídia são responsáveis, acredito, por fornecer muitos dos vários recursos visuais e ideológicos incorporados pelas identidades culturais na contemporaneidade (seus signos). Ou seja, seus objetos culturais. Gostaria se possível, que alguém explanasse mais sobre o assunto. Falou galera...
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