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segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Música de Festa: o kuduro em Salvador
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segunda-feira, 25 de maio de 2015
terça-feira, 2 de abril de 2013
RAP E JUVENTUDE EM CRIOULO
Car@s,
Saiu num recente e interessante número da revista REALIS, da UFPE, um artigo de nossos colaboradores Miguel Barros (Guiné Bissau) e Redy Wilson Lima (Cabo Verde), cito o resumo publicado na revista:
"RAP KRIOL(U) O PAN-AFRICANISMO DE CABRAL NA MÚSICA DE INTERVENÇÃO JUVENIL NA GUINÉ-BISSAU E EM CABO-VERDE"
Resumo: nos anos de 1990, com a vaga de democratização na Guiné-Bissau e em Cabo-Verde, quer o PAIGC quer o PAICV, partidos tidos como “força, luz e guia do povo”, perdem esse estatuto, pondo fim simultaneamente à cadeia de domesticação dos espíritos, precipitando assim uma descoletivização social das organizações juvenis sob o prisma comunista. Isto fez com que os jovens reinventassem formas de sociabilidades no seio dos grupos de pares, num contexto marcado pela globalização e afro-americanização do mundo, em que a cultura hip-hop, através do seu elemento oral, o rap, aparece como veículo da liberdade de expressão e de protesto dos grupos urbanos em situação de maior precariedade. Este artigo pretende analisar de que forma os jovens guineenses e cabo-verdianos recontextualizaram através do rap, na nova conjuntura dos dois países, o discurso pan-africanista e nacionalista de Amílcar Cabral, tendo em conta o risco de branqueamento da memória coletiva e histórica; a suposta traição dos seus ideais pelos atuais políticos dirigentes; a necessidade de o resgatar enquanto guia do povo; e de representá-lo como
um MC (mensageiro da verdade)."
Na íntegra: http://www.nucleodecidadania.org/revista/index.php/realis/article/view/60/55
quarta-feira, 27 de março de 2013
Culturas Juvenis
Resenha
de PAIS, Machado José. Notas Preambulares; Parte I. in Culturas Juvenis. 2.ed.
Lisboa, 2003.
Por Lucas Carvalho
Culturas juvenis, nome que intitula o livro de
José Machado Pais, é referência quando se fala em uma sociologia da juventude,
a passo que a obra possibilita um novo olhar sobre o tema (a partir da perspectiva
analítica sobre o cotidiano). No texto que se segue serão apontados alguns dos
principais argumentos referentes às “notas preambulares” e a “primeira parte”
do livro. Será discutido o processo de maturação da pesquisa de Pais, os
dilemas, as escolhas de caminhos e métodos de investigação e consequentemente o
desenvolvimento de uma problemática sociológica referente a juventude
portuguesa.
Nas breves notas introdutórias, Machado Pais
afirma que nesse momento não iria fornecer nenhuma resposta sobre seu objeto de
pesquisa. O que se segue é uma reflexão mais do ponto de vista metodológico,
onde ele afirma sobre a dificuldade de oferecer respostas aos questionamentos
suscitados sobre objeto pesquisado (no caso a juventude portuguesa). É a partir
dessa dificuldade de oferecer respostas que surgem as teorias, classificadas por
ele, como estruturas de pensamento capazes de orientar os passos
investigatórios. Junto com as teorias, nasce uma tradição sociológica, que se pauta na idéia de que para cada
problemática construída é necessário uma vertente teórica para guiar a
investigação e dar legitimidade a esse processo.
Apesar de parecer um caminho fácil, o autor fala
da sua própria experiência, onde retrata que quanto mais mergulhava na
investigação das culturas juvenis, mais buscava esse aparato teórico para dar
sustentação a pesquisa, mais dúvidas surgiam, tornando o processo
investigatório mais complexo. Porém, é no meio dessas dúvidas, que Pais começa
sentir a necessidade de entender cada vez mais o cotidiano da vida dos jovens
para conseguir compreender como funcionava a lógica da relação entre as
transformações sociais, tanto no âmbito socioeconômico, quanto no âmbito
individual, social e familiar, vendo os jovens no centro desse processo.
A partir do momento em que Machado Pais
escolhe o estudo da vida cotidiana das juventudes como base analítica, ele
sente a necessidade de colocar em evidência o uso do tempo pela juventude,
relacionado com o ordenamento social, onde o autor revela que a partir daí será
possível compreender a realidade destes jovens, a partir do consumo desse tempo,
das suas experiências e vivências, possibilitando também o surgimento de formas
específicas de sociabilidades. Pais também revela que mesmo com todo um
aparato teórico, as vezes é preciso experienciar esse cotidiano juvenil, e também dar voz a ele, para que certos
símbolos, linguagens, relações de sociabilidade, sejam entendidas de fato e não
de forma arbitrária.
Na primeira parte do livro, o autor retrata a
necessidade de romper com o fato de analisar a juventude sobre o âmbito de um
grupo unitário, homogêneo. É preciso segundo José Machado Pais, analisar não
somente as similitudes desse grupo, mas também suas diferenças, tendo em vista
de que o fato dos indivíduos compartilharem certos sentimentos em comum, não
significa dizer que todos sejam iguais, tenham as mesmas trajetórias, as mesmas
experiências, inclusive sobre a própria noção de juventude.
Sobre as formas de analisar a juventude, o autor
abre uma discussão entorno de duas correntes teóricas. A primeira corrente ele
denomina de teoria geracional. Esta teoria enxerga a juventude sob o ponto de
vista etário, ou seja, a juventude é concebida como fazendo parte das fases da
vida. Enfatiza-se dessa maneira os aspectos unitários da juventude. Essa
corrente crê que em uma sociedade existe uma diversidade de culturas
desenvolvidas com um conjunto de valores dominantes. Dessa forma, a questão
essencial dessa corrente são as continuidades e descontinuidades dos valores e
relações intergeracionais, que são discutidos tanto do ponto de vista das
teorias da socialização, quanto da teoria das gerações. Uma das críticas que se
faz a essa corrente é, justamente, a sua tendência a tratar a juventude de
forma homogênea dentro de uma fase etária determinada, não representando de
forma adequada o grupo a partir dos seus próprios entendimentos.
A segunda corrente recebe o nome de teoria
classista. Enquanto a corrente geracionista via a questão da reprodução social
a partir das análises das relações e conteúdos das relações intergeracionais, a
corrente classista enxerga essa reprodução a partir das questões de gênero,
etnia, raça, ou seja, a partir da perspectiva das classes sociais. Pela forma
de pensar a juventude através do foco nas classes sociais e analisar o processo
de transição para a vida a adulta sobre a ideia das desigualdades sociais é que
a corrente classista se mostra crítica aos conceitos de juventudes pautados na
ideia de fases da vida. Porém, o autor revela que os processos sociais vividos
pelos jovens, não podem ser pautados somente a partir da perspectiva do
antagonismo de classe social, mas também a partir das relações sociais, das
trajetórias individuais, das experiências de vida que eles carregam e que fazem
com que o transito para a vida adulta, que parecia ser algo já pré-estabelecido,
possa ser modificado.
Para finalizar, a partir da análise do cotidiano
e do curso de vida da juventude, das suas trajetórias, suas similaridades e
diversidades, Pais mostra que as culturas juvenis se mostram muito mais
complexas do que se pode imaginar. Podendo conter no interior delas tanto
aspectos, etários, classistas e geracionais, constituindo-se um verdadeiro
paradoxo. Dessa forma, o uso isolado, seja da teoria geracionista ou da classista,
não seria capaz de dar conta da complexidade da análise sobre as juventudes, podendo
gerar certos reducionismos sobre o tema. Dessa maneira, o autor justifica optar
por articular as duas correntes, na tentativa de compreender a juventude de uma
forma mais dinâmica, real e concreta.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Juventude e Visualidade no mundo contemporâneo: uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis
Daniela Nogueira Amaral
Danielle Parfentieff de Noronha
Tânia Carolina Viana de Oliveira
No texto Juventude
e Visualidade no mundo contemporâneo: uma reflexão em torno da imagem nas
culturas juvenis, Ricardo Campos demonstra a importância de pensar os
estudos das juventudes em termos visuais, a fim de perceber como a imagem e a
cultura visual contemporânea participam na construção da juventude. Como
problemática central questiona: “como pensar a juventude em termos visuais?”. Segundo
o autor, diferentes imagens e imaginários “tendem a fornecer coordenadas para a
forma como a sociedade representa os jovens (e este se representam)” (p.113). A
imagem carrega um poder que possibilita a identificação entre esses jovens.
Para o autor, o
critério etário não é suficiente para determinar a categoria juventude. E
também não devemos pensar em juventude, mas em juventudes, que se dispersam
pelo espaço geográfico e social e enfrentam problemas e possibilidades muito
distintas e, desta forma, assumem configurações peculiares.
Através de mecanismos
visuais a juventude demonstra representações e identidades, que de acordo com o
autor, são conceitos que permitem investigar eventuais conexões entre os
circuitos de produção, difusão e consumo. O exotismo visual de alguns grupos, denominadas
subculturas, são elementos-chave na decodificação desses grupos e na
possibilidade de perceber a diferença existente entre eles.
Outras práticas ligadas
ao estudo da juventude, diz respeito aos estudos da mass media e sua influencia na construção dessa categoria. Através
dos espaços midiáticos e da publicidade, televisão e cinema, o jovem pode ser
representado e determinar certo estilo de vida. Como demonstra o autor, a
representação visual de alguém, grupo ou comunidade interfere na forma como
esse alguém se representa e se apresenta visualmente, “e, portanto, naquilo que
poderíamos definir como a sua identidade visível ou visual” (p. 119). Dentre as
formas como as juventudes são representadas, há uma representação socialmente
forjada. Em certos momentos, a juventude é modelo e, em outros, antimodelo –
que serão determinadas pelas questões históricas e contextuais. Também se
tornou uma categoria com elevado valor comercial e simbólico, que é reinventada
conforme a ideologia e o comércio do momento.
O autor salienta o
crescimento e a importância no campo dos estudos visuais para pensar a
negociação e determinação dos estilos de vida e identidades do ser jovem e
dessa maneira compreender algumas práticas culturais. A identidade em
elaboração está em constante negociação, quando estão em jogo variadas
possibilidades de apresentação e representação. A partir dos sistemas de
simbolização visual é possível perceber as manifestações dos grupos
identitários. É através dos discursos reproduzidos sobre eles mesmos e sobre os
outros que podemos entender os processos de identidade juvenis.
Campos destaca que a
utilização, pelos jovens, dos recursos visuais fazem com que eles tenham
ferramentas para produzirem algo relacionado à suas realidades. Como ele mesmo
destaca “a visualidade é, assim, cada vez mais uma arena de prospecção criativa
de afirmação de competências sociais, culturais e simbólicas que, tantas vezes,
é desconhecida ou censurada pelo universo adulto” (p. 120).
[i] Resenha de CAMPOS, Ricardo. Juventude e visualidade no mundo
contemporâneo: uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis. In.
Sociologia, Problemas e Práticas, nº63, Lisboa, 2010, p.113-137.
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Introdução: Subcultura e Estilo
Daniela Nogueira Amaral
Danielle Parfentieff de Noronha
Tânia Carolina Viana de Oliveira
O capítulo do livro “Subculture. The
Meaning of Style” de Dick Hebdige, publicado originalmente em castelhano em
1979 e traduzido para o inglês em 2002, problematiza ao tempo que também dá uma
outra roupagem a conceitos como cultura, ideologia, estilo.
Logo na
introdução, a partir do texto de Jean Genet “Diário Del Ladrón”, vemo-nos
instados a pensar como determinados objetos, aparentemente inócuos, podem
converter-se e mesmo ascender a categorias simbólicas que expõem e se
contrapõem à ordem instituída, deflagrando a presença incontornável da diferença. Trata-se, no caso sublinhado
do autor francês, de um tubo de vaselina que, condensando um paradoxo,
representa uma ignomínia sexual aos olhos da polícia e uma graça individual
secreta encerrada como marca estigmatizada de subversão e revolta. Nesse caso
específico, o personagem de Genet, podemos supor seu alterego, impõe ao
contexto no qual se insere a infração do não pertencimento ao padrão, onde o
delito é elevado à forma de arte. Nesse sentido, através do exemplo da marginalidade
homossexual incorporada a um utensílio que a expõe, Dick Hebdige levanta
questões que sublinham e consideraram como a estetização de um estilo,
simbolicamente condensado numa forma material, pode desafiar a maneira
hegemônica de legislar sobre comportamentos, instaurando a deserção explícita.
Nesse aspecto, os limites e embates que aquilo que chamamos de subcultura põe a
nu é explicitado na babel de signos que certos grupos inventariam, pondo em
xeque e demovendo um ethos, incorporando
a dissenção através da blague ou da insubordinação mais explícita. Dessa
maneira,Teddy boys, Mods, Rokers, Skinheads, Punks advertem o mundo normal de suas presenças desviantes e os objetos por
eles consagrados enquanto marcas identitárias - objetos concebidos como
anátemas, evangelhos de uma desordem - figuram como fontes de valor contra-hegemônicas,
conotando um lócus onde o conflito
adquire maior dramaticidade porque é fotografado objetivamente.
É
necessário dizer que para entendermos melhor importantes características das
subculturas, precisamos escandir mais detalhadamente nuances do próprio
conceito de cultura, nuances que constantemente nos escapam. Aliás, a
polissemia do termo antepara alguns embaraços semânticos significativos que
ainda não foram dirimidos por completo, ainda que desvelem posições diferenciadas
daqueles que enfatizam no significante um sentido mais específico ou mais generalista.
Senão vejamos. Uma das acepções freqüentes dadas ao vocábulo é aquela que
define Cultura, de modo mais conservador, como norma de excelência estética,
como obra clássica – ópera, ballet, teatro, arte, literatura. Por outro lado,
segundo Raymond Wiiliams, desde o século XVIII, outra definição se acopla ao
significado mais corrente do vocábulo – Cultura como um modo específico de vida
que transcende aspectos de conhecimento privilegiado, espelho de uma formação
distintiva, passando a definir também um conjunto de valores implícitos e
explícitos na concretude das vidas cotidianas. Nas palavras do poeta T.S Eliot,
todos os interesses de um povo, da culinária ao futebol, inserem e abrangem o
conceito de Cultura. Assim, entendemos que a elasticidade do signo linguístico
pressupõe uma forma teórica nova para categorizá-lo dentro de uma perspectiva
que distende e coloca em tela seu conteúdo histórico, tributário de processos
sociais considerados em conjunto e não apenas como projeções hierárquicas que consignam
a alta e a baixa cultura dentro de uma
escala de valores.
Nesse sentido, a proposta metodológica d’Os
Estudos Culturais, quando estes se debruçam sobre a cultura ou sobre as
culturas, também absorvendo o sentido antropológico do termo, pretende desvelar
os elementos que estão por trás de determinadas práticas, elementos que estão
além das aparências, absorvendo não apenas o significado mais restrito do termo
– a cultura como norma de excelência – quanto seu significado catalisador - a
cultura como um modo de vida. No entanto, para dois autores que ajudaram a inaugurar a teorização e a metodologia d’Os
Estudos Culturais, (Hogart e Williams) essa submersão nos aspectos culturais comunga
um modus operandi comum – a
interpretação do cotidiano iluminada pela interpretação literária ou, dizendo
de outro modo, o treinamento da sensibilidade proporcionado pela Literatura
permite uma leitura do real que capta suas sutilezas, sutilezas que, amiúde,
podem passar despercebidas a um olhar menos crítico ou menos treinado. Aqui, a proposta semiótica de Roland Barthes -
vislumbrar o mundo como texto - aporta sem dificuldades. O escritor, professor
e crítico francês, utilizando um modelo derivado da Linguística do suíço
Ferdinand Saussure pretende demonstrar o caráter arbitrário da cultura, aquilo
que para os mais incautos, e são muitos, naturaliza-se substantivamente,
perdendo não somente sua filiação contextual, como ascendendo enquanto
mitologia que explica e determina aquilo que parece espontâneo, mas, se focado
com maior acuidade, se revela orquestrado. Barthes não estava interessado, a
exemplo de Hogart, em distinguir, na cultura o bem e o mal ou o genuíno e o
alienante e alienado, ainda que de certo modo também o fizesse. Afinal, quando
procurava identificar a “medula ideológica” que naturaliza idéias e percursos
de maneira universalista, não perde de vista as instâncias de poder com seus
inúmeros tentáculos que envolvem numa mesma rede dominantes e dominados.
De forma ainda mais radical, a semiótica de
Barthes pretendia costurar definições opostas de cultura – convicções morais e
temas populares. Partindo da premissa de que “ o mito é um tipo de discurso”, o
linguista francês tenta identificar – na moda, no cinema, na comida – a retórica
que nos bastidores estrutura formas, ritos, ditos, códigos específicos
disseminados de modo a formatar todas as relações sociais ideologicamente
alimentadas. Todavia, lembrando-nos o
verso pessoano que assevera que “o mito é
o nada que é tudo”, é preciso entender que miradas eletivas de
investigação – sociológica, semiótica, econômica - podem abarcar conceitos diferenciados de
Ideologia e é de Ideologia que estamos tratando quando adentramos no território
dos símbolos e dos signos que estruturam miticamente as relações sociais.
Para Stuart
Hall, por exemplo, a aparência inquestionável das coisas, travestida de
transparência e naturalidade, torna invisíveis as premissas que entronizam
essas coisas hierarquicamente. Entretanto, a carga ideológica que antepara
comportamentos e idéias não pode ser sublinhada como uma visão de mundo
partidarista e sectária, pois que, “saturando o discurso cotidiano em forma de
sentido comum” a Ideologia resvala não para “falsa consciência marxista”, mas
para a inconsciência, como assinalou Althusser, que insere os homens num
processo de representação que lhes escapa, ainda que demarque as fronteiras e
os limites de suas vidas.
Assim, para
entender, com maior perspicácia, a dimensão ideológica que subjaz a atos,
palavras, vontades e omissões, devemos ter em mente, como afirma Hall, que
múltiplos códigos normativos e conotativos funcionam como “mapas de
significado” que tornam a vida social inteligível. Todavia, é na desigualdade,
situada sincronicamente, entre dominantes e dominados que esses mapas de
significado se sustentam, conformando o mundo de modo assimétrico e por isso
conflitante. Aqui, podemos subscrever o conceito de Hegemonia de Gramsci como
aquele que traduz tanto a autoridade subsumida nas relações sociais quanto a
temporalidade volátil da mesma - a hegemonia como um “equilíbrio móvel que
contém forças favoráveis ou desfavoráveis a esta ou aquela tendência”, forças
que disputam um espaço erigido entre consentimentos que devem ser conquistados
e por isso se constituem impermanentes.
Nessa perspectiva, a simbiose entre ideologia
e ordem social, entre produção e reprodução é permeada por objeções e
contradições sempre renovadas, contradições que extrapolam os conflitos de
classe, pois que envolvem uma leitura diferenciada dos signos que revestem as
relações sociais, uma leitura muitas vezes heterogênea até dentro dos limites um mesmo território de
significação social e econômica . Nesse processo, é que as subculturas e o
estilo de vida que objetiva e subjetivamente lhes caracterizam pode
desmitificar certos conteúdos ideológicos respaldados de maneira naturalizada e
aparentemente consensual, abrindo veredas subversivas no discurso hegemônico.
Para Hebdige, o Movimento Punk e o Movimento Reggae podem ser considerados
emblemáticos nesse aspecto. Emergindo com mais força a partir de meados da
década de 70 - a despeito das diferenças de comportamento e mesmo de inspiração
para suas crenças; no caso do Movimento Reggae e seu casamento com o
Rastafarianismo, e de suas descrenças; o niilismo apocalíptico punk-, esses
movimentos culturais de juventude bebem de uma mesma fonte de iconoclastia que
conjuga num estilo - roupas e adereços – uma ameaça à ordem instituída e aos
instrumentos que a estruturam, entronizando seus valores num lócus de
hierarquia superior –Estado, Igreja, Polícia, Escola.
Os Punks com
suas jaquetas de couro, braceletes e coturnos, cabelos moicanos e piercings compõem uma bricollage que através de ritmos acelerados,
herdados do rock, desafiam o otimismo de um mundo melhor, cerzindo na alegoria
do exótico, conceitos de contracultura movidos a anfetaminas e sentimentos
explícitos de uma alienação encenada, uma sexualidade perversa e um eu
fragmentado. Nas teias desse desajuste teatralizado nas ruas, bares e
discotecas, a subversão converte-se num solipsismo que expõe o ceticismo
juvenil materializado visualmente.
Num outro pólo,
a música reggae e seus acordes mais lentos e introspectivos - flertes com o
Jazz-, sua filiação a uma África idílica que recusa a submissão e se afirma
como o levante bíblico dos justos que incorporam e interpretam a palavra divina.
Nesse embate paradoxal de dessacralização e sacralização redentoras, o som de jovens negros, o colorido de suas roupas e o poder da marijuanna deflagram no exílio imposto
por condições matérias adversas, um exílio mais profundo e afirmativo de uma
raça que passa dizer o que quer através, também, da arte.
Entre ambos, o
punk e o reggae, a empatia dos descontentes e uma pluralidade lingüística que
conjuga o visual e o auditivo como re-percussões de uma demanda por
reconhecimento, ainda que seja um reconhecimento propagado com uma voz dissonante.
[i] Resenha
- REDIGBE, Dick: Introdução: Subcultura e Estilo In: The Meaning of Style.
Methuen& Co. Ltd 1979
quinta-feira, 31 de maio de 2012
“Notas sobre subcultura, estilos de vida e juventude”
Franklin
Timóteo Souza do Espírito Santo
Jefferson Dantas Santos
Para esclarecimento temporal e analítico não existe
um conceito de subcultura, e logo, esse passara, mesmo sem uma definição
concebida, por diversas modificações ao longo do tempo, sendo amplamente
discutido a partir das perspectivas dos Estudos Culturaisdo CCCS — Centre for
Contemporary Cultural Studies — da Escola de Birmingham no final dos anos 70,
nunca tendo perdido suas relações entre cultura, comunidade, massas e sociedade
como “estilos de vida”. As subculturas acabam adquirindo essa característica de
alteridade. O atributo definidor das ‘subculturas’, então, reside na maneira
como a ênfase é colocada na distinção entre um grupo cultural - social
particular - e uma cultura. A ênfase é na variação de uma coletividade maior
que é invariavelmente, mas não sem problemas, posicionada como normal, mediana
e dominante. Subculturas, em outras palavras, são condenadas a desfrutarem uma
consciência da ‘alteridade’ ou diferença (GELDER e THORNTON, 1997).
Com a materialização
dos Estudos Culturais e, concomitantemente, seus quadros analíticos favoráveis
para investigações sociais, o papel da significação passa abranger valores
culturais e políticos. Dentre tantas
possibilidades, a cultura passa a ser a mediadora de canais comunicativos
possibilitando trabalhos mais consistentes epistemologicamente. Nesse processe
onde se vê a “institucionalização” das produções culturais, seja essa artística
ou intelectual, é circunscrita uma análise “moral” das tensões e distinções de
aceitação e pertencimento de valores, probabilizando imposições e
subjetividades acerca desse “eu”, sujeito” e o (re) conhecimento de seus
processos de socialização.
Logo,
inserindo-nos dentro das diversas análises sobre estudos que contemplem
objeções à juventude, observa-se que assim como explana Campos (2010), a
juventude vem ocupando um lugar significativo nas produções acadêmicas, nos
discursos políticos e nos conteúdos midiáticos. Entretanto, salienta-se na visão do autor que
o crescimento que a esfera visual-midiática assumiu em registros teóricos é
explicada a partir da resistência simbólica das distinções de classe. O
“exotismo visual” e agregador de imagens desses grupos (mods,
skinheads, teds, rastas, etc) os enquadra coletivamente, sendo
tais aferições identificadas como elementos chave para decodificação de
dinâmicas conflituaise distinções entre os próprios grupos.
A
percepção desses mecanismos de representação como ações coletivas das quais as
comunidades e grupos sociais outorgam sentidos ao mundo está intimamente ligada
ao discurso; à sistemas de linguagens. Assim, a juventude enquanto signo com
elevado valor comercial e simbólico é permanentemente reinventada ao saber das
lógicas comerciais, tendências estéticas e ideológicas do momento (Campos, 2010).
As culturas juvenis parecem singularmente vocacionadas para ensaiarem “novos
idiomas” mais apropriados a uma condição contemporânea vivida no imediatismo e
na efemeridade; formatos expressivos e mais criativos; móveis e lúdicos – em
ruptura com as instituições formais. O corpo, a cidade, passam a ser entendidos
para Campos (2010) como espaços de autonomia e reivindicação revelando telas
expressivas de vontades, e não devemos assim, ignorar os muitos atos
estratégicos dessas energéticas produções culturais.
Mas
como perceber o que assenta essas produções culturais? É possível formular um
quadro analítico acerca das relações fluidas entre aspectos de pertencimento da
juventude, como: música, juventudes e novos estilos?Bennett (1999) propôs o
conceito de “neo-tribalismo” para interpretar as novas tendências significadas
a partir do pós-guerra, caracterizados pela amostragem em termos e estilos
musicais(Ex: rock progressivo e bhangra).
As subculturas eram vistas como o desmembramento de tradições comunitárias a
partir de práticas coletivas a partir do resultado do desenvolvimento urbano da
década de 1950. A função que engendra a
subcultura, mesmo que “mágica”, tenta resolver as contradições ocultas e não
resolvidas nas esferas sociais ocidentais.
No que se entende entre as
considerações de Bennet (1999) as subculturas formam partes de uma contínua
luta da classe trabalhadora contra as circunstâncias socioeconômicasde sua
existência, e como resistência plena , tais subculturas expressam-se de
maneiras distintas e instantâneas. Uma
análise expressiva que enquadraria os “estilos de vida” permite que esse, seja
um “jogo livremente escolhido” e não deve ser confundido como um “modo de
vida”tipicamente associado a uma comunidade. O conceito de estilo de vida enviesa-se a
partir do princípio que tais participantes passaram frequentemente um processo
seletivo de um “estilo de vida”independentemente de uma classe social
específica ou de valores ideológicos que caracterizem valores tradicionais.
A
partir de tal premissa, os grupos que tradicionalmente veem sendo
caracterizados como representantes de uma subcultura de coerência relevante,
passam a ser melhores compreendidos a partir de uma série de encontrostemporais
caracterizadas por fronteiras fluídas e associações flutuantes. Como exemplo,
Bannet (1999) traduz acepções sobre os estilos musicais, entendo que esses, que
se caracterizam pela misturais de “sons” e “visuais”são exemplificados pelo
ecletismo essencial do pós-guerra. A cultura jovem, portantonos obriga a buscar
uma (re) visãodas nossas formas de compreensão do mundo e de como os jovens
tem, tipicamente,a relação com gostos; estilos musicais, associações coletivas
e novos discursos.
Parao
que compreende o pensamento de Hebdige
(1979) até a década de 1920 não existira análises metodológicas acerca da subcultura.
A grande quebra de paradigmas acontece com a observação participante que trouxe
para o entendimento e fomentação de tal conceito descrições mais interessantes
e sugestivas para a subcultura. Assim, as subculturas para Hebdige (1979) são
geográficas e biográficas, poisse transmitem através de diversos “canais” como
a escola, a família; os meios de comunicação. As subculturas representam um caminho
simbólico à ordem simbólica, pois seu surgimento vem acompanhado por grande
influência dos meios de comunicação de massa.
O
que traria a visibilidade às subculturas para Hebdige (1979) são as inovações estilísticas. Com
essa ampliação, a subcultura pode transforma-se comercialmente à medida que
seus idiomas “visuais” e “verbais” tornam-se mais familiares. A convenção desses “signos culturais” (Foucault,
2007) como roupas e músicas, por exemplo,passam a nomenclaturara conduta dos
grupos à ordem coercitiva e judicial, sendo esses,
acusados analiticamente como desviantes de valores “normais” da sociedade.
Referências
BENNETT,
Andy. Subcultures or
Neo-Tribes?Rethinking the Relationship between Youth, Style and Musical Taste.Sociology1999 33: 599.(British
SociologicalAssociation).
CAMPOS, Ricardo. Juventude e visualidade no mundo
contemporâneo. Uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis. SOCIOLOGIA,
PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 63, Lisboa, 2010, pp. 113-137.Connecticut:
WesleyanUniversity Press, 1996.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das
ciências humanas. Tradução: Salma TannusMuchail – 9ª ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 2007. (Coleção Tópicos).
GELDER, Ken, THORNTON, Sarah (ed.). The subcultures
reader. London: routledge, 1997.
HEBDIGE, Dick (1979). Subcultura.
El significado del estilo. Barcelona: Paidós, 2004.
THORNTON, Sarah. Club cultures.Music, media and
subcultural capital.
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