sexta-feira, 15 de junho de 2012

De Mudanças e Metáforas (Resenha)


 Das mudanças das metáforas, às novas metáforas e mudanças na teoria critica dos nossos tempos. É nesse empreendimento que Stuart Hall elabora uma analise das representações metafóricas das transformações culturais (e de certa forma, uma homenagem a Allon White). Para tanto, se vale da obra que este elabora com Peter Stallbryass: Política e a poética da transgressão.
Sugere Stuart Hall uma analise das “metáforas de transformação” para pensar analiticamente a relação entre o social e o simbólico no processo de transformação. Cita Marx e sua perspectiva de reduzir as idéias operantes em toda sociedade, às idéias da classe dominante (p. 206). Nessa direção a transformação corresponde à substituição. Ou seja, “o mundo de cabeça para baixo”, a metáfora que exprime inversão.
Essa concepção é superada, tendo a idéia de que as categorias “alto” e “baixo” propostas por Allon Mhite e Peter Stallbryass, que entendem, em uma perspectiva “carnavalesca” a relação do social com o simbólico. Nesse sentido Hall sugere se ater nas “afinidades eletivas” dos autores com as idéias bakhtinianas.
Em suma trata-se de perceber as interligações hierárquicas no campo do social e simbólico, que elaboram e reelaboram arcabouços culturais que se relacionam. Essa inter-relação entre as classes sociais sugere outras possibilidades de entender a “transgressão”. O carnaval é a metáfora do “mundo as avessas”, onde o plebeu se torna príncipe; o escravo manda no senhor; onde o corpo torna-se o algoz subversivo.
A ênfase apresentada por Hall, e o que insiste em chamar atenção por via da metáfora do carnaval é uma “interdependência”, onde nenhuma forma ou idéia é hegemônica, ao passo que um se constrói na relação com o outro. A hierarquia torna-se, assim, um espaço de negociação e contradição.
Como fica assim a transgressão? Enquanto categoria de analise de metáforas, se constitui em “... algo sintomático de uma transição maior em nossa vida política e cultural, bem como no trabalho teórico das últimas décadas.” (p.212). Demonstra essa constatação por via dos Estudos Culturais.
Partindo de Raymond Williams chama atenção para o “popular” como elemento transgressor das “fronteiras da classificação cultural” (p. 213). Essa é a fonte do dilema binário. O “relacionamente”.
Chegando a 1975 trata da 2ª fase do “Centro”: as “subculturas jovens”. Nessa o caráter da “resistência” se caracteriza enquanto frente à “ordem dominante”. A representação simbólica é visualizada por via de “rituais”. Expressões diferentes – e pouco entendidas – dos cânones clássicos de transformação sócia. A base dessa postura é a idéia de “equilíbrio nas relações de força” proposta por Gramsci na analise da luta hegemônica. Substituindo a analise das relações sociais que entende a “luta de classes”, essa por sua vez não foge do esquema binário em dilema.
No terceiro momento apresenta a questão do “discurso ideológico” sugerindo repensar conceitos, mecanismos e mapeamentos. É com esse esforço que Hall entende que o caráter interdisciplinar – segundo Schulman (1999:169): “Os Estudos Culturais foram concebidos desde o inicio, como empreendimento interdisciplinar.” - dos Estudos Culturais possibilita ampliar o olhar acerca do fenômeno da ideologia para além de um marxismo recorrente.
A continuidade é a tentativa de aproximar a ideologia ao simbólico. Colocando o significado assim como flutuante e não como estabelecido, tendo em vista que o “signo ideológico” é “plurivalente” (Volochinov apud Hall 2009:216). Dentre outras concepções de relacional o ideológico ao signo (Freud).
Percebe-se ainda assim, que a idéia de classes não é abandonada. Seja em lados opostos ou se relacionando de formas diferentes, mas existem. Mas não seria possível pensar ideologia sem classes? Ou ela só se funda nessa distinção, dicotomia...?
Essas reflexões que partem do texto têm a apresentação analítica que Hall faz de Marxismo e filosofia da linguagem como impulso. E nesta obra destaco quando o(s) autor(es)1 afirma(m) categoricamente: “Todo fenômeno que funciona como signo ideológico tem uma encarnação material, seja como som, como massa física, como cor, como movimento do corpo ou como outra coisa qualquer.” (Bakhtin, Volochinov: 1990:33).
Hall segue apresentando a influencia de Bakhtin nos Estudos Culturais. Entendo como afirma Schulman que posição teórica dos estudiosos dos EC desde os princípios, se explica e se afirma pela sua posição social. Logo, o fato de politicamente o contexto influenciar Bakhtin, suas reflexões mostram uma perspectiva dialógica na vida do autor. O dialogismo presente em sua obra põe em debate a questão da autoria, o que também pode ser compreendida na direção das representações.
E dessa reflexão acerca das metáforas de transgressão que Hall considera fortuita a relação analítica entre a “dialógica da plurivalência” e a “dialética do antagonismo de classe”. A tentativa é mostrar a contribuição que uma lógica atribui à outra, é como se uma preenchesse a lacuna - limite? - da outra (p.220). Para tanto argumenta com Gramsci partindo dos “fundamentos paradoxais que captam o relacionamento dialógico entre forças antagônicas...” (p.221). Consiste num aprimoramento teórico presente nos Estudos Culturais.
O conteúdo crítico de Stallybrass e White, na direção das estruturas “binárias-e-inversões das metáforas clássicas”, pode ser vista em McCabe, também recorrendo a Gramsci, quando se volta para a cultura popular com base no “nacional popular”, entendida como uma força de ruptura com o alto e baixo. A horizontalidade proposta leva as metáforas na direção de não considerar a cultura popular uma mera forma de resistência.
Dessa forma - dialogando com Derridá - isso não significa o abandono da posição clássica, mas “colocá-la ´sob rasura`”. É sim considerá-la fundamental na constituição de identidades dentro da cultura européia (Stallybrass e White). Ressaltando assim o “princípio hierárquico da cultura”, no procedimento de deslocamento.
Por fim apresenta uma longa citação dos autores onde estes se valem de Jameson para defender a dialética que forma o inconsciente político quando procura alcançar a singularidade da identidade, e nessa busca, o inconsciente torna-se heterogêneo.

BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosófica da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1981.
HALL, Stuart. Para Allon White: metáforas de transformação. HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Beljo Horizonte: Ed UFMG/Humanitas,, 2009.
SHULMAN, Norma. O Centre for Contemporary Cultural Studiesda Univrsidade de Birmingham: uma historia intelectual. SILVA, Tomaz Tadeu da (org.) O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 1999.


1 Sem querer entrar no debate sobre autoria - mas é difícil definir entre Volochinov e Bakhtin - como alerta Roman Jacobson no Prefácio da obra; bem como Hall (2009:218). Vou usar os dois.

Texto de Wellington Bomfim

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Juventude e Visualidade no mundo contemporâneo: uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis


Daniela Nogueira Amaral
Danielle Parfentieff de Noronha
Tânia Carolina Viana de Oliveira



 No texto Juventude e Visualidade no mundo contemporâneo: uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis, Ricardo Campos demonstra a importância de pensar os estudos das juventudes em termos visuais, a fim de perceber como a imagem e a cultura visual contemporânea participam na construção da juventude. Como problemática central questiona: “como pensar a juventude em termos visuais?”. Segundo o autor, diferentes imagens e imaginários “tendem a fornecer coordenadas para a forma como a sociedade representa os jovens (e este se representam)” (p.113). A imagem carrega um poder que possibilita a identificação entre esses jovens.
Para o autor, o critério etário não é suficiente para determinar a categoria juventude. E também não devemos pensar em juventude, mas em juventudes, que se dispersam pelo espaço geográfico e social e enfrentam problemas e possibilidades muito distintas e, desta forma, assumem configurações peculiares.
Através de mecanismos visuais a juventude demonstra representações e identidades, que de acordo com o autor, são conceitos que permitem investigar eventuais conexões entre os circuitos de produção, difusão e consumo. O exotismo visual de alguns grupos, denominadas subculturas, são elementos-chave na decodificação desses grupos e na possibilidade de perceber a diferença existente entre eles.
Outras práticas ligadas ao estudo da juventude, diz respeito aos estudos da mass media e sua influencia na construção dessa categoria. Através dos espaços midiáticos e da publicidade, televisão e cinema, o jovem pode ser representado e determinar certo estilo de vida. Como demonstra o autor, a representação visual de alguém, grupo ou comunidade interfere na forma como esse alguém se representa e se apresenta visualmente, “e, portanto, naquilo que poderíamos definir como a sua identidade visível ou visual” (p. 119). Dentre as formas como as juventudes são representadas, há uma representação socialmente forjada. Em certos momentos, a juventude é modelo e, em outros, antimodelo – que serão determinadas pelas questões históricas e contextuais. Também se tornou uma categoria com elevado valor comercial e simbólico, que é reinventada conforme a ideologia e o comércio do momento.
O autor salienta o crescimento e a importância no campo dos estudos visuais para pensar a negociação e determinação dos estilos de vida e identidades do ser jovem e dessa maneira compreender algumas práticas culturais. A identidade em elaboração está em constante negociação, quando estão em jogo variadas possibilidades de apresentação e representação. A partir dos sistemas de simbolização visual é possível perceber as manifestações dos grupos identitários. É através dos discursos reproduzidos sobre eles mesmos e sobre os outros que podemos entender os processos de identidade juvenis.
Campos destaca que a utilização, pelos jovens, dos recursos visuais fazem com que eles tenham ferramentas para produzirem algo relacionado à suas realidades. Como ele mesmo destaca “a visualidade é, assim, cada vez mais uma arena de prospecção criativa de afirmação de competências sociais, culturais e simbólicas que, tantas vezes, é desconhecida ou censurada pelo universo adulto” (p. 120).


[i] Resenha de CAMPOS, Ricardo. Juventude e visualidade no mundo contemporâneo: uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis. In. Sociologia, Problemas e Práticas, nº63, Lisboa, 2010, p.113-137.

Introdução: Subcultura e Estilo



[i]
Daniela Nogueira Amaral
Danielle Parfentieff de Noronha
Tânia Carolina Viana de Oliveira

O capítulo do livro “Subculture. The Meaning of Style” de Dick Hebdige, publicado originalmente em castelhano em 1979 e traduzido para o inglês em 2002, problematiza ao tempo que também dá uma outra roupagem a conceitos como cultura, ideologia, estilo.
Logo na introdução, a partir do texto de Jean Genet “Diário Del Ladrón”, vemo-nos instados a pensar como determinados objetos, aparentemente inócuos, podem converter-se e mesmo ascender a categorias simbólicas que expõem e se contrapõem à ordem instituída, deflagrando a presença incontornável da diferença. Trata-se, no caso sublinhado do autor francês, de um tubo de vaselina que, condensando um paradoxo, representa uma ignomínia sexual aos olhos da polícia e uma graça individual secreta encerrada como marca estigmatizada de subversão e revolta. Nesse caso específico, o personagem de Genet, podemos supor seu alterego, impõe ao contexto no qual se insere a infração do não pertencimento ao padrão, onde o delito é elevado à forma de arte. Nesse sentido,  através do exemplo da marginalidade homossexual incorporada a um utensílio que a expõe, Dick Hebdige levanta questões que sublinham e consideraram como a estetização de um estilo, simbolicamente condensado numa forma material, pode desafiar a maneira hegemônica de legislar sobre comportamentos, instaurando a deserção explícita. Nesse aspecto, os limites e embates que aquilo que chamamos de subcultura põe a nu é explicitado na babel de signos que certos grupos inventariam, pondo em xeque e demovendo um ethos, incorporando a dissenção através da blague ou da insubordinação mais explícita. Dessa maneira,Teddy boys, Mods, Rokers, Skinheads, Punks advertem o mundo normal  de suas presenças desviantes e os objetos por eles consagrados enquanto marcas identitárias - objetos concebidos como anátemas, evangelhos de uma desordem - figuram como fontes de valor contra-hegemônicas, conotando um lócus  onde o conflito adquire maior dramaticidade porque é fotografado objetivamente.
                É necessário dizer que para entendermos melhor importantes características das subculturas, precisamos escandir mais detalhadamente nuances do próprio conceito de cultura, nuances que constantemente nos escapam. Aliás, a polissemia do termo antepara alguns embaraços semânticos significativos que ainda não foram dirimidos por completo, ainda que desvelem posições diferenciadas daqueles que enfatizam no significante um sentido mais específico ou mais generalista. Senão vejamos. Uma das acepções freqüentes dadas ao vocábulo é aquela que define Cultura, de modo mais conservador, como norma de excelência estética, como obra clássica – ópera, ballet, teatro, arte, literatura. Por outro lado, segundo Raymond Wiiliams, desde o século XVIII, outra definição se acopla ao significado mais corrente do vocábulo – Cultura como um modo específico de vida que transcende aspectos de conhecimento privilegiado, espelho de uma formação distintiva, passando a definir também um conjunto de valores implícitos e explícitos na concretude das vidas cotidianas. Nas palavras do poeta T.S Eliot, todos os interesses de um povo, da culinária ao futebol, inserem e abrangem o conceito de Cultura. Assim, entendemos que a elasticidade do signo linguístico pressupõe uma forma teórica nova para categorizá-lo dentro de uma perspectiva que distende e coloca em tela seu conteúdo histórico, tributário de processos sociais considerados em conjunto e não apenas como projeções hierárquicas que consignam a  alta e a baixa cultura dentro de uma escala de valores.
 Nesse sentido, a proposta metodológica d’Os Estudos Culturais, quando estes se debruçam sobre a cultura ou sobre as culturas, também absorvendo o sentido antropológico do termo, pretende desvelar os elementos que estão por trás de determinadas práticas, elementos que estão além das aparências, absorvendo não apenas o significado mais restrito do termo – a cultura como norma de excelência – quanto seu significado catalisador - a cultura como um modo de vida. No entanto, para dois autores que ajudaram a  inaugurar a teorização e a metodologia d’Os Estudos Culturais, (Hogart e Williams) essa submersão nos aspectos culturais comunga um modus operandi comum – a interpretação do cotidiano iluminada pela interpretação literária ou, dizendo de outro modo, o treinamento da sensibilidade proporcionado pela Literatura permite uma leitura do real que capta suas sutilezas, sutilezas que, amiúde, podem passar despercebidas a um olhar menos crítico ou menos treinado.  Aqui, a proposta semiótica de Roland Barthes - vislumbrar o mundo como texto - aporta sem dificuldades. O escritor, professor e crítico francês, utilizando um modelo derivado da Linguística do suíço Ferdinand Saussure pretende demonstrar o caráter arbitrário da cultura, aquilo que para os mais incautos, e são muitos, naturaliza-se substantivamente, perdendo não somente sua filiação contextual, como ascendendo enquanto mitologia que explica e determina aquilo que parece espontâneo, mas, se focado com maior acuidade, se revela orquestrado. Barthes não estava interessado, a exemplo de Hogart, em distinguir, na cultura o bem e o mal ou o genuíno e o alienante e alienado, ainda que de certo modo também o fizesse. Afinal, quando procurava identificar a “medula ideológica” que naturaliza idéias e percursos de maneira universalista, não perde de vista as instâncias de poder com seus inúmeros tentáculos que envolvem numa mesma rede dominantes e dominados.
 De forma ainda mais radical, a semiótica de Barthes pretendia costurar definições opostas de cultura – convicções morais e temas populares. Partindo da premissa de que “ o mito é um tipo de discurso”, o linguista francês tenta identificar – na moda, no cinema, na comida – a retórica que nos bastidores estrutura formas, ritos, ditos, códigos específicos disseminados de modo a formatar todas as relações sociais ideologicamente alimentadas.  Todavia, lembrando-nos o verso pessoano que assevera que “o mito é  o nada que é tudo”, é preciso entender que miradas eletivas de investigação – sociológica, semiótica, econômica  - podem abarcar conceitos diferenciados de Ideologia e é de Ideologia que estamos tratando quando adentramos no território dos símbolos e dos signos que estruturam miticamente as relações sociais.
Para Stuart Hall, por exemplo, a aparência inquestionável das coisas, travestida de transparência e naturalidade, torna invisíveis as premissas que entronizam essas coisas hierarquicamente. Entretanto, a carga ideológica que antepara comportamentos e idéias não pode ser sublinhada como uma visão de mundo partidarista e sectária, pois que, “saturando o discurso cotidiano em forma de sentido comum” a Ideologia resvala não para “falsa consciência marxista”, mas para a inconsciência, como assinalou Althusser, que insere os homens num processo de representação que lhes escapa, ainda que demarque as fronteiras e os limites de suas vidas.
Assim, para entender, com maior perspicácia, a dimensão ideológica que subjaz a atos, palavras, vontades e omissões, devemos ter em mente, como afirma Hall, que múltiplos códigos normativos e conotativos funcionam como “mapas de significado” que tornam a vida social inteligível. Todavia, é na desigualdade, situada sincronicamente, entre dominantes e dominados que esses mapas de significado se sustentam, conformando o mundo de modo assimétrico e por isso conflitante. Aqui, podemos subscrever o conceito de Hegemonia de Gramsci como aquele que traduz tanto a autoridade subsumida nas relações sociais quanto a temporalidade volátil da mesma - a hegemonia como um “equilíbrio móvel que contém forças favoráveis ou desfavoráveis a esta ou aquela tendência”, forças que disputam um espaço erigido entre consentimentos que devem ser conquistados e por isso se constituem impermanentes.
 Nessa perspectiva, a simbiose entre ideologia e ordem social, entre produção e reprodução é permeada por objeções e contradições sempre renovadas, contradições que extrapolam os conflitos de classe, pois que envolvem uma leitura diferenciada dos signos que revestem as relações sociais, uma leitura muitas vezes heterogênea até  dentro dos limites um mesmo território de significação social e econômica . Nesse processo, é que as subculturas e o estilo de vida que objetiva e subjetivamente lhes caracterizam pode desmitificar certos conteúdos ideológicos respaldados de maneira naturalizada e aparentemente consensual, abrindo veredas subversivas no discurso hegemônico. Para Hebdige, o Movimento Punk e o Movimento Reggae podem ser considerados emblemáticos nesse aspecto. Emergindo com mais força a partir de meados da década de 70 - a despeito das diferenças de comportamento e mesmo de inspiração para suas crenças; no caso do Movimento Reggae e seu casamento com o Rastafarianismo, e de suas descrenças; o niilismo apocalíptico punk-, esses movimentos culturais de juventude bebem de uma mesma fonte de iconoclastia que conjuga num estilo - roupas e adereços – uma ameaça à ordem instituída e aos instrumentos que a estruturam, entronizando seus valores num lócus de hierarquia superior –Estado, Igreja, Polícia, Escola.
Os Punks com suas jaquetas de couro, braceletes e coturnos, cabelos moicanos e piercings compõem uma bricollage que através de ritmos acelerados, herdados do rock, desafiam o otimismo de um mundo melhor, cerzindo na alegoria do exótico, conceitos de contracultura movidos a anfetaminas e sentimentos explícitos de uma alienação encenada, uma sexualidade perversa e um eu fragmentado. Nas teias desse desajuste teatralizado nas ruas, bares e discotecas, a subversão converte-se num solipsismo que expõe o ceticismo juvenil materializado visualmente.
Num outro pólo, a música reggae e seus acordes mais lentos e introspectivos - flertes com o Jazz-, sua filiação a uma África idílica que recusa a submissão e se afirma como o levante bíblico dos justos que incorporam e interpretam a palavra divina. Nesse embate paradoxal de dessacralização e sacralização redentoras,  o som de jovens negros,  o colorido de suas roupas e o poder da marijuanna deflagram no exílio imposto por condições matérias adversas, um exílio mais profundo e afirmativo de uma raça que passa dizer o que quer através, também, da arte.
Entre ambos, o punk e o reggae, a empatia dos descontentes e uma pluralidade lingüística que conjuga o visual e o auditivo como re-percussões de uma demanda por reconhecimento, ainda que seja um reconhecimento  propagado com uma voz dissonante.


[i] Resenha - REDIGBE, Dick: Introdução: Subcultura e Estilo In: The Meaning of Style. Methuen& Co. Ltd 1979

Codificação/Decodificação


Franklin Timóteo
Jefferson Dantas

Texto que nasce como contribuição aso estudos sobre os meios de comunicação massivos e os impactos deste na sociedade e nos indivíduos. A contribuição maior do autor está na ideia de circularidade das informações emitidas, não apenas o emissor é produtor de sentido, mas também os leitores são entendidos como instâncias de produção de sentido/signos, visto que, reinterpretam, assimilam e decodificam as mensagens previamente codificadas de diversos modos e nuances.
Deste modo, Stuart Hall rompe como esquemas interpretativos de ordem behaviorista ou funcionalista ainda fortes até a década de 1970, afinal estes modelos heurísticos fornecem um verdadeiro ode ao emissor  e os receptores, por conseguinte, é  uma espécie de corpo, ou melhor, de alvo dos primeiros, ele critica ainda a linearidade e a unidirecionalidade dos modelos explicativos supracitados.
Para Stuart Hall a produção não é um processo ( atividade) muito transparente como pensavam os modelos anteriores de pesquisa, tampouco seria o momento mais importante, tanto a emissão quanto a recepção são instâncias geradoras de sentido e ambas enquanto práticas sociais estão submetidas à intempéries, constrangimentos e dramas comuns a qualquer dinâmica social.
Assim o autor nos sugere entender o fenômeno midiático como algo multirreferencial, pois os sentidos são são distintos a  partir da leitura que o indivíduo/ leitor faz daquela informação, cada pessoa ou grupo tem sua bagagem cultural, um repertório que propicia uma visão acerca do mundo e dos objetos, daí o surgimento de uma tradução daquele princípio “original” da emissão. Essa perspectiva desierarquiza a produção, que fora entendido como um momento mais importante, para Hall tanto a emissão quanto a recepção são momentos de realização de sentidos, afinal a produção/consumo dos bens midiáticos compõem  um processo mútuo de implicações e de determinação, são cotidiana e paulatinamente afetados pela circualaridade da prática comunicativa, os signos fazem uma espécie de dança circular, uma ciranda de sentidos acioanda a partir de cada membro da roda.
Hall ainda alerta para as situações onde as informações codificadas buscam se misturar ou se confundir com signos já consagrados pela cultura hegemônica, a fim também de se perpetuar. Isto evidencia uma preocupação com as noções de cultura popular, pois para ele a cultura popular é uma espécie de campo de batalha pelo direito de imprimir um sistema de representação que classifica tudo e todos, trata-se de uma disputa pelo direito de administrar o público, de reger a dinâmica de circulação dos bens culturais – este é o momento em que se trava a política de significação, uma verdadeira luta no campo discursivo.