terça-feira, 6 de junho de 2023

Jovens Mulheres e o Direito à Cidade a partir da prática do Surfe e do Skate em Aracaju

 Por Letícia Oliveira Feijão Galvão[1]

 

Na contemporaneidade, a emergência de novas narrativas identitárias e as disputas e sentidos que estas atribuem ao espaço público têm ocupado relevantes campos de pesquisa nas ciências sociais. Durante a minha trajetória acadêmica, venho estudando múltiplas formas de agências juvenis e como essas agências se articulam a elementos presentes no cotidiano de parte das juventudes sergipanas contemporâneas. Atualmente, minha proposta de pesquisa de doutorado se baseia em trazer para análise categorias como corpo, gênero e cidade a partir das microculturas juvenis que se formam através da prática do surfe e do skate (ou skateboarding) na cidade de Aracaju. Mais precisamente, como a prática de ambos os esportes pode agir como um recurso de reivindicação feminina do espaço urbano[2] e qual é o papel da ação coletiva nesse contexto.

Foto da autora - 2022

Para viabilizar essas investigações, utilizo alguns textos sociológicos e antropológicos que dialogam com as minhas principais questões de pesquisa. Aqui, apresentarei algumas contribuições de dois deles: o livro A invenção do cotidiano: artes de fazer, de Michel de Certeau, e o texto Ondas, cenas e microculturas juvenis, de Victor Sérgio Ferreira. Meu intuito é mostrar como ambas as produções apresentam conceitos centrais para pensar como o direito à cidade é reivindicado pelas mulheres que se associam a coletivos voltados ao surfe, ao skate e aos estilos de vida que se estruturam a partir dessas práticas.

Em Ondas, cenas e microculturas juvenis, Ferreira (2008) define, a partir de uma leitura do antropólogo Carles Feixa, as microculturas como “contextos sociais onde ocorrem fluxos de significados e valores manejados por pequenos grupos de jovens na vida cotidiana, atendendo a situações locais concretas” (FEIXA apud FERREIRA, 2008, p. 101). O autor pontua, também, que as microculturas contemporâneas não respondem às dinâmicas sociais que as rodeiam como os “rituais de resistência" (HALL; JEFFERSON, 2003) das décadas passadas: segundo Ferreira (2008, p. 102), no lugar de um estilo de vida contestatório e militante, “passa a existir um estilo de vida celebratório, orientado por uma ética de existência que cultiva valores hedonistas, experimentalistas, presenteístas e convivialistas, no sentido do alargamento das possibilidades de expressão individual”. Podemos pensar os estilos de vida que se estruturam a partir de práticas cotidianas - como o surfe e o skate, por exemplo - como parte desse fenômeno.

Já em A invenção do cotidiano: artes de fazer, Michel de Certeau investiga como os sujeitos intervêm material e simbolicamente nas suas respectivas realidades a partir de “estratégias” e “táticas” estabelecidas nesses contextos. É precisamente no terceiro capítulo dessa obra em que o autor situa o que seriam essas estratégias e táticas, que estruturam as “artes de fazer” - modos de “caminhar, ler, produzir, falar etc.” (CERTEAU, 2014, p. 87) presentes no cotidiano dos agentes. Em Fazer com: usos e táticas, Certeau aponta o que distingue ambos os movimentos e quais são os seus efeitos na vida social.

É importante frisar que Certeau situa, em primeiro lugar, o papel do consumo nessa dinâmica, como sendo caracterizado sobretudo por suas “astúcias”; pela possibilidade de inversão de signos e práticas estabelecidos hierarquicamente no cotidiano. Em seguida, Certeau busca destrinchar a ideia de estratégia: segundo ele, a estratégia seria o cálculo ou a manipulação das relações de forças exercidas por sujeitos de poder. A estratégia é uma conduta necessariamente hierárquica, cartesiana, manifesta pelos “poderes invisíveis do Outro” (CERTEAU, 2014, p. 93).

As táticas, por sua vez, seriam justamente o oposto: seria um “movimento dentro do campo de visão do inimigo”, uma “arte do fraco” (CERTEAU, 2014, p. 94). Dessa forma, se as estratégias são estabelecidas de forma a propagar relações de poder, as táticas são as práticas que subvertem essa relação; são as possibilidades de construção de outras formas de consumir, de ser e estar nos espaços públicos e privados. Como posto pelo autor (2014, p. 97), “a tática é determinada pela ausência de poder, assim como a estratégia é organizada pelo postulado de um poder”. 

Diante do exposto, é possível associar utilizar tanto a noção de microculturas juvenis, pensada por Ferreira, quanto os conceitos de artes de fazer, estratégias e táticas trabalhados por Certeau para analisar sociologicamente as relações entre mulheres, esportes, estilos de vida e espaço público em Aracaju. Quando pensamos no direito à cidade, é pertinente que pensemos, também, nas possibilidades de ação - ou, mais precisamente, nas artes e astúcias de reinvenção da cidade, como propõe Diógenes (2020) - que engendram práticas cotidianas capazes de desafiar estruturas de poder presentes no espaço público.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Erna. “Uma cidade muda não muda”: mulheres, graffiti e espaços urbanos hostis. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe, 2020.

CERTEAU, Michel de. Fazer com: usos e táticas. In: A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

DIÓGENES, Glória. Diagramas da Juventude Contemporânea: Artes e Astúcias de Reinvenção da cidade. In: Juventudes Contemporâneas: Desafios e Expectativas em Transformação. Rio de Janeiro: Editora Telha, 2020. 

FERREIRA, Victor Sérgio. Ondas, cenas e microculturas juvenis. PLURAL, Revista do Programa de Pós‐Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.15, 2008, pp.99‐128.

HALL; JEFFERSON, Tony (orgs.). Resistance through rituals: youth subcultures in post-war Britain. London: Routledge, 2003.

 



[1] Graduada em Ciências Sociais e Mestre em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS/UFS). Membro do Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas (GERTs).

 [2] Parto da hipótese de que, como estudado por Barros (2020), os espaços da cidade são pensados a partir de uma lógica e de um modelo masculinos, sendo o corpo feminino socializado para “pertencer” ao âmbito privado. Nesse sentido, haveria um duplo processo de disputa por reconhecimento por parte das mulheres que se associam ao surfe e ao skate: um primeiro por serem mulheres a ocupar o espaço público, e um segundo por serem mulheres em esportes hegemonicamente masculinos.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Juventude e Instituição: sentimentos, percepções e o reconhecer-se para ser reconhecido

 Por Raiane Santos

 

O sociólogo e filósofo alemão, Axel Honneth (1949), ao vislumbrar a teoria do reconhecimento a partir das discussões já antecipadas na filosofia de Hegel, compreende que tal teoria é baseada em três fases: no amor, no direito e na estima. O autor entende que a primeira fase do reconhecimento, acentuada pelas relações afetivas e pelo amor, deve ser considerada sobretudo a partir das relações primárias, “na medida em que elas consistam em ligações emotivas fortes entre poucas pessoas [...] e de relações pais/filhos”. (p.159). Esta fase do reconhecimento pautada nos afetos, acaba sendo objeto de estudos também no campo da psicanálise, mostrando, inclusive, que a relação mãe-filho quando passa por um rompimento simbiótico ainda na primeira infância, pode gerar distúrbios no comportamento do bebê, isso porque “a interação entre mãe e criança se efetua como um processo altamente complexo, no qual ambos os implicados se exercitam mutuamente na capacidade de vivenciar em comum sentimentos e percepções”. (HONNETH, 2009, p.162).

No que diz respeito à segunda fase do reconhecimento, sendo o direito, Honneth (2009, p.193), afirma que “um sujeito é respeitado e encontra reconhecimento jurídico não só na capacidade abstrata de poder orientar-se por normas morais, mas também na propriedade concreta de merecer o nível de vida necessário para isso”. Por último, a terceira fase do reconhecimento - baseada na estima - demonstra que os sujeitos operam diante de um processo de solidariedade, onde as relações sociais são estabelecidas de forma simétrica. Esta última fase funciona como uma consequência da segunda, ou seja, para que o sujeito consiga se enxergar de forma valorativa em meio a sociedade, é indispensável que o mesmo se reconheça enquanto sujeito de direitos.

As três fases do reconhecimento ao serem associadas ao contexto do acolhimento institucional, nos levam a pensar que as trajetórias de vida dos jovens que já passaram e que ainda se encontram em instituições de acolhimento são atravessadas por três segmentos: o rompimento do laço afetivo/parental; a luta para que sejam vistos como sujeitos de direitos e o autorreconhecimento permeado pela estima social a partir dos valores aspirados comunitariamente, ou seja, nos espaços de acolhimento institucional.

A socióloga Lia Pappámikail, em seu artigo intitulado Juventude(s), autonomia e Sociologia: questionando conceitos a partir do debate acerca das transições para a vida adulta, menciona que diante dos vários sentidos associados à juventude, ainda é permanente a ideia de que “o jovem é alguém inacabado, em processo de construção ou em devir. Este fato imprime a esta fase de vida um incontornável caráter transitório e ambíguo que tornou desde sempre, a sua análise conceitualmente complexa (...)”. (PAPPÁMIKAIL, 2010, p.399). 

A discussão levantada pela socióloga aponta para vários temas que emergem nos debates a respeito das juventudes, mas um dos fatores que ganha foco e que podemos associar aos debates que envolvem as dimensões do reconhecimento é o processo de transição que ocorre entre as categorias jovem e adulto. Quando Pappámikail coloca que o jovem é um sujeito em processo de construção, refere-se também a condição de construir uma determinada identidade, construção esta que acaba passando, em determinada fase, pelo processo de se reconhecer e ser reconhecido em ou a partir de algo. Pensar o processo de transição entre etapas da vida implica em diversos arranjos, seja a partir do matrimônio, inserção no mercado de trabalho, independência financeira, entre outros aspectos e categorias. Nesse sentido, a reflexão que é posta em pauta coloca em questão como jovens que utilizam os serviços de acolhimento institucional se reconhecem enquanto sujeitos e de que modo o ato de reconhecer-se implica na maneira como enxergam as etapas de transição ao longo de suas trajetórias?

 

Referências:

 

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Tradução de Luiz Repa. São Paulo: Editora 34, 2009.

 

PAPPÁMIKAIL, Lia. Juventude(s), autonomia e Sociologia: questionando conceitos a partir do debate acerca das transições para a vida adulta. Sociologia: Revista do Departamento de Sociologia da FLUP, Vol. XX, 2010, pág. 395-410.

 

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Burocracia, Discricionaridade e Violência simbólica no Discurso Jurídico

 Por Mariana Cavalcante Ouverney


           Vicente Dubous, em seu livro Sujetos en la burocracia, realiza uma etnografia nas Casas de Subsídios Familiares francesas (instituição responsável por programas de transferência de renda), com o objetivo de analisar os encontros burocráticos e a interação administrativa através do atendimento ao público efetuado nessa instituição estatal. Ele define os encontros burocráticos como uma situação de reconstrução de identidades através das narrativas singulares dos indivíduos que procuram a instituição. Por outro lado, a interação administrativa com a burocracia street level são permeadas por um conjunto de regras que não estão escritas, mas que fundamentam o funcionamento e bom desenvolvimento das atividades administrativas.


os “usuários” não vêm somente em busca daquilo que as instituições supostamente oferecem. Além da resolução dos seus problemas administrativos, eles pedem conselhos, considerações, expressam seus sofrimentos e seus ressentimentos. O trabalho da burocracia de nível de rua [street-level bureaucrats] nunca é exclusivamente burocrático: pode envolver desde assistência moral personalizada e até confronto direto (DUBOIS, 2020, p.21-22, tradução nossa).

 

Nessa perspectiva, ganha destaque a atuação da chamada burocracia street level ou burocracia “de nível de rua” expressão que se refere aos funcionários que interagem diretamente com os cidadãos através dos seus serviços públicos. Sendo assim, a interação “face a face” ou mesmo de alguma forma síncrona (se pensarmos na mediação tecnológica) proporciona a esses funcionários públicos tomarem algumas decisões com certa margem de discricionariedade, baseadas em suas moralidades individuais e coletivas. Esses são os chamados “jogos burocráticos” (DUBOUS, 2019), os quais possibilitam que as interpretações discricionárias dos fatos e as decisões em casos concretos proporcionem a atualização e adequação do que está na lei. Sendo assim, essas relações burocráticas não são weberianas no sentido estritamente racional-legal, ao contrário, são permeadas por agências de ambos os lados, porém de maneira desproporcional, visto que é o agente que possui o poder estatal e quem em geral pode escolher como vai adequar os casos reais à norma (discricionaridade), o que dá margem para a violência simbólica do Estado.  Sobre o conceito de violência simbólica:

 

É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os “sistemas simbólicos” cumprem a sua função política de instrumento de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de Weber, para a “domesticação dos domesticados”. (BOURDIEU, 1989, p.11)

 

De acordo com Bourdieu (1989, p. 14), o poder simbólico permite alcançar o equivalente ao que é obtido pela força física ou econômica, porém seu poder de persuasão reside em seu caráter eufemizador que transfigura o arbitrário para uma crença que oferece legitimidade a determinado discurso/ visão de mundo.

            Ao analisar o discurso jurídico de acordo nessa perspectiva, Bourdieu (1989, p.211) chama a atenção para o fato de que para entender o corpus jurídico, não podemos cair em sua autopropaganda de funcionamento específico, independente constrangimentos externos. Ao contrário, devemos atentar para o fato de que as práticas e discursos jurídicos estão estruturados num contexto social mais amplo de relações de forças específicas que vão orientar o seu funcionamento em relação conflitos históricos que devem interpretar; os quais, por outro lado, também podem ficar delimitados dentro da lógica interna das soluções jurídicas que se prendem à racionalidade e autoridade da norma, mas que inevitavelmente possui uma mutabilidade histórica. Nesse aspecto, ganha preponderância a necessidade de uma linguagem jurídica especializada, pois há uma concorrência pelo monopólio do direito dizer o direito: “agentes investidos de competência ao mesmo tempo social e técnica que consiste essencialmente na capacidade reconhecida de interpretar (de maneira mais ou menos livre ou autorizada) um corpus de textos que consagram a visão legítima, justa, do mundo social” (BOURDIEU, 1989, p.212). Assim, para o autor, a organização hierárquica da Justiça, em instâncias judiciais, normas e interpretação das decisões, é capaz de criar uma coesão disciplinada para o habitus[1] jurídico de interpretação dos procedimentos codificados de resolução de conflitos. Desta forma, é estabelecida uma fronteira entre duas visões de mundo: a visão dos leigos e a visão daqueles que possuem a competência jurídica, estabelecendo-se assim uma relação de poder, expressa sobretudo em matéria de linguagem jurídica, produzindo portanto, uma violência simbólica.

 

 Referências

 

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1989.

BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1992.

DUBOIS, Vincent. Políticas no guichê, políticas do guichê. In: Implementando desigualdades: reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. PIRES, Roberto Rocha C. (org.). Rio de Janeiro: Ipea, 2019. p.105-125.

 

DUBOIS, Vincent. Sujetos en la burocracia: Relación administrativa y tratamiento de la pobreza. Santiago de Chile: Universidad Alberto Hurtado, 2020.



[1] Sobre o conceito de habitus de Bourdieu: “Pensar a relação entre indivíduo e sociedade com base na categoria habitus implica afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são simultaneamente sociais e coletivamente orquestrados. O habitus é uma subjetividade socializada” (BOURDIEU, 1992, p. 101).

Juventudes, Igrejas e Política na Periferia. Aportes Iniciais de Pesquisa

Por Florival de Souza Filho


Resenha: “Povo de Deus. Quem são os evangélicos e por que eles importam”. Spyer, Juliano. São Paulo: Geração Editorial, 2020.

Ao iniciar o texto com a expressão “o elefante na sala”, SPYER (2020) levanta uma discussão sobre o fenômeno de massas que considera o mais importante ocorrido no Brasil nas últimas décadas, ou seja, o crescimento do número de igrejas e fieis evangélicos que, nos anos 1970 chegava apenas a 5% dos brasileiros e atualmente é um terço da população adulta do país, e, na próxima década, superará o número de católicos.

Nesse sentido, a pesquisa, adentra por vários debates como, o trânsito religioso, simbolismo, grupos étnicos (negros) excluídos, que ao converterem-se ao protestantismo passaram a ascender na sociedade e nas estruturas de Estado, proporcionado pelas igrejas evangélicas, estimulando a disciplina pessoal, a resiliência, o empreendedorismo, as redes de ajuda, a instrução profissional, o empoderamento dos fiéis, fazendo surgir uma nova classe média no Brasil.

O texto, mostra à sociedade e estudiosos os efeitos desse fenômeno, evidencia a importância da igreja evangélica na melhoria das condições de vida do fiel, - fim do alcoolismo, diminuição da violência doméstica, fortalecimento da autoestima, investimento em educação e saúde - mostrando que as mesmas desempenham funções de Estado, Poder Público, desde o século 20, quando da migração principalmente de nordestinos para as regiões sul e sudeste do Brasil, sendo providos pelo conforto emocional, financeiro, empregatício, saúde, advocacia.

A igreja evangélica, segundo SPYER (2020), produz uma alternativa de vida para jovens que não trabalham, envolvem-se com o crime, chamando a atenção para um debate que precisa ser aprofundado e compreendido, visto que alastra-se por todas as camadas e classes sociais brasileiras, adentrando com forte expressividade no mundo da política, onde a moral, a ética, os valores evangélicos, sejam estes, conservadores ou não, elegem um vultoso número de políticos, membros ou simpatizantes que formam as forças político-grupais como as bancadas da bala, bancada do boi, apoiadoras das políticas de direita e extrema-direita no Congresso Nacional, Estados e Municípios e que ajudaram a eleger em 2018 o representante desses segmento extremistas, o então candidato Jair M. Bolsonaro.

Por outro lado, essa visão política, não é totalizante no meio evangélico, visto que muitos eleitores negros e pobres, vêm-na como uma forma de fortalecer a repressão policial sobre suas comunidades e colocam que nem todos os políticos, membros das bancadas evangélicas, da bala, do boi, falam pela totalidade da comunidade evangélica nacional.

Seguindo a linha de raciocínio acima, estudiosos chamam a atenção sobre o fato das pesquisas academicas, negligenciarem ou simplesmente falarem mal das igrejas, devido ao fato de a mídia, veicular fortemente sua vinculação com o conservadorismo moral, a intolerância religiosa, (principalmente contra as religiões de matriz africana) vendo nesse comportamento um erro de análise, porque as igrejas, exercem nos territórios menos favorecidos pelas políticas públicas, funções que são devidas ao Estado, e este, por negligência e discriminação, seja social, financeira, racial... não se faz presente.

SPYER (2020), mostra que as igrejas evangélicas têm um lado positivo, muito forte na visão das famílias das periferias no tocante à solidariedade, empoderamento popular, meios que possibilitam o fim da violência doméstica, educação, saúde, redes de relacionamento com os staffs políticos e empresariais. E além de tudo isso é preciso colocar, que é um grave erro, associar a população negra, pobre e periférica somente às religiões de matriz africana, pois as estatísticas colocam que a maioria dos pretos e pardos, são membros das igrejas evangélicas.

Segundo SPYER (2020), a história do protestantismo é marcada por situações de reação das camadas mais pobres da sociedade contra as elites religiosas e seu domínio político na relação dos fiéis com Deus. No século 16, essa oposição fez-se contra o monopólio católico, mostrando assim que o comportamento de resistência é parte central desse segmento religioso que no Brasil, rompeu com o catolicismo, logo após a independência.

SPYER (2020), coloca que para além de tantos fatores entrementes ao universo evangélico, está a faixa etária dos fiéis, visto que os católicos são mais populares entre as pessoas com 40 ou mais anos de idade, os evangélicos, principalmente os pentecostais, atraem mais crianças e adolescentes e do ponto de vista da cor da pele, 60% declaram-se negros que são vistos pelo conservadorismo moral como incapazes, ou seja, uma pauta nociva à sociedade.

Por outro lado, percebe-se que o protestantismo prospera, aparecendo novas igrejas, principalmente nas periferias e favelas urbanas, onde competem por territórios. Mas é necessário anotar que as igrejas também desenvolvem funções relacionadas às questões da sexualidade e homoafetividade, tema não muito aceito, principalmente pelos segmentos mais tradicionais.

A sexualidade é trabalhada nos retiros, através de grupos de conselheiros que recrutam psicólogos para lidar com casais, principalmente de jovens que desejam se casar. No tocante à homoafetividade, foi a partir da metade do século 20 que teve-se na Europa e Estados Unidos da América, ordenação de pessoas LGBTQIA+ e, no Brasil, têm-se a expansão das igrejas Cristã Contemporânea e Comunidade Metropolitana que não discriminam a homoafetividade.

Outro fator importante, evidenciado no texto, é a Teologia da Prosperidade, que estimula o fiel a agir de forma empreendedora, colocando o sucesso como fruto do esforço individual do cidadão evangélico que, assim agindo, incomoda com sua ambição, os mais ricos. No entanto essa prosperidade deve ser analisada cuidadosamente, visto que as igrejas, apresentam-na de forma simplificada para conquistar o fiel.

Para SPYER (2020), a questão política e a disputa eleitoral têm força e não-dialogar com este critério é quase decretar derrota. O autor ao analisar os processos eleitorais, cita o caso do Rio de Janeiro onde um candidato de esquerda ao projetar um sentimento de superioridade moral em relação aos pobres, exigiu em debate que seu adversário (candidato evangélico), explicasse e justificasse sua candidatura, como também, deixou nas entrelinhas que ser evangélico torna a pessoa menos racional, sendo esse, um dos fatores para a derrota do candidato de esquerda.

Nesse sentido, explica SPYER (2020), a eleição de 2018, apresentou ao país, a força do voto evangélico, configurado em aproximadamente 31 milhões de eleitores com 21milhões destes, votando no candidato Jair M. Bolsonaro, ou seja, na extrema-direita e 10 milhões que votaram na esquerda. Segundo SPYER (2020), o Instituto Vox Populi, pronunciou que a parcela feminina evangélica decidiu a eleição a favor de Bolsonaro, diante da pressão que recebeu da igreja e dos familiares.

Um outro importante dado, diz respeito a aproximação entre as igrejas e seus líderes com a política partidária, construída ao longo dos anos antes da eleição. SPYER (2020), chega a afirmar que não é possível entender o Brasil contemporâneo sem levar em consideração os evangélicos pentecostais e neopentecostais.

A força e a influência desse grupo no Brasil tem a ver com seu tamanho, capacidade de articulação e coordenação, infraestrutura midiática e com o poder dos seus líderes, ou seja, a atual realidade política, econômica e social brasileira, não pode abrir mão da força dos evangélicos, visto que as igrejas têm marcado sua posição na sociedade e lograram êxito, principalmente político-econômico, ao longo das últimas décadas.


Resenha: A estigmatização territorial na idade da marginalidade avançada

Wacquant, Loïc. Parias urbains. Ghetto, banlieues, État (Paris: La Découverte, 2006). Tradução original em francês de Regina Guimarães. Revisão científica de Virgílio Borges Pereira

Em sua abordagem sobre a problemática da fixação e estigmatização territoriais do operariado, Wacquant, (2006) ressalta que as áreas habitadas - conjuntos habitacionais - pelo operariado, são vistas de forma marginalizada, ou seja, territórios isolados (periféricos), discriminados como lugares onde apenas os menos privilegiados da sociedade vivem, denominados de “baldios urbanos” na cidade pós-industrial que com todo avanço da tecnologia, tem como política, a exclusão dos trabalhadores, legando-os a sobreviverem nos territórios menos assistidos e discriminados pelo Estado e sociedade.

Wacquant, (2006), coloca que a fixação ou a permanência desses grupos na tecitura urbana, fortalecem o preconceito, a discriminação, pois são vistos como aqueles que trazem consigo uma ameaça aos espaços urbanos. Esse preconceito, descrença, vêm de todas classes sociais, profissões, da política, burocracia e mesmo da ciência que termina colocando, pobres, grupos étnicos, imigrantes, na condição de vítimas da discriminação.

Ao citar a classificação dos estigmas feita por Goffman (1963: 4-5), o autor cita que entre as marcas da estigmatização como, “raça, nação e religião”, é no tocante à religião em que o estigma territorial se aparenta mais expressivo e contaminante via linhagem familiar, afirmando que nas metrópoles, esses conjuntos habitacionais localizados nesses territórios são conhecidos como “infernos urbanos” que concentram o perigo, o vício e o abandono, e são declarados como espaços que afligem a cidade dualizada.

Wacquant, (2006), dirá que a crença preconceituosa sobre esses lugares, ocupados majoritariamente por pessoas pobres é o bastante para firmar consequências nocivas sobre a estrutura das relações cotidianas nesses espaços, mostrando quão difícil é sobreviver em um gueto proletário (periferia de Paris) onde as pessoas sentem-se culpadas, envergonhadas, dissimulam seu local de moradia e evitam receber visitas para não macularem as imagens de si próprias.

Ainda sobre a problemática territorial, Wacquant, (2006), mostra um caso aparente que acontece com os habitantes do gueto de Chicago ao negarem seu pertencimento à micro-sociedade do bairro, esforçando-se para distanciar-se da relação com o lugar e a população, vista de forma preconceituosa pela mídia, pela política e ciência que, constantemente lhes põe uma imagem humilhante.

Ao focar sobre os efeitos da estigmatização territorial, Wacquant, (2006), dirá que esses estigmas são sentidos no âmbito das políticas públicas, visto que há lugares que não são assistidos pelo Estado, sendo vistos como zona de “não-direito”, tornando-se fácil para as autoridades, marginalizar esses espaços e seus habitantes em uma aliança entre o mercado e a mídia que não se preocupam com o destino dos ocupantes desses espaços.

Ao discutir a alienação espacial e a dissolução do lugar, Wacquant, (2006), coloca que a estigmatização territorial é a dissolução do lugar, a perda de um quadro humanizado, culturalmente, mostrando que nos anos 1960, o gueto negro americano era ainda um “sítio” no sentido de lugar, coletivamente habitável, urbanamente humanizado e identificado pelos através do idioma e controle coletivo.

Segundo Wacquant, (2006), esse espaço, deixou de servir como proteção contra a insegurança, a dominação branca e as pressões do mundo exterior que, o autor vê, como um campo de batalha no seio do qual reina a competição entre vários agentes públicos e privados.

Wacquant, (2006), mostra, ao falar sobre os bairros pobres dos princípios da era fordista que, estes se configuravam como «casebres de esperança», tornando-se na idade do capitalismo desregrado “bairros de lata do desespero” da periferia urbana latino-americana com suas populações dispersas e díspares, cativas da marginalização social e espacial – “novos pobres, excluídos, underclass, jovens dos subúrbios”, e a trindade dos “sem” (sem trabalho, sem teto, sem papéis») – traduzindo bem o estado de desregulamento simbólico no qual se encontram as franjas e as fissuras da estrutura social e urbana (WACQUANT, 2006. p. 34).

Nesse sentido, Wacquant, (2006), mostra que há uma união política nos centros urbanos, entre os poderes constituídos públicos e privados que direcionam sobre os territórios ou espaços de moradia dos grupos étnicos menos favorecidos uma espécie de política de exclusão e marginalização que lhes afetam as possibilidades de ocupação (trabalho, educação, empregabilidade) e quebra da identificação com os espaços outrora conquistados e construídos para serem seus lócus de sobrevivência.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

JUVENTUDES, POLÍTICAS PÚBLICAS E SISTEMAS DE JUSTIÇA

 





TERCEIRA SESSÃO

Data 31/01/2023 e Horário 10h BR e 13h PT

Live pelo endereço: https://www.youtube.com/watch?v=Q8M6uxjGPdQ



Debatedoras  

Maria João Leote de Carvalho  

Élida Braga


“JUVENTUDE VIVA?” A juventude negra brasileira entre o genocídio e o encarceramento em massa  

 

Lucas Vieira Santos Silva - Doutorando em Sociologia PPGS/UFS.  

 

Objetivo é de demostrar como se constituiu historicamente o sistema de justiça aplicado à juventude no Brasil, demonstrando como o racismo foi um elemento importante na constituição desse sistema e, consequentemente, no modo desigual de aplicação da punição para às juventudes de nosso país. Por fim, faço uma breve análise das políticas públicas aplicada a juventude durante o período do governo petista e o impacto de tais política na dinâmica dessa relação.  

 

Jovens, estrutura das oportunidades e equívocos conceptuais na construção de políticas públicas para o segmento juvenil em Cabo Verde  

 

Redy Wilson Andrade Duarte Lima - Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais, Cabo Verde e CICS.NOVA.FCSH, Doutorando em Estudos Urbanos  

 

Entre os anos de 2007 e 2018, 56,1% dos crimes participados à polícia tinham como autores jovens dos 16 aos 30 anos e a idade média da população carcerária em 2018 era de 32 anos. Estes números suportam o discurso institucional e de vários quadrantes da sociedade civil que toma os jovens como um problema social e por isso, alvo de um conjunto de medidas políticas com vista à sua domesticação. Esta comunicação tem como objetivo discutir os mecanismos de mobilização e adesão dos jovens nos gangues de rua e do narcotráfico, bem como apontar os equívocos conceptuais na construção das políticas públicas no setor da juventude e da segurança pública.  


One size does (not) fit all: a importância de uma intervenção responsiva ao género no sistema de justiça (juvenil)

Vera Duarte – Investigadora do CICS.NOVA – Pólo de Braga e Professora Auxiliar na Universidade da Maia - ISMAI

As discussões em torno da importância de uma intervenção responsiva ao género no sistema de justiça juvenil português, ainda que não sejam propriamente novas, são recentes e ainda com pouca expressão na investigação, na política e na intervenção, ao contrário do que acontece no contexto internacional, onde este diálogo tem sido feito a par de uma investigação que tem procurado demonstrar as idiossincrasias femininas nas expressões da transgressão. O objetivo desta comunicação é, neste sentido, refletir, a partir dos resultados de um projeto de investigação desenvolvido em parceria com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, a importância de uma intervenção responsiva ao género no sistema de justiça (juvenil), problematizando a falta de consenso na resposta à questão: será que as diferenças de género justificam a utilização de avaliações de risco, instrumentos e intervenções diferenciadas?


Sistema de justiça e políticas públicas:  uma leitura a partir da criminologia crítica brasileira  

 

João Víctor Pinto Santana - Doutorando em Sociologia PPGS/UFS  

 

Atualmente, há uma crescente demanda pelo aumento do poder punitivo do Estado e este clamor social acaba atingindo significativa parcela da(s) juventude(s). Na América Latina tal cenário não é diferente. Partindo da realidade social brasileira, se faz necessário realizar um debate sobre o sistema de justiça, especialmente em relação às políticas públicas antipunitivistas (como é o caso da justiça restaurativa). Nesta perspectiva, o nosso ponto de partida é a compreensão da criminologia crítica como uma importante ferramenta de resistência ao punitivismo, através de uma leitura articulada entre projeções político-criminais e os anseios sociais dos movimentos de proteção de direitos humanos.   

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

SEMINÁRIO INTERNACIONAL JUVENTUDE(S) E CIDADANIA

Este primeiro Seminário Internacional Juventude(s) e Cidadania promovido no âmbito da interlocução entre pesquisadores e estudantes de pós-graduação do CICS.NOVA, de Lisboa, e do GERTs/UFS, de Aracaju/SE,  será realizado de forma remota (on-line) nos dia 08/11/22 – 06/12/22 – 31/01/23 (10h BR e 13h PT) e contará com três sessões atravessando os seguintes temas: Culturas Juvenis em tempos digitais; Juventudes, cidades e poder; e Juventudes, Políticas Públicas e Sistemas de Justiça. Logo traremos maiores informações sobre as participações e como assistir ao seminário.

Inscrições abertas: 

https://www.sigaa.ufs.br/sigaa/public/extensao/paginaListaPeriodosInscricoesAtividadesPublico.jsf

Coordenadores:  

Frank Marcon (GERTs/UFS) e 

Ricardo Campos (CICS.NOVA, NOVA FCSH)  





08/11/2022 - Sessão I  

 

CULTURAS JUVENIS EM TEMPOS DIGITAIS  

 

Debatedores  

José Alberto Simões

Ricardo Campos  


Link Público: https://youtu.be/Lw_cZ7doS3g 

 

 Jovens (e) programadores(as): codando novos horizontes?   


Gabriela Losekan - Doutoranda em Sociologia PPGS/UFS  

 

Considerando a internet como cultura e artefato cultural e que os seus dispositivos tecnológicos são criados por pessoas, em contextos determinados e a partir de recursos específicos, propõe-se algumas reflexões sobre juventudes, trabalho e culturas digitais a partir das interações entre jovens programadores(as), observadas durante a Conferência Python Brasil 2021, um evento organizado anualmente por voluntários da comunidade da linguagem de programação Python no Brasil.  


O meu, o seu e o nosso feminismo: uma reflexão sobre o compartilhamento de experiências em canais feministas de YouTube  

 

Juliana Rodrigues - Doutoranda em Sociologia CICS.NOVA – Lisboa  

 

Na rede, os diversos feminismos assumem diferentes roupagens e apelos de acordo com o emissor da mensagem e do ambiente de mobilização. A presente comunicação propõe uma reflexão sobre as comunidades formadas nos canais de youtubers feministas brasileiras.  


Cultura juvenil, carreira musical e precariedades: o samba como um estilo de vida intergeracional  

 

Mateus Antonio de Almeida Neto - Doutorando em Sociologia PPGS/PPGS  

 

Este trabalho tem como objetivo fomentar o debate sobre experiências musicais ligadas ao samba como um estilo de vida intergeracional vivenciado por atores sociais que se consideram jovens e periféricos, e que buscam por meio do estilo uma carreira alternativa com potencialidade de empregabilidade e autonomia a contrapelo das relações de precariedades.  

 

 

06/12/2022 - Sessão II  

 

JUVENTUDES, CIDADES E PODER  

 

Debatedores  

Frank Marcon

Otávio Raposo  

 

Acesse: https://www.youtube.com/live/cBoKclzd1PU?feature=share

 

Juventudes, Musicalidades e Sociabilidades nos Paredões de Pagode da Bahia  

 

Saionara S. Andrade dos Passos - Doutoranda em Sociologia PPGS/UFS  

 

Música e Sociabilidades em territórios marcados pela precarização e pela violência. Reflexões sobre a problemática dos estilos de vida, das práticas e das representações juvenis na atual cena cultural do Recôncavo baiano, a luz da Sociologia das Juventudes.  

 

Es Ca Ta Cre: fabulações afrofuturistas do rap kriolu cantado por mulheres das periferias de Lisboa  

 

Gabriela Leal - Doutoranda em Estudos Urbanos. CICS/NOVA - Lisboa  

 

Percorrerei o percurso teórico-metodológico de minha pesquisa de doutoramento, onde investigo a dimensão epistemológica da vida urbana junto com rappers mulheres nas periferias de São Paulo e na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Irei me deter no segundo contexto para apresentar resultados preliminares que traçam contornos das dimensões criativas e epistemológicas do rap kriolu cantado por mulheres. As narrativas e saberes produzidos por esta prática - simultaneamente urbana e estética - estão imbricados em experiências afro-diaspóricas múltiplas e fundam espaços transnacionais que fornecem ferramentas simbólicas, emocionais e sociais para suas protagonistas (re)criarem e (re)imaginarem a experiência urbana nas periferias da AML.  

 

Juventude Evangélica, Política e Território Periférico  

 

Florival José de Souza Filho - Doutorando em Sociologia PPGS/UFS  

 

Análise do processo de aproximação e inserção dos jovens moradores de periferia ao universo religioso cristão-evangélico, situando o território do bairro "Santa Maria", como lócus central da pesquisa em andamento. Nesse sentido, busco apresentar as interfaces que conduzem os/as jovens dessa periferia a tornarem-se membros ativos das Igrejas desse bairro e, assim, participando dos eventos, cultos e demais ações institucionais religiosas, formarem suas concepções políticas.  

 

31/01/2023 - Sessão III

 

JUVENTUDES, POLÍTICAS PÚBLICAS E SISTEMAS DE JUSTIÇA  

 

Debatedoras  

Maria João Leote de Carvalho  

Élida Braga


“JUVENTUDE VIVA?” A juventude negra brasileira entre o genocídio e o encarceramento em massa  

 

Lucas Vieira Santos Silva - Doutorando em Sociologia PPGS/UFS.  

 

Objetivo é de demostrar como se constituiu historicamente o sistema de justiça aplicado à juventude no Brasil, demonstrando como o racismo foi um elemento importante na constituição desse sistema e, consequentemente, no modo desigual de aplicação da punição para às juventudes de nosso país. Por fim, faço uma breve análise das políticas públicas aplicada a juventude durante o período do governo petista e o impacto de tais política na dinâmica dessa relação.  

 

Jovens, estrutura das oportunidades e equívocos conceptuais na construção de políticas públicas para o segmento juvenil em Cabo Verde  

 

Redy Wilson Andrade Duarte Lima - Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais, Cabo Verde e CICS.NOVA.FCSH, Doutorando em Estudos Urbanos  

 

Entre os anos de 2007 e 2018, 56,1% dos crimes participados à polícia tinham como autores jovens dos 16 aos 30 anos e a idade média da população carcerária em 2018 era de 32 anos. Estes números suportam o discurso institucional e de vários quadrantes da sociedade civil que toma os jovens como um problema social e por isso, alvo de um conjunto de medidas políticas com vista à sua domesticação. Esta comunicação tem como objetivo discutir os mecanismos de mobilização e adesão dos jovens nos gangues de rua e do narcotráfico, bem como apontar os equívocos conceptuais na construção das políticas públicas no setor da juventude e da segurança pública.  


One size does (not) fit all: a importância de uma intervenção responsiva ao género no sistema de justiça (juvenil)

Vera Duarte – Investigadora do CICS.NOVA – Pólo de Braga e Professora Auxiliar na Universidade da Maia - ISMAI

As discussões em torno da importância de uma intervenção responsiva ao género no sistema de justiça juvenil português, ainda que não sejam propriamente novas, são recentes e ainda com pouca expressão na investigação, na política e na intervenção, ao contrário do que acontece no contexto internacional, onde este diálogo tem sido feito a par de uma investigação que tem procurado demonstrar as idiossincrasias femininas nas expressões da transgressão. O objetivo desta comunicação é, neste sentido, refletir, a partir dos resultados de um projeto de investigação desenvolvido em parceria com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, a importância de uma intervenção responsiva ao género no sistema de justiça (juvenil), problematizando a falta de consenso na resposta à questão: será que as diferenças de género justificam a utilização de avaliações de risco, instrumentos e intervenções diferenciadas?


Sistema de justiça e políticas públicas:  uma leitura a partir da criminologia crítica brasileira  

 

João Víctor Pinto Santana - Doutorando em Sociologia PPGS/UFS  

 

Atualmente, há uma crescente demanda pelo aumento do poder punitivo do Estado e este clamor social acaba atingindo significativa parcela da(s) juventude(s). Na América Latina tal cenário não é diferente. Partindo da realidade social brasileira, se faz necessário realizar um debate sobre o sistema de justiça, especialmente em relação às políticas públicas antipunitivistas (como é o caso da justiça restaurativa). Nesta perspectiva, o nosso ponto de partida é a compreensão da criminologia crítica como uma importante ferramenta de resistência ao punitivismo, através de uma leitura articulada entre projeções político-criminais e os anseios sociais dos movimentos de proteção de direitos humanos.   


 Painel em frente ao Centro de Juventude Carabanchel - Madrid. Fotografia de Frank Marcon (2022)