O objetivo do presente texto é compartilhar com os colegas do Gerts o estado atual da pesquisa que desenvolvo junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Sergipe (NPPA/UFS).
No dia 26/08/2011, uma banca de qualificação aprovou minha proposta anterior (“A Antropologia da Ayahuasca”), mas apontou uma série de questões que precisavam ser revistas e que redundaram na atual proposta. As principais e necessárias mudanças dizem respeito a aspectos metodológicos. Vejamos um trecho do resumo da proposta que a banca aceitou sob a condição de eu realizar um aprofundamento de meu interesse que saliente os limites daquilo que problematizo:
Nesse estudo procuramos observar de que forma a Antropologia, como uma dentre as ciências que acompanham a expansão mundial dos novos usos do chá, se posiciona diante da problemática. Como foi construída a autoridade antropológica no Brasil que fundou um campo internacional comum de interesses? Procuramos apontar de que forma a autoria e os textos antropológicos se transformam em ferramentas que auxiliam na legitimação contemporânea dos novos usos da ayahuasca. (Trecho do Resumo de “A Antropologia da Ayahuasca”).
Eu havia realizado até então um levantamento de indivíduos que têm titulação na área de Antropologia e que publicaram estudos sobre o uso ritual da ayahuasca porque pensava que uma análise de seus discursos poderia me fornecer aquilo que eu buscava: uma lógica de enunciação fundamentadora da legitimação social da prática. Como não fui criterioso no meu planejamento, construí um quadro com 74 indivíduos, de diversos países, cujos perfis diziam respeito aos dois critérios apresentados (título de antropólogo e trabalhos sobre uso ritual da ayahuasca), que no final se mostrou inútil. Eu aprendi, sentindo na pele, que o primeiro passo para uma boa pesquisa se encontra na elaboração de um bom planejamento. A única coisa que pude deduzir desse quadro com 74 antropólogos é que eu precisava de critérios mais firmes para conseguir entender qualquer coisa a respeito do campo de estudos antropológicos sobre a ayahuasca.
Encontrei a possibilidade de exercitar esses critérios olhando para um ponto específico no quadro que eu já sabia antes que existia e que, caso tivesse enveredado inicialmente por esse caminho, poderia ter evitado muita energia despendida em torno de um problema de pesquisa mal elaborado: o fato é que alguns pesquisadores têm posturas “ativistas” com relação ao uso contemporâneo de psicoativos (inclusive a ayahuasca), defendendo o fim da proibição do uso de diversas substâncias consideradas ilícitas (como a ayahuasca também já foi).
A solução que encontrei para os problemas metodológicos de uma proposta generalista foi focalizar esse aspecto envolvido nos estudos antropológicos sobre ayahuasca: a perspectiva antiproibicionista assumida por diversos pesquisadores. Nesse cenário “antiproibicionista”, uma instituição brasileira tem papel central: o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip). Dos sete fundadores do núcleo, quatro são antropólogos: Edward Macrae, Beatriz Labate, Mauricio Fiore e Sandra Lucia Goulart. Apenas Fiore não estuda o uso ritual da ayahuasca.
Basicamente, minha proposta continua a mesma: compreender o campo de interesses sobre o tema a partir da análise de textos essenciais nesse cenário (textos de três fundadores do Neip que são antropólogos e que estudam o uso ritual da ayahausca). A diferença é que aplico agora critérios mais definidos. Sobre a fundamentação teórica, a título de exemplos, priorizo: i) autores da autocrítica antropológica a partir dos anos 1980 (Clifford Geertz, James Clifford, George Marcus), ii) autores que exploram os limites da autoria diante do discurso (Mikhail Bakhtin, Michel Foucault, Roland Barthes) e iii) autores que me auxiliem a pensar o Neip como instituição (Max Weber, Eric Hobsbawn).
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