Juliana Almeida, Gregorio Cerqueira e Mirtes Rose Menezes
APPADURAI,
Arjun. Etnopaisagens globais:
notas e perguntas para uma antropologia transnacional. In: Dimensões culturais da
globalização. Lisboa:
Teorema, 2004.
Appadurai utiliza um
neologismo – etnopaisagem - para abrir a discussão a respeito das etnografias. A
forma como o autor coloca, permite verificar o “ângulo” do qual esses trabalhos
tão freqüentes na Antropologia são elaborados. A que medida a posição do
observador é modificada a forma de ver o objeto (grupo) a ser estudado é
modificado, as representações são modificadas. À medida que o grupo também muda,
sejam essas mudanças sócio-espaciais e cultural na perspectiva da identidade, todas
as representações se configuram em novas, colocando o trabalho etnográfico sem
bases concretas que o sustente. Preocupado com essas mudanças dentro do binômio
tempo/espaço, o autor faz analises, a cerca dos desafios e da posição do que
ele chama de cosmopolitismos etnográfico, onde a partir dessa visão o produto
cultural, é resultado de um processo de desterritorialização que vai além dos
limites e das fronteiras políticas dos territórios físicos. Esse processo de
desterritorialização alimenta o imagético, principalmente daqueles que deixaram
os seus territórios, abrindo uma possibilidade de apropriação do capital para
realizar essa fantasia de levá-los a “terra dos seus sonhos”.
Mediante
ao que foi exposto, Appadurai faz uma analise dos estudos culturais em terreno
global, pois a cultura constitui-se em um conceito central na Antropologia.
Para que os antropólogos possam entender o mundo dentro desse contexto de
desterritorialização, tem que extrapolar as fronteiras da etnografia
tradicional, fazendo as suas constatações em um campo global, sem as
delimitações, mas vivido e onde as relações acontecem. Para tanto, Appadurai,
esclarece mencionando a importância dos meios de comunicação de massas que nos
coloca em contato com o “mundo” gerando dessa forma a introdução de elementos
(não pertencentes as suas estruturas originais), mas que alteram a existência
local. Para melhor compreensão, o auto, cita três exemplos: o primeiro, uma
visita a Índia, acompanhado por sua companheira que é norte americana, o filho
mais novo, o irmão e outros membros de uma comitiva que faziam parte de um
ritual, para o casamento da sua sobrinha, para a consolidação da suas analises
a cerca das desterritorialidades e da etnografia cosmopolita as imagens formuladas
eram bem diferentes da realidade.
No
segundo exemplo, Appadurai cita um conto de Cortázar, onde é narrado o esforço
do atleta com relação as piscinas. É um exemplo baseado nas “forças” que
tencionam a chegada da superação ou as limitações impostas pela natureza com
relação ao fluxo de ir e vir, mas que para atingir o objetivo, muitos atletas
acabam acarretando sérios problemas ou indo ao óbito. Quando nos remetemos ao
campo das relações culturais, percebemos como os fatos podem ganhar certas
conotações a depender da localidade o qual estão inseridos e dessa forma se
justificam as singularidades. No terceiro e ultimo exemplo, o cinema entra em
cena com India Cabaret, que narra a historias das mulheres que migram dos seus
territórios e tornam-se dançarinas. O mais importante para Appadurai, é a forma
como o filme expõe a imaginação dessa mulheres, no que diz respeito à nova vida
fora do seu território contribuindo para essa visão de mundo
desterritorializado.
Algumas reflexões foram feitas conduzidas
pelo texto de Arjuna Apadurai: o termo etnopaisagem
é usado para se referir aos velhos
dilemas da antropologia, como a influencia das tradições de percepção e
perspectivas e o local do observador para o processo de produção das
representações, somado com as novas configurações sociais em mudança. Esse
processo de mudança, influenciados pela globalização, coloca os grupos sociais
em desterritorialização que afeta diretamente, segundo Appadurai, a base da
representação cultural. Aponta ainda, uma nova dimensão deve ser estudada pelo
antropólogo: a influência do cosmopolismo.
Dessa forma a antropologia e a etnografia
se encontram diante de um desafio metodológico: como trabalhar a produção das
representações em culturas deslocadas? Existe um esforço da etnografia para
aperfeiçoar sua metodologia nesse novo cenário, entretanto para o autor não é o
bastante, segure mudanças mais estruturais e sugere ainda uma etnografia
genuinamente cosmopolita. Outro ponto que Appadurai levanta é o espaço que a
imaginação tem ganhado na vida das pessoas e consequentimente na realidade
social. Antigamente a imaginação só serviria como fuga da vida real, mas com o
desenvolvimento da mídia e os meios de comunicação de massa associados às
possibilidades de consumo, ambos os frutos do capitalismo global,
proporcionaram a realização de ações que se restringiam ao mundo das idéias.
Do modo como o autor ressalta o
crescimento da importância da imaginação pode-se pensar que a representação da
vida social, que é uma idéia, ganha mais foças nas áreas que tratam da
imaginação como a arte de forma geral e a literatura especificamente, que de
certa forma reforça o que os estudos culturais vem utilizando e de certa forma
o autor coloca que os estudos culturais está na frente da etnografia para
compreender dilemas da representação sociais na atualidade.
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