sexta-feira, 10 de maio de 2013

RESENHA SOBRE O FILME "ENTRE NESSA DANÇA"

Por Sérgio da Silva Santos

            O filme “Entre Nessa Dança” ou “You Got Served”, no original, nos traz uma relevante mostra sobre o estilo de vida de jovens da periferia norte-americana. O filme se passa em um bairro da periferia de Los Angeles e retrata o cotidiano dos jovens desse bairro, em torno da violência, do trafico de drogas, das gangs e principalmente da cultura Hip Hop.
O Hip Hop é um movimento cultural juvenil presente em diferentes metrópoles mundiais. Historicamente ele surgiu no barro nova-iorquino do Bronx. No final dos anos 70, jovens afro-americanos e caribenhos tiveram participação decisiva em sua constituição. A dança break, a arte visual, materializada no grafite, e o rap como expressão poético-musical integraram-se como parte deste sistema cultural juvenil. (SILVA, 1999)
A primeira questão chama a atenção no filme, são os diálogos constantes entre os personagens sobre as incertezas entorno do futuro. Entendemos que tais diálogos tiveram o objetivo de retratar uma realidade comum entre os jovens negros americanos. A questão do acesso ao emprego e a garantia de uma qualidade de vida é enfatizada no muitas vezes filme. As incertezas são apresentadas e articuladas com a necessidade de uma auto-afirmação dos jovens diante de seus pares, como também a necessidade de garantir a sobrevivência através do dinheiro. Sendo assim, o envolvimento com o trafico de drogas, reflete para aqueles jovens, como uma possibilidade de garantir, mesmo que de modo momentâneo, uma sobrevivência no cotidiano em que estão inseridos.
O filme mostra o potencial da rua como um espaço de socialização e sociação. Nesse sentido, podemos nos referir a Georg Simmel que enfatiza que as formas e processos de sociação são diversas, pluridimensionais e menos duradouras que outrora. (SIMMEL, 2006) Sendo assim, o filme desperta a possibilidade de pensarmos sobre a complexidade da vida no espaço da rua. Para Simmel,

A sociabilidade cria, caso se queira, um mundo sociologicamente ideal: nela, a alegria do individuo está totalmente ligada à felicidade dos outros. Aqui, ninguém pode em princípio encontrar sua satisfação à custa de sentimentos alheios totalmente opostos aos seus. Essa possibilidade é excluída por várias outras formas sociais que não a sociabilidade. Em todas elas, contudo, essa exclusão se dá por imperativos éticos superimpostos. Somente na sociabilidade ela é dada por princípios intrínsecos da própria forma social. (SIMMEL, 2006, p. 69-70)

Nesse sentido, o filme apresenta duas  possibilidades de reflexão sobre as formas de expressões dos jovens. Primeiro, pensando sobre as gangs e, segundo, sobre os grupos de hip hop. As gangs são mostradas no filme de forma distante, sem destaque. Algumas passagens do filme tratam sobre o assunto. A principal passagem sobre as gangs aparece em torno de um personagem que é uma criança. O dialogo de um jovem com essa criança, dá a ideia de que o hip hop é uma alternativa para sair do mundo das gangs. Mesmo essa criança acompanhando as atividades de dança que o filme enfatiza em relação ao Hip Hop, esta personagem acaba tendo sua vida influencia pela atuação das gangs, sendo morta após troca de tiros.
No filme, a dança break é para aqueles jovens a forma mais próxima de manterem-se ligados. Mesmo compartilhando de um mesmo estilo de vida, os jovens são apresentados no filme em constantes conflitos, seja de natureza familiar, de relacionamento e principalmente em torno do dinheiro, como também a partir dos duelos entre os grupos de break, que realizam batalhas nas quais vence aquele grupo que desenvolve a melhor performance de movimentos.
.          O dinheiro entra neste contexto desde o começo do filme. O estilo de vida dos jovens acaba, mesmo que de forma indireta, fomentada pela busca de uma afirmação, que passa necessariamente pelo dinheiro e pelo estatuto de se tornarem vencedores nas disputa de break. O filme tenta passar a ideia de que as coisas estão voltadas para a disputa, seja a do melhor movimento da dança Break ou de acesso aos recursos possibilitados pelo dinheiro.
O filme é romântico, quando desenrola sobre a vida de jovens na periferia, já que ele não tem o objetivo de mostrar a fundo uma realidade de inúmeros problemas sociais, apenas dando-nos elementos ou nuances deste contexto. A cultura Hip Hop está presente nas grandes metrópoles do mundo e como tal também passa por um processo de “cooptação” pela indústria cultural. O filme mostra muito bem isso. No final do filme, o dinheiro e a fama movem os jovens para uma disputa por 50 mil dólares e a gravação de um clip, com uma artista já consagrada do hip hop americano. Nos EUA é muito forte a capitalização em torno da cultura hip hop, que desde meados dos anos 90 passou a ser extremamente explorada pelo viés comercial.
Sendo o Hip Hop uma cultura vinda de baixo, sendo uma das principais fontes de divulgação de uma cultura e estilo de vida de jovens americanos da periferia, torna esse assunto um tanto complexo. Talvez, esse processo tenha sido influenciado pelo surgimento dos EUA como potencia mundial e como centro de produção e circulação de cultura. (HALL, 2003) Afinal, a cultura hip-hop americana passou a ser uma referencia para jovens de outros países, reproduzidas através inúmeros produtos culturais, como é o caso do filme em questão.

Referências:

HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Organização: Liv Sovik; tradução: Adelaine La Guardia Resende...[et al]. – Belo Horizonte: editora UFMG, 2003.
SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia: individuo e sociedade. Tradução: Pedro Caldas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

Link para assistir o Filme "Entre Nessa Dança":  http://www.youtube.com/watch?v=pVEZK_CL6bw

Nenhum comentário: