Por Sérgio da Silva Santos
O filme
“Entre Nessa Dança” ou “You Got Served”, no original, nos traz uma relevante
mostra sobre o estilo de vida de jovens da periferia norte-americana. O filme
se passa em um bairro da periferia de Los Angeles e retrata o cotidiano dos
jovens desse bairro, em torno da violência, do trafico de drogas, das gangs e
principalmente da cultura Hip Hop.
O Hip
Hop é um movimento cultural juvenil presente em diferentes metrópoles mundiais.
Historicamente ele surgiu no barro nova-iorquino do Bronx. No final dos anos
70, jovens afro-americanos e caribenhos tiveram participação decisiva em sua
constituição. A dança break, a arte visual, materializada no grafite, e o rap
como expressão poético-musical integraram-se como parte deste sistema cultural
juvenil. (SILVA, 1999)
A
primeira questão chama a atenção no filme, são os diálogos constantes entre os
personagens sobre as incertezas entorno do futuro. Entendemos que tais diálogos
tiveram o objetivo de retratar uma realidade comum entre os jovens negros
americanos. A questão do acesso ao emprego e a garantia de uma qualidade de
vida é enfatizada no muitas vezes filme. As incertezas são apresentadas e
articuladas com a necessidade de uma auto-afirmação dos jovens diante de seus
pares, como também a necessidade de garantir a sobrevivência através do
dinheiro. Sendo assim, o envolvimento com o trafico de drogas, reflete para aqueles
jovens, como uma possibilidade de garantir, mesmo que de modo momentâneo, uma
sobrevivência no cotidiano em que estão inseridos.
O filme
mostra o potencial da rua como um espaço de socialização e sociação. Nesse
sentido, podemos nos referir a Georg Simmel que enfatiza que as formas e
processos de sociação são diversas, pluridimensionais e menos duradouras que
outrora. (SIMMEL, 2006) Sendo assim, o filme desperta a possibilidade de pensarmos
sobre a complexidade da vida no espaço da rua. Para Simmel,
A sociabilidade cria, caso se queira, um
mundo sociologicamente ideal: nela, a alegria do individuo está totalmente
ligada à felicidade dos outros. Aqui, ninguém pode em princípio encontrar sua
satisfação à custa de sentimentos alheios totalmente opostos aos seus. Essa
possibilidade é excluída por várias outras formas sociais que não a
sociabilidade. Em todas elas, contudo, essa exclusão se dá por imperativos
éticos superimpostos. Somente na sociabilidade ela é dada por princípios
intrínsecos da própria forma social. (SIMMEL, 2006, p. 69-70)
Nesse
sentido, o filme apresenta duas possibilidades
de reflexão sobre as formas de expressões dos jovens. Primeiro, pensando sobre
as gangs e, segundo, sobre os grupos de hip hop. As gangs são mostradas no
filme de forma distante, sem destaque. Algumas passagens do filme tratam sobre
o assunto. A principal passagem sobre as gangs aparece em torno de um
personagem que é uma criança. O dialogo de um jovem com essa criança, dá a
ideia de que o hip hop é uma alternativa para sair do mundo das gangs. Mesmo
essa criança acompanhando as atividades de dança que o filme enfatiza em relação
ao Hip Hop, esta personagem acaba tendo sua vida influencia pela atuação das
gangs, sendo morta após troca de tiros.
No
filme, a dança break é para aqueles jovens a forma mais próxima de manterem-se
ligados. Mesmo compartilhando de um mesmo estilo de vida, os jovens são
apresentados no filme em constantes conflitos, seja de natureza familiar, de
relacionamento e principalmente em torno do dinheiro, como também a partir dos
duelos entre os grupos de break, que realizam batalhas nas quais vence aquele
grupo que desenvolve a melhor performance de movimentos.
. O dinheiro entra neste contexto desde o começo
do filme. O estilo de vida dos jovens acaba, mesmo que de forma indireta,
fomentada pela busca de uma afirmação, que passa necessariamente pelo dinheiro
e pelo estatuto de se tornarem vencedores nas disputa de break. O filme tenta
passar a ideia de que as coisas estão voltadas para a disputa, seja a do melhor
movimento da dança Break ou de acesso aos recursos possibilitados pelo
dinheiro.
O filme
é romântico, quando desenrola sobre a vida de jovens na periferia, já que ele não
tem o objetivo de mostrar a fundo uma realidade de inúmeros problemas sociais,
apenas dando-nos elementos ou nuances deste contexto. A cultura Hip Hop está
presente nas grandes metrópoles do mundo e como tal também passa por um
processo de “cooptação” pela indústria cultural. O filme mostra muito bem isso.
No final do filme, o dinheiro e a fama movem os jovens para uma disputa por 50
mil dólares e a gravação de um clip, com uma artista já consagrada do hip hop
americano. Nos EUA é muito forte a capitalização em torno da cultura hip hop,
que desde meados dos anos 90 passou a ser extremamente explorada pelo viés
comercial.
Sendo o
Hip Hop uma cultura vinda de baixo, sendo uma das principais fontes de
divulgação de uma cultura e estilo de vida de jovens americanos da periferia,
torna esse assunto um tanto complexo. Talvez, esse processo tenha sido
influenciado pelo surgimento dos EUA como potencia mundial e como centro de
produção e circulação de cultura. (HALL, 2003) Afinal, a cultura hip-hop
americana passou a ser uma referencia para jovens de outros países,
reproduzidas através inúmeros produtos culturais, como é o caso do filme em
questão.
Referências:
HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades
e mediações culturais. Organização: Liv Sovik; tradução: Adelaine La Guardia Resende.. .[et
al]. – Belo Horizonte: editora UFMG, 2003.
SIMMEL, Georg. Questões
fundamentais da sociologia: individuo e sociedade. Tradução: Pedro Caldas. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
Link para assistir o Filme "Entre
Nessa Dança": http://www.youtube.com/watch?v=pVEZK_CL6bw
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