por Sandreana Melo*
Para Schwarcz, entender as vigências
e absorção das teorias raciais no país se faz necessário para refletirmos sobre
a originalidade do pensamento racial brasileiro no esforço de adaptação “ao
modelo de sucesso Europeu” dos oitocentos, no que diz respeito ao ideal
civilizatório. Apesar de chegar tarde ao Brasil, as teorias raciais são
acolhidas com entusiasmo pela reduzida elite pensante nacional dos diversos
estabelecimentos de ensino e pesquisa da época.
Os denominados “homens de ciência” foram
incumbidos da missão de refletir sobre a nação Brasileira, seu futuro e seus
impasses, definidos como intelectuais que lutavam “pelo progresso scientífico
do país” (p. 37). Eram eles: Manoel de Oliveira Lima, do IAGP, Francisco José
de Oliveira Viana, do IHGN, Tobias Barreto, da Faculdade de Direitos de Recife,
Silvio Romero, da Faculdade de Direito de Recife, João Bapistista Lacerda, do
Museu Nacional, Raimundo Nina Rodrigues, da Faculdade de Medicina da Bahia,
Euclides da Cunha, do IHGB, Edgard Roquete Pinto, do Museu Nacional, Herman Von
lhering, do Museu Paulista, Oswaldo Cruz, da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, Miguel Pereira, da Academia de Medicina do Brasil, A. A. de Azevedo
Sodré, da Faculdade de Medicina do Rio do Janeiro.
As teorias raciais europeias como o
evolucionismo, o positivismo, o naturalismo, o social darwinismo, começam a
difundir-se a partir dos anos de 1870. Estas teorias passaram por adaptações, sendo
atualizadas de acordo com o contexto político e social brasileiro, ou seja, os
intelectuais da época aproveitavam o que imaginavam combinar com o país e
descartaram o que, de acordo com Schwarcz, era problemático para a construção
de uma argumentação racial sobre a nação.
As teorias raciais de então, se
transformam em um argumento de sucesso para o estabelecimento de critérios diferenciadores
de cidadania, bem como meio de pensar um projeto civilizatório para o país, além
de legitimaram as diferenças sociais da antiga ordem escravocrata.
Conforme Schwarcz, os “homens de
Sciencia”, também chamados como “Novos ricos da cultura” por Antonio Candido (1988,
p. 30), tenderam a adotar os modelos evolucionistas e em especial o
social-darwinista, já bastantes desacreditados no contexto europeu da época.
Esses grupos de intelectuais passaram a fazer do ecletismo e da leitura e
interpretação de textos e manuais positivistas e darwinistas sua atividade
intelectual por excelência.
O que é observado pela autora não é tradução
aparentemente aleatória de pensadores estrangeiros, mas o trabalho de seleção
realizado por eles sobre as teorias estrangeiras. As teorias adotadas no Brasil
não foram “fruto da sorte”, mas, introduzidas de forma crítica e seletiva, como
instrumento de respaldo conservador e autoritário sobre as hierarquias sociais
já fortemente constituídas no país. (Ventura, 1988, p. 7, apud Schwarcz, p..42).
Enfim, as construções teóricas dos “homens de
sciencia”, tiveram como principio representar uma solução original aos
problemas e ao destino do Brasil. Os modelos teóricos adotados por esses “novos
ricos da cultura”, simbolizavam “uma nova forma secular, materialista e moderna
– de compreensão do mundo” (p.41). E um dos pontos importantes da reflexão da
autora, é que a implementação desses modelos no país seria uma aproximação imaginária
com o mundo europeu sinônimo de “progresso e de civilidade” para as elites
políticas e intelectuais brasileiras. Ao mesmo, tempo que apesar do descrédito
dessas teorias, no Brasil elas serviriam como justificativas teóricas para a “manutenção
das práticas imperialistas de dominação” (p.30), e legitimação das consequentes
diferenças sociais e econômicas do país.
Schwarcz,
Lilia Moritz, Espetáculos das Raças:
cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.
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