quinta-feira, 31 de maio de 2012

“Notas sobre subcultura, estilos de vida e juventude”


Franklin Timóteo Souza do Espírito Santo
Jefferson Dantas Santos

Para esclarecimento temporal e analítico não existe um conceito de subcultura, e logo, esse passara, mesmo sem uma definição concebida, por diversas modificações ao longo do tempo, sendo amplamente discutido a partir das perspectivas dos Estudos Culturaisdo CCCS — Centre for Contemporary Cultural Studies — da Escola de Birmingham no final dos anos 70, nunca tendo perdido suas relações entre cultura, comunidade, massas e sociedade como “estilos de vida”. As subculturas acabam adquirindo essa característica de alteridade. O atributo definidor das ‘subculturas’, então, reside na maneira como a ênfase é colocada na distinção entre um grupo cultural - social particular - e uma cultura. A ênfase é na variação de uma coletividade maior que é invariavelmente, mas não sem problemas, posicionada como normal, mediana e dominante. Subculturas, em outras palavras, são condenadas a desfrutarem uma consciência da ‘alteridade’ ou diferença (GELDER e THORNTON, 1997).
Com a materialização dos Estudos Culturais e, concomitantemente, seus quadros analíticos favoráveis para investigações sociais, o papel da significação passa abranger valores culturais e políticos.  Dentre tantas possibilidades, a cultura passa a ser a mediadora de canais comunicativos possibilitando trabalhos mais consistentes epistemologicamente. Nesse processe onde se vê a “institucionalização” das produções culturais, seja essa artística ou intelectual, é circunscrita uma análise “moral” das tensões e distinções de aceitação e pertencimento de valores, probabilizando imposições e subjetividades acerca desse “eu”, sujeito” e o (re) conhecimento de seus processos de socialização.
            Logo, inserindo-nos dentro das diversas análises sobre estudos que contemplem objeções à juventude, observa-se que assim como explana Campos (2010), a juventude vem ocupando um lugar significativo nas produções acadêmicas, nos discursos políticos e nos conteúdos midiáticos.  Entretanto, salienta-se na visão do autor que o crescimento que a esfera visual-midiática assumiu em registros teóricos é explicada a partir da resistência simbólica das distinções de classe. O “exotismo visual” e agregador de imagens desses grupos (mods, skinheads, teds, rastas, etc) os enquadra coletivamente, sendo tais aferições identificadas como elementos chave para decodificação de dinâmicas conflituaise distinções entre os próprios grupos.
            A percepção desses mecanismos de representação como ações coletivas das quais as comunidades e grupos sociais outorgam sentidos ao mundo está intimamente ligada ao discurso; à sistemas de linguagens. Assim, a juventude enquanto signo com elevado valor comercial e simbólico é permanentemente reinventada ao saber das lógicas comerciais, tendências estéticas e ideológicas do momento (Campos, 2010). As culturas juvenis parecem singularmente vocacionadas para ensaiarem “novos idiomas” mais apropriados a uma condição contemporânea vivida no imediatismo e na efemeridade; formatos expressivos e mais criativos; móveis e lúdicos – em ruptura com as instituições formais. O corpo, a cidade, passam a ser entendidos para Campos (2010) como espaços de autonomia e reivindicação revelando telas expressivas de vontades, e não devemos assim, ignorar os muitos atos estratégicos dessas energéticas produções culturais.
            Mas como perceber o que assenta essas produções culturais? É possível formular um quadro analítico acerca das relações fluidas entre aspectos de pertencimento da juventude, como: música, juventudes e novos estilos?Bennett (1999) propôs o conceito de “neo-tribalismo” para interpretar as novas tendências significadas a partir do pós-guerra, caracterizados pela amostragem em termos e estilos musicais(Ex: rock progressivo e bhangra). As subculturas eram vistas como o desmembramento de tradições comunitárias a partir de práticas coletivas a partir do resultado do desenvolvimento urbano da década de 1950.  A função que engendra a subcultura, mesmo que “mágica”, tenta resolver as contradições ocultas e não resolvidas nas esferas sociais ocidentais.
            No que se entende entre as considerações de Bennet (1999) as subculturas formam partes de uma contínua luta da classe trabalhadora contra as circunstâncias socioeconômicasde sua existência, e como resistência plena , tais subculturas expressam-se de maneiras distintas e instantâneas.  Uma análise expressiva que enquadraria os “estilos de vida” permite que esse, seja um “jogo livremente escolhido” e não deve ser confundido como um “modo de vida”tipicamente associado a uma comunidade.  O conceito de estilo de vida enviesa-se a partir do princípio que tais participantes passaram frequentemente um processo seletivo de um “estilo de vida”independentemente de uma classe social específica ou de valores ideológicos que caracterizem valores tradicionais.
A partir de tal premissa, os grupos que tradicionalmente veem sendo caracterizados como representantes de uma subcultura de coerência relevante, passam a ser melhores compreendidos a partir de uma série de encontrostemporais caracterizadas por fronteiras fluídas e associações flutuantes. Como exemplo, Bannet (1999) traduz acepções sobre os estilos musicais, entendo que esses, que se caracterizam pela misturais de “sons” e “visuais”são exemplificados pelo ecletismo essencial do pós-guerra. A cultura jovem, portantonos obriga a buscar uma (re) visãodas nossas formas de compreensão do mundo e de como os jovens tem, tipicamente,a relação com gostos; estilos musicais, associações coletivas e novos discursos.
Parao que compreende o pensamento de Hebdige (1979) até a década de 1920 não existira análises metodológicas acerca da subcultura. A grande quebra de paradigmas acontece com a observação participante que trouxe para o entendimento e fomentação de tal conceito descrições mais interessantes e sugestivas para a subcultura. Assim, as subculturas para Hebdige (1979) são geográficas e biográficas, poisse transmitem através de diversos “canais” como a escola, a família; os meios de comunicação.  As subculturas representam um caminho simbólico à ordem simbólica, pois seu surgimento vem acompanhado por grande influência dos meios de comunicação de massa.
O que traria a visibilidade às subculturas para Hebdige (1979) são as inovações estilísticas. Com essa ampliação, a subcultura pode transforma-se comercialmente à medida que seus idiomas “visuais” e “verbais” tornam-se mais familiares.  A convenção desses “signos culturais” (Foucault, 2007) como roupas e músicas, por exemplo,passam a nomenclaturara conduta dos grupos à ordem coercitiva e judicial, sendo esses, acusados analiticamente como desviantes de valores “normais” da sociedade.

Referências
 
BENNETT, Andy. Subcultures or Neo-Tribes?Rethinking the Relationship between Youth, Style and Musical Taste.Sociology1999 33: 599.(British SociologicalAssociation).

CAMPOS, Ricardo. Juventude e visualidade no mundo contemporâneo. Uma reflexão em torno da imagem nas culturas juvenis.  SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 63, Lisboa, 2010, pp. 113-137.Connecticut: WesleyanUniversity Press, 1996.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Tradução: Salma TannusMuchail – 9ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Coleção Tópicos).

GELDER, Ken, THORNTON, Sarah (ed.). The subcultures reader. London: routledge, 1997.

HEBDIGE, Dick (1979). Subcultura. El significado del estilo. Barcelona: Paidós, 2004.
THORNTON, Sarah. Club cultures.Music, media and subcultural capital.

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