terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Sociedade do Consumo

BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Edições 70:Lisboa, 1995.

Apresento Jean Baudrillard, sociólogo e filósofo francês, falecido em 2007, cujo trabalho foi dedicado à análise da sociedade contemporânea partindo do princípio de uma realidade construída (hiper-realidade), em que a cultura de massa produz esta sensação de realidade virtual. Nascido em Reims, na sequência de um doutorado em sociologia foi professor desde 1966 na Universidade de Nanterre (Universidade de Paris X).
Detalhando a obra do autor, o termo consumo é recorrente nas suas análises da vida cotidiana. A sociedade de consumo é um termo utilizado na economia e sociologia, para designar todo tipo de sociedade que corresponde com uma avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços, disponíveis graças a produção massiva dos mesmos. O conceito de sociedade de consumo está atrelado ao conceito de economia de mercado que encontra equilíbrio entre oferta e demanda através da livre circulação de capital, produtos e pessoas, sem intervenção estatal.
A sociedade de consumo, como afirma Baudrillard (1995) mostra um mundo atual em que estamos totalmente rodeados por objetos, não de homens. O ser humano, apesar de ser criador de seus utensílios, apesar de ter o poder de criá-los, se sente dominado por eles. Vivemos por e para os objetos. O mundo em que vivemos está controlado por máquinas, elevadores que nos levam de um andar a outro, eletrodomésticos, a televisão que nos distrai de outros afazeres mais importantes etc. Embora não saibamos, somos totalmente escravos e dependentes das máquinas e dos objetos.
Uma das características dos objetos é sua abundância. Existem objetos para todos os gostos e para todos os usos. Todos os objetos que nos rodeiam são expoentes da abundancia, a falta da escassez. Outra importante característica do mundo dos objetos que nos rodeiam é sua distribuição em grupos. Por exemplo, os veículos, os alimentos, os eletrodomésticos…sempre estão acompanhados de outros objetos. Nesse sentido o objeto atua como significante e não como significado. O consumidor percebe o objeto não pela função que cumpre, mas pelo que significa para ele adquirir esse objeto por concreto em um tempo determinado.
Para se tornar um objeto de consumo, o objeto tradicional deve ser convertido em um signo que é carregado de conotações pessoais decorrentes da utilização, da interação com o objeto. Para Baudrillard, o consumo é, pelo que representa socialmente, uma ordem de manipulação de signos, ao ponto de converter-se na negação da realidade sobre a base de uma apreensão ávida e multiplicada de seus signos. O objeto do consumo é antes de tudo um signo que cumpre uma função de representação social que configura o status de pessoa e que de alguma maneira alheia da realidade.
A nossa capacidade de consumo é tal (o consumo de ideias), que todo instante existem várias campanhas publicitárias em que apenas mencionam o nome de um novo produto qualquer, sem informar do que se trata, gerando a necessidade de consumi-lo. Desta forma, surge um novo léxico idealista de signos, que representa o próprio projeto de vida. Nossa vida é consumir: o projeto está satisfeito com a sua aplicação através do consumo. E como a nossa vida é para consumir, o consumo não tem limites.
Os objetos se transformam em signos, de modo a se tornar objetos de consumo que em contraste com o símbolo, carece de significado dado pelo uso. Seu significado é arbitrário, pois é dado pela relação abstrata com outros signos. Entretanto, o consumo não é entendido somente por objetos, mas se estende ao campo dos sentimentos humanos. Baudrillard observa que as relações humanas são “consumidas” e “aniquiladas” através do consumo que atualmente, evoca todos os desejos, projetos, demandas, todas as paixões e todos os relacionamentos incorporados em signos e objetos a serem comprados e consumidos.
Na sociedade de consumo a realidade é um local onde apenas a ideia será consumida, a cultura da ideia de cultura, e não ela, ou a ideia de revolução, mas não a própria revolução. A nossa dinâmica existencial consiste na sistemática, e por tempo indeterminado, de objetos de consumo. Nesse sentido, afirma o autor que pensar, na ideia de consumo moderado, é assumir um moralismo ingênuo ou absurdo, pois o consumo como é concebido se torna um obstáculo ao progresso, baseando-se na fragilidade do efêmero, escondendo reais conflitos que afetam todos os indivíduos.
Segundo Baudrillard, o crescimento de uma sociedade tem relação direta com a manutenção de uma desigualdade social. A necessidade de manter uma ordem social da desigualdade, uma estrutura de privilégio, é o que produz e reproduz o crescimento como elemento estratégico. Assegura o autor que o crescimento não é símbolo de abundância, mas, pelo contrário, depende da miséria e da desigualdade entre as pessoas.
À guisa de conclusão, percebo que o drama “da alienação”, que sob a influência de movimentos marxistas, havia encorajado a sociedade no início do século XX, foi substituída, por uma ideologia centrada num mundo contemporâneo caracterizado por um processo de desmaterialização da realidade: o olhar do homem não é mais dirigido para a natureza, mas as telas de televisão, pois a comunicação tornou-se um fim em si mesmo e um valor absoluto.

By Mesalas Santos

4 comentários:

Diogo Monteiro disse...

Texto muito interessante "A Sociedade do Consumo" de Jean Baudrillard.Ele apresenta de maneira clara o conceito de "sociedade de consumo". Porém, considero muito conservadora e até mesmo retrograda a idéia de que o crescimento da sociedade é consequência direta da manuntenção da desigualdade social. Penso e a a experiência tem mostrado, principalmente no caso do Brasil dos últimos anos, que o desenvolvimento da sociedade pode ser alcançado por meio de estratégias que garantam a igualdade de oportunidades para os cidadãos.

Até breve!!
Diogo Monteiro.

Mateus Neto disse...

O texto é fantástico e o Mesalas o resenhou com muita autoridade. A ideia do homem fabricar os objetos e ficar escravo dele é uma realidade que cada vez mais vem se reinventando, pois é incrível o que fazemos só para comprar a pilha do controle remoto da tv; ou mesmo como ficamos escravos dos celulares (não usamos mais relógios, despertadores e nem agendas, os celulares fazem "quase" tudo). Eu mesmo se meu celular não despertar não acordo.

alessandra disse...

Interessantíssimo o texto. A sociedade de consumo cria necessidades e transforma essas necessidades em básicas e essenciais para alguns. Sem contar que direciona parte das ações humanas. Não existe nada mais mobilizador do que uma queima de estoque ou uma promoção relâmpago.O próprio ato de consumir é uma necessidade e para certos indivíduos sinônimo de felicidade, pena que poucos terão acesso a essa felicidade. A maioria vive e morre, trabalha a maior parte do tempo com a intenção de poder não só frequentar os centros comerciais mas de consumir seus produtos. Apesar de saber que o consumo moderado não explicita os verdadeiros conflitos dessa sociedade, penso que absurdo maior é defender esse consumo desenfreado com a justificativa de progresso. Eu prefiro falar em sucesso da sociedade de consumo do que em desenvolvimento visto que não acredito em igualdade de oportunidades na dita sociedade. (Eita, se me equivoquei peço desculpas! Rsrsrsr)

Flávia Andressa disse...

Obrigada pessoal pelos comentários, irão me ajudar muito em um trabalho para a faculdade.