sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Chile Despertou! A era pinochetísta é finalizada com o resultado de um plebiscito histórico.

Por Wener Brasil (de Santiago - Chile) 

Chile avançou rumo ao novo, deu um passo democrático de muito valor para a história deste país. Após 30 anos vivendo sob a constituição herdada do governo de Augusto Pinochet, e um ano após o Estadillo Social iniciado dia 18 de outubro de 2019, o povo chileno faz história aprovando, com mais de 78% dos votos, o desejo de uma nova constituição.

 

A ainda atual constituição redigida pelo governo Pinochet é a última herança deixada por essa fase. Além disso, também os chilenos e chilenas votaram para que a nova constituição seja redigida desde zero. A convenção constitucional alcançou cerca de 79% dos votos.

 

Um país sufocado pelo neoliberalismo criou um movimento que não é liderado pelas instituições políticas clássicas e sindicatos. A pressão popular vivenciada semanalmente desde 2019 foi quem fez acontecer o então plebiscito. É por isso que nenhuma força política foi acessada pelo povo. Essa foi uma solicitação protagonizada pelos cidadãs e cidadãos do Chile, incluindo os estrangeiros residentes no país por mais de cinco anos.

 

As pautas sociais, econômicas e de cidadania são diversas, entre as que mais se destacam estão a educação, a saúde e a segurança pública, num país no qual os itens de necessidades básicas são privados e caros, como a água e a alimentação. Apesar da economia ser uma das mais sólidas da América do Sul, os chilenos sofrem com educação e saúde seletivas e caras, desiguais e muitas vezes inacessíveis, além de terem uma previdência social comandada por empresas, políticos e banqueiros. É para mudar esse cenário tão desigual que os chilenos e chilenas começaram uma nova caminhada aprovando de forma democrática que seja redigida uma nova constituição que englobe os interesses de todos e todas. O processo constituinte deve ser iniciado do zero - para a conhecida hoja en blanco - e ainda será bastante discutido nos próximos meses, pois o passo seguinte será eleger 155 membros de uma comissão eleita por um novo processo eleitoral previsto para ocorrer dia 11 de abril de 2021.

 

O plebiscito histórico dá margem a reflexão do quanto a presença de uma extrema direita neoliberal calou por três décadas uma nação que sente a repressão firmada em uma constituição nada favorável, nem aprovada pelo povo. Entretanto, apesar de haver acontecido reformas, a atual constituição chilena não passou pelo crivo público, fazendo assim favorecimentos ainda mais amarrados, beneficiando empresas e uma pequena parcela da sociedade.

 

Ver um povo vivenciando um sentimento de liberdade é emocionante e também compreensível diante da explosão social que há vivido no último ano. Um povo que sofre, seja da capital, das zonas periféricas, do povo Mapuche, do norte ao sul, que veem seus direitos serem silenciados, sem força, baixando guarda por uma repressão pinóchetísta. O grito “Chile despertó” é a prova de um reconhecimento do poder de um povo vítima de um governo ditatorial.

 

Foto 2: @sebaoos - Sebastián Ojeda S.

Para os passos seguintes a sociedade tratará de conhecer e apontar os candidatos que querem que redijam a nova constituição. E esse pleito já começou com as falas de vereadores e vereadoras, prefeitos e prefeitas, partidos políticos que querem escrever na história do país seus interesses. Os civis também poderão participar seja vinculado a um partido ou não. A paridade de gênero será fundamental para a composição da constituinte que será formada. A partir de agora o Chile mostra que tudo está em aberto e que as forças políticas e populares terão que se organizar e demonstrar um esforço para conquistar os direitos exigidos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Juventudes e desigualdades sociais em tempos de crise e de radicalização política

Mesa Redonda realizada no âmbito do III Seminário Nacional de Sociologia da UFS



Prof. Dr. Carles Feixa  (Universitat Pompeu Fabra – Barcelona/Espanha),  
Prof. Dra. Alcinda Howana  (London School of Economics and Political Sciences – Londres /UK)
Prof. Dra. Mariana Chaves (Universidad Nacional de La Plata – La Plata/Argentina) 
Mediador:  Prof. Dr. Frank Marcon  (PPGS – Universidade Federal de Sergipe)  

A proposta desta mesa é trazermos diferentes reflexões que consideramos urgentes sobre o tema juventudes no presente, levando em conta o fenômeno mais geral da radicalização política, do avanço dos liberalismos nacionalistas, do aumento das desigualdades sociais e dos efeitos da crise provocada pela pandemia SARS-COVID, que tem afetado particularmente a vida das e dos jovens e suas possibilidades de construção de autonomia social e suas relações intergeracionais. Os três convidados falam a partir de lugares e sociedades bastante distintos, especificamente a partir de olhares sobre Europa, África e América Latina, embora com um amplo trabalho que os conecta em torno de questões, como: as culturas juvenis, as desigualdades e vulnerabilidades sociais, as violências, a moratória social vivenciada pelas juventudes, as agências políticas e as relações intergeracionais. O objetivo é promover o encontro e o debate entre as reflexões atuais destes autores e a contribuição de seus estudos para as Ciências Sociais.