Ivan Paulo Silveira Santos[1]
(ivanpaulo73@yahoo.com.br)
Segundo Clifford Geertz, há uma espécie de “senso comum” [grifo meu] na compreensão do significado da expressão Ideologia. Esse conceito, em geral, é entendido como uma série de ideias e princípios falsos. Eles são assim compreendidos, porque objetivam a elaboração ou afirmação de privilégios de grupo sobre uma massa de indivíduos. Em outras palavras, a Ideologia seria uma série de assertivas que buscam induzir a erro um conjunto social maior, para garantir os interesses de uma minoria. Essa compreensão não seria em si incorreta, mas incompleta. Afinal, a Ideologia pode sim servir à criação e manutenção de privilégios. Porém, segundo Geertz (2008, p. 107), não unicamente.
A expansão dos possíveis significados para Ideologia depende da compreensão da organização das sociedades. Elas estabelecem um conjunto de regras de convívio entre seus membros. Essas regras determinam o que é certo ou errado, apropriado ou não, enfim, o que é socialmente aceito ou não. A organização das sociedades cria todo um conjunto arbitrário de regras a serem obedecidas pelos seus respectivos membros. Segundo Geertz, esse tal conjunto de regras, que podemos chamar de cultura, nada mais é do que um arcabouço ideológico. Afinal, no que há uma instituição de princípios a serem seguidos, eles são um conjunto de ideias, para serem obedecidas e preservarem determinados interesses. Em um primeiro momento, pareceria a confirmação daquele sentido meio que “senso comum” da Ideologia. Porém, segundo Geertz, justamente o contrário. Ele leva em consideração a seguinte linha de pensamento: ainda que arbitrária, uma norma socialmente aceita representa a forma como aquela sociedade em particular resolveu ou organizou um determinado fato social concreto. Assim sendo, aquela conotação de indução de erro deve ser compreendida como uma forma particular, em que uma determinada sociedade deu a solução de um fato concreto. Por isso, entende Geertz (2008, p. 112) que as singulares culturas, na verdade, representam igualmente singulares ideologias. Elas não são um falseamento, mas uma forma de organização das sociedades.
A distinção entre o “senso comum” e demais sentidos da Ideologia caberia à exploração realizada pelas Ciências Sociais. Ou seja, na análise que a ciência faz de algum fato social concreto. No entanto, Geertz chama atenção ao fato de que ao fazê-lo, as Ciências Sociais podem ser também altamente ideológicas se “supersimplificar” (GEERTZ, 2008, p. 118) suas análises, reproduzindo emoções e preconceitos. Isso pode ocorrer por razões diversas. Em geral, a afirmação de que as Ciências Sociais é uma ciência jovem é razão mais assinalada. Essa característica não permitiria à ciência a “solidez institucional necessária” (GEERTZ, 2008, p. 108) às suas explorações analíticas. O ainda breve tempo de surgimento das Ciências Sociais é uma explicação? Sim. Porém, não completamente, já que a ciência dispõe de meios para evitar este aspecto mais ideológico de suas análises. No entanto, para que isso seja possível, é necessário que seus especialistas se armem de um arcabouço teórico-metodológico mais elaborado e sofisticado. Afinal, aquela “supersimplificação”, que reproduz emoções e preconceitos, ocorre por uma distorção ou incompetência nas análises. Constituir ferramentas de análise próprias – as teorias – que deem conta das regularidades da organização social é, portanto, o elemento chave para se evitar as assertivas mais ideologizadas por parte da ciência.
Entre o “senso comum” e a produção acadêmica, às vezes, a distância pode ser pequena. É o que se pode perceber na análise elaborada por Clifford Geertz em relação ao conceito Ideologia. Em geral, entendido como um conjunto negativo, já que sua própria proposição seria a indução dos indivíduos ao erro. No entanto, afirma o autor, em uma compreensão mais ampla, de certa maneira, somos cercados por distintas ideologias. Essa perspectiva ocorreria à proporção que estamos inseridos em algum coletivo social, que invariavelmente produz sua cultura, portanto, sua própria ideologia. Caberia às Ciências Sociais, em certa medida, separar o conceito do seu “senso comum”. Embora ela própria corra o risco de realizar um papel ideologizante, em razões diversas, por ser ciência recente. Fato a ser evitado através da constituição de teorias conceituais mais elaboradas.
[1] Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.
A expansão dos possíveis significados para Ideologia depende da compreensão da organização das sociedades. Elas estabelecem um conjunto de regras de convívio entre seus membros. Essas regras determinam o que é certo ou errado, apropriado ou não, enfim, o que é socialmente aceito ou não. A organização das sociedades cria todo um conjunto arbitrário de regras a serem obedecidas pelos seus respectivos membros. Segundo Geertz, esse tal conjunto de regras, que podemos chamar de cultura, nada mais é do que um arcabouço ideológico. Afinal, no que há uma instituição de princípios a serem seguidos, eles são um conjunto de ideias, para serem obedecidas e preservarem determinados interesses. Em um primeiro momento, pareceria a confirmação daquele sentido meio que “senso comum” da Ideologia. Porém, segundo Geertz, justamente o contrário. Ele leva em consideração a seguinte linha de pensamento: ainda que arbitrária, uma norma socialmente aceita representa a forma como aquela sociedade em particular resolveu ou organizou um determinado fato social concreto. Assim sendo, aquela conotação de indução de erro deve ser compreendida como uma forma particular, em que uma determinada sociedade deu a solução de um fato concreto. Por isso, entende Geertz (2008, p. 112) que as singulares culturas, na verdade, representam igualmente singulares ideologias. Elas não são um falseamento, mas uma forma de organização das sociedades.
A distinção entre o “senso comum” e demais sentidos da Ideologia caberia à exploração realizada pelas Ciências Sociais. Ou seja, na análise que a ciência faz de algum fato social concreto. No entanto, Geertz chama atenção ao fato de que ao fazê-lo, as Ciências Sociais podem ser também altamente ideológicas se “supersimplificar” (GEERTZ, 2008, p. 118) suas análises, reproduzindo emoções e preconceitos. Isso pode ocorrer por razões diversas. Em geral, a afirmação de que as Ciências Sociais é uma ciência jovem é razão mais assinalada. Essa característica não permitiria à ciência a “solidez institucional necessária” (GEERTZ, 2008, p. 108) às suas explorações analíticas. O ainda breve tempo de surgimento das Ciências Sociais é uma explicação? Sim. Porém, não completamente, já que a ciência dispõe de meios para evitar este aspecto mais ideológico de suas análises. No entanto, para que isso seja possível, é necessário que seus especialistas se armem de um arcabouço teórico-metodológico mais elaborado e sofisticado. Afinal, aquela “supersimplificação”, que reproduz emoções e preconceitos, ocorre por uma distorção ou incompetência nas análises. Constituir ferramentas de análise próprias – as teorias – que deem conta das regularidades da organização social é, portanto, o elemento chave para se evitar as assertivas mais ideologizadas por parte da ciência.
Entre o “senso comum” e a produção acadêmica, às vezes, a distância pode ser pequena. É o que se pode perceber na análise elaborada por Clifford Geertz em relação ao conceito Ideologia. Em geral, entendido como um conjunto negativo, já que sua própria proposição seria a indução dos indivíduos ao erro. No entanto, afirma o autor, em uma compreensão mais ampla, de certa maneira, somos cercados por distintas ideologias. Essa perspectiva ocorreria à proporção que estamos inseridos em algum coletivo social, que invariavelmente produz sua cultura, portanto, sua própria ideologia. Caberia às Ciências Sociais, em certa medida, separar o conceito do seu “senso comum”. Embora ela própria corra o risco de realizar um papel ideologizante, em razões diversas, por ser ciência recente. Fato a ser evitado através da constituição de teorias conceituais mais elaboradas.