quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Uma Reflexão Didática sobre Democracias de Direita e de Esquerda versus Autoritarismos



História dos Conceitos

Historicamente as expressões direita e esquerda remontam à Revolução Francesa, de 1789, que é considerada um marco na queda do absolutismo monárquico (forma de governos monárquicos autoritários),[1] e ao lado de outros movimentos políticos no mundo inauguraram o Estado Moderno, pautado pelo equilíbrio entre os três poderes (executivo, legislativo e judiciário), ou seja, a base do que se passou a entender por estado democrático a partir de então.

Naqueles tempos, a Assembleia Nacional Francesa era composta por grupos políticos que defendiam a monarquia e tinham ideias econômicas mais liberais, aqueles que se sentavam a direita; outro que defendia ideias econômicas moderadas, aqueles que se sentavam ao centro; e os que defendiam ideias contrárias à monarquia e visões mais inovadoras de justiça social e participação popular, que se sentavam à esquerda da assembleia. Foi naquele momento histórico que surgiu o lema da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, assim como, uma das principais diferenciações entre a esquerda clássica e a direita clássica, com a primeira dando maior ênfase a ideia de igualdade (sociedade) e a segunda a ideia de liberdade (indivíduo)[2].

Com o tempo, outros países foram se tornando Repúblicas ou Monarquias Parlamentares rompendo com os modelos monárquicos absolutistas e autocráticos (influenciados também pela Inglaterra), e estes estereótipos de direita e esquerda foram, de um certo modo, se tornando marcadores de dois extremos de pensamento econômico, mas também de diferenças entre os pensamentos sobre sociedade e indivíduo, como constituidores de estados democráticos.

Já os posicionamentos políticos passaram a ser entendidos como mais conservadores (a direita) e mais inovadores e progressistas (a esquerda). Por exemplo, no século XIX alguns partidos continuaram defendendo monarquias, como no Brasil, o que do ponto de vista político é uma visão de direita, mesmo que o governo em algum momento possa ser mais ou menos conservador ou liberal do ponto de vista econômico e a depender do contexto e dos interesses em jogo. Lembremos que o Brasil foi escravocrata[3] até 1888, e monárquico até 1889, misturando valores conservadores com doses de liberalismo econômico.

Pensar o século XIX é também perceber o crescimento dos direitos civis e políticos, o surgimento de movimentos sufragistas[4], a consolidação de ideias democráticas, a formação das primeiras organizações políticas de trabalhadores[5], as discussões sobre jornada e condições de trabalho, a expansão da ideia de educação e de saúde pública e, também, relacionado a esses avanços, uma série de conflitos que nem sempre ocorriam por vias democráticas[6]. No Brasil tais mudanças ocorrerão com maior força só a partir de meados do século XX.

Conceitos Político-Econômicos e Sociais

Assim sendo, quando falamos de direita e de esquerda no Estado-Nação moderno, nas democracias do século XX para cá, se entende que estamos falando de posições econômicas de mercado e de relações de trabalho mais liberais (mais à direita) ou posições econômicas com maior intervenção do estado (mais à esquerda). O que isto significa, do ponto de vista econômico, é que quanto mais liberal a economia, menos o governo deve intervir na sua regulação e na regulação das relações de trabalho, pois se acredita que a economia deve ser livre para se autorregular (inclusive a educação, a saúde e a segurança passam a ser vistas como produtos do mercado) e que a medida que a economia cresce tudo que ela oferece estaria acessível para todos. Na perspectiva mais dirigista de economia (que pode ser entendida como mais socialista, mesmo quando sendo uma postura no próprio sistema capitalista) não se acredita nessa autorregulação plena, porque se entende que o mercado não é suficientemente sensível às desigualdades sociais, como também pode acabar produzindo a própria desigualdade social, já que o lucro seria a finalidade maior do mercado[7]. Portanto, para os pensamentos mais à esquerda, o Estado (mesmo capitalista) deve fortalecer as instituições e os serviços públicos para antes produzir justiça social e um equilíbrio mais igualitário entre o acesso aos bens, para que assim possa crescer a economia com maior justiça social. Para os pensamentos mais à direita, o Estado deveria deixar os “serviços públicos” a cargo de empreendedores individuais, fortalecendo, com isto, a livre concorrência que resultaria na redução de preços e no aumento da qualidade desses serviços. Novamente a diferença entre direita e esquerda no pensamento econômico é baseada em uma ideia pró-sociedade (esquerda) versus pró-individuo (direita).

Sintetizando, em economia, quanto mais à direita, menos intervenção do Estado, quanto mais à esquerda, mais intervenção do Estado. A ideia de centro, procura moderar ambas as posições econômicas, em alguns momentos pendendo mais para um lado ou para o outro.

Do ponto de vista político de concepção de sociedade também se fala em direita e esquerda em termos de valores morais e direitos. Por exemplo, os valores sociais mais conservadores são considerados de direita, por temerem as mudanças e se apegarem as ideias de verdades absolutas, de autoridade, de hierarquia, de honra, de religião e de objetividade, geralmente recusando a perda do estatuto social de poder daqueles que já estão em posições privilegiadas, que defendem posições hierárquicas tradicionais (patriarcal, machista, racista, heteronormativa, de classe, religiosa). A ideia de meritocracia se baseia nessas hierarquias já postas, porque não olha para as desigualdades sociais reais como condição da concorrência. Já os valores mais progressistas são considerados mais à esquerda no sentido de entenderem que a sociedade se transforma e estas mudanças de valores devem ser consideradas, aceitas e respeitadas, incluindo a necessidade da quebra de hierarquias estruturais tradicionalmente consolidadas por estados moralistas (que legitimaram desigualdades através do machismo, da homofobia, do racismo, do preconceito religioso e da desigualdade de classes). Ou seja, os progressistas combatem o que consideram ser formas morais preconceituosas de hierarquizar as pessoas e os grupos humanos, defendendo a necessidade de políticas que promovam o equilíbrio social.  Novamente, no centro, estão aqueles que ora são mais progressistas em algumas questões, ora são mais conservadores em outras. A exemplo do debate sobre armas, aborto, drogas (os de centro podem ser a favor das pessoas poderem portar armas de um lado, mas serem a favor de que sejam livres para consumir drogas de outro, podem ser contra ao aborto e favoráveis à pena de morte, o que pode parecer contraditório e demonstra que os de centro mais dificilmente concordam com tudo o que possa ser definido como valores mais conservadores ou mais progressistas).

Os partidos políticos no Brasil e seus diferentes nomes fazem alusão aos termos direita/esquerda, liberal/social, conservador/progressista sem necessariamente fazerem o uso adequado e esclarecido do que eles significam. Muitos, inclusive, misturam ideias que muitas vezes são incoerentes e divergentes por definição[8]. Os estatutos dos partidos muitas vezes são muito contraditórios nessas questões e muitas vezes sequer são levados a sério na prática política dos mesmos, sem exigir coerência de seus partidários. Muitos trocam de partido, saltando de um que teria conceitualmente uma postura mais à esquerda ou mais à direita, mais conservadora ou mais liberal, para outros, mesmo que as ideias sejam completamente opostas. Poucos desses políticos mantêm toda sua trajetória e suas práticas políticas em uma destas linhas de coerências.

No caso dos E.U.A, ainda como exemplo, os Democratas (mais à esquerda) e os Republicanos (mais à direita) são dois lados opostos muito próximos ao centro no que diz respeito ao pensamento econômico[9]. As diferenças mais extremas entre eles são sobre valores morais e políticos mais ou menos conservadores ou progressistas. O exemplo mais significativo do extremo conservadorismo é o do grupo Tea Party[10], que é um grupo dentro do partido republicano que reúne a ala de maior poder econômico do partido e que financiou a candidatura de Trump e o que ela representa em termos de retirada de direitos sociais (como o fim do programa de saúde criado por Obama, seu antecessor, do Democratas). É contra políticas para os imigrantes, tem posicionamentos machistas e racistas, se posiciona contra os direitos humanos, não acredita na versão científica do aquecimento global e demonstra posicionamentos autoritários em situações de crise.

Sintetizando, no capitalismo podemos ter políticos e partidos que digam ser conservadores nos valores e liberais na perspectiva econômica (conservador-liberal), ou progressistas nos valores e liberais na perspectiva econômica (progressista-liberal), ou ainda, conservadores nos valores e mais dirigistas na perspectiva econômica (conservador-dirigista) ou ainda mais progressistas nos valores e mais socialistas na perspectiva econômica (progressista-socialista).

Alguns conceitos Políticos presentes nas Democracias
  
Esquerda Progressista – São muitos os níveis de intensidade no significado do que pode ser uma esquerda progressista. De modo geral, quanto mais à esquerda do ponto de vista econômico, mais se defende a intervenção e regulação do Estado na economia, com o objetivo de promover a justiça social no acesso aos recursos e às riquezas produzidas no País, o que pode se dar por políticas de redistribuição de renda ou através de políticas fiscais que cobrem mais dos que têm mais e outras estratégias para promover o que considera justiça social. Defende que as garantias constitucionais de educação, saúde e segurança são atribuições fundamentais do estado, mas também, de algum modo, que o estado deve controlar a produção energética como matriz do desenvolvimento econômico (dirigismo estatal). Durante o século XX, as perspectivas mais radicais da esquerda se definiam como socialistas e defendiam o máximo de intervenção estatal nas relações trabalhistas e nos sistemas de produção econômica. Sobre valores, sobre a moral e a política, defende que a nação é formada por diferentes grupos étnicos, raciais, de gênero, de classe e de religião e que o estado deve levar em conta estas diferenças, promovendo o convívio, a defesa e o equilíbrio dos múltiplos interesses dos diversos grupos e o acesso igualitário aos direitos. Se considera uma posição mais democrática por defender a diversidade e respeitar as diferenças culturais, econômicas, regionais e religiosas. 

Centro - Social Democracia – Procura ser o equilíbrio entre direita e esquerda no que diz respeito ao econômico, mas entende que o Estado tem um papel importante na regulação de desigualdades extremas. Sobre valores morais também procura se posicionar ao centro, atribuindo ao coletivo às responsabilidades do caminho a seguir. O Brasil, desde Fernando Henrique Cardoso, é um bom exemplo, sendo, desde os anos noventa, uma social democracia, ora mais à direita liberal, ora mais à esquerda progressista, sem ter caído em nenhum dos polos. É também o modelo atual da maioria dos países da Europa, desde a criação da Comunidade Europeia, em 1992. No Brasil, quando se falava em neoliberalismo nos anos 90, se falava a partir de uma ideia de social democracia, mas quando se falava também em governo populista após 2003, também se estava falando de social democracia, no sentido mais à centro-esquerda. Se considera mais democrático por tentar equilibrar as forças e interesses, considerando méritos, sem descuidar da diversidade social e das desigualdades sociais extremas.

Direita Liberal - Hoje há muitos níveis de liberalismo (direita). Quanto mais liberal, menos intervenção do Estado. Por exemplo, existe uma vertente ultraliberal que é chamada de libertarianismo, que tem como base teórica a escola austríaca de economia, que no seu extremo defende a total liberdade do capital (inclusive a desestatização total da economia, incluindo de quaisquer controle sobre energia, educação, saúde e segurança) o que denominam de viés anarcoliberal, pois também se consideram progressistas por defenderem que o estado não deve se meter na vida das pessoas, não devendo tutelar suas vidas em nenhum aspecto. Portanto, as pessoas podem decidir o que quiserem no que diz respeito ao uso de drogas, ao porte de armas, ao aborto, ao meio ambiente, etc. Entende que a sociedade se autorregula pela economia e as pessoas são livres e autorresponsáveis. Por exemplo, na questão polêmica do aborto, eles não chegam a um entendimento, mas os mais coerentes com a filosofia irão dizer que não é problema do estado e sim do âmbito da vida privada, sendo a favor que as pessoas decidam e caso optem por fazê-lo que o façam com seus próprios recursos. Pode ser considerado mais democrático por quem concorda com tal postura, pela defesa das liberdades individuais ampliadas e até mesmo ilimitadas.

Direita Conservadora – Defende a intervenção limitada do estado na economia, quando e se os dirigentes e grupos econômicos julgarem necessário proteger ou fortalecer o sistema financeiro e a economia nacional, principalmente em defesa dos proprietários dos bens de produção, que são considerados os geradores da riqueza. É conservadora também nos valores, por imaginar que os valores morais dos grupos tradicionalmente dirigentes são os únicos moralmente corretos, por isto é contrário às ideias feministas, aos imigrantes, à diversidade sexual, às relações homoafetivas, contra a diversidade religiosa e contra os indígenas, etc. Defende que a sociedade é hierarquizada entre a boa e a má conduta, ou seja, dividida entre bons e maus. Os representantes e defensores das direitas conservadores se veem como os representantes da boa moral, como bons (defendem exclusivamente o ponto de vista do que consideram ser a sua raça, classe, religião, opção sexual). Se imagina mais democrático por defender uma essência de nacionalidade, de honradez, de raça e de moral. Um dos representantes mais acabado desse modelo, na atualidade, é Trump, nos EUA. Alguns exemplos conceituais de direita conservadora são chamados de neoconservadores, conservadores tradicionalistas, positivistas, vertentes religiosas conservadoras.

Direita ReacionáriaEmbora o termo reacionário em muitos momentos seja utilizado como sinônimo para conservador, existem diferenças filosóficas importantes entre as duas leituras. Enquanto conservadores defendem mudanças paulatinas e não abruptas na sociedade, uma vez que acreditam na capacidade de aperfeiçoamento do ser humano e das instituições ao longo dos anos. A direita reacionária parte de uma motivação estabelecida a partir de uma visão de crise (cultural/moral). Para eles as relações sociais foram corrompidas por alguma força exterior[11] e chegaram a uma situação inaceitável. Isso justificaria intervenções autoritárias para retornar valores morais perdidos ao longo da história. A crença nesse tipo de ideologia tensiona a memória ao construir uma visão de passado imaginado, sem conflitos ou problemas, negando a produção científica, as obras clássicas e a história. São posicionamentos que começam a definir a suspenção democrática, em troca da manutenção da moral, inclusive com ameaça de perseguição e eliminação dos grupos sociais que são contrários ao seu entendimento de nação. Este posicionamento é mais próximo de formas autoritárias de governo. Como exemplos: defensores do retorno à monarquia, defensores do retorno da ditadura, entre outros. Vários desses posicionamentos foram defendidos por um recente candidato à presidente no Brasil.

Perdendo a Democracia - Conceitos de Autoritarismo

Autocracias: Em sua definição autocracias são governos em que apenas uma representação é detentora de poder e controla todos os níveis do governo. Normalmente ela se concentra na figura de um líder que é autorizado a tomar medidas a partir de seus pontos de vistas.  Essa estrutura de governo não está alinhada exclusivamente ao que por analogia se denominou de campos da direita ou da esquerda, existindo versões em ambos os campos e até mesmo vertentes anteriores a divisão direita/esquerda. Em confrontação com a democracia, os regimes autocratas negam a participação popular, compreendendo a população como incapaz de decidir sobre as suas necessidades, tutelando a sua participação ou mesmo a possibilidade de representatividade em troca de um “bem maior”. Em regimes autocráticos ainda podem ser mantidos, mesmo que de maneira limitada e figurativa, algumas instituições e direitos seletivos. Alguns exemplos são as monarquias absolutistas, as ditaduras e os estados de exceção. Regimes autoritários são violentos e militarizados, não são nada transparentes sobre a forma de governar ou de julgar, estabelecem censuras sobre a comunicação e usam uma enorme máquina de propaganda para transmitir com exclusividade apenas os conteúdos que interessam a quem governa.

TotalitarismosSão autocracias violentas e antidemocráticos por excelência, por militarizarem o governo, estimularem o culto aos líderes, transmitirem informações falsas e concentrarem a autoridade em um indivíduo ou grupo. Estes regimes estão fora do que se considera admissível na sociedade contemporânea, são tudo o que representa a antipolítica no sentido stricto sensu. No século vinte, os regimes totalitários mais conhecidos foram o nazismo (na Alemanha), o fascismo (na Itália, Espanha e Portugal) e estiveram muito próximos deste conceito também o apartheid (na África do Sul) e o estalinismo (na União Soviética). Todos produziram milhares de assassinatos. Na história do Brasil, os momentos de maior aproximação com o totalitarismo foram as formas autoritárias de governo do Estado Novo (1937-45) e a Ditadura Civil-Militar (1964-1985), quando se suspenderam os direitos políticos das pessoas e se concentrou o poder nas mãos de grupos militares e econômicos, se perseguindo os opositores do regime e instaurando formas ilegítimas e não democráticas de governo. Propostas autoritárias ou totalitárias podem chegar ao poder através do voto, mas só depois de chegar ao governo é que institucionalizam práticas autocráticas e autoritárias perseguindo grupos sociais e políticos, sejam democratas de direita, sejam de esquerda. Os regimes autoritários e totalitários são ditaduras que promovem o extermínio de todos os que pensam diferente do ou dos líderes, estimulando ações em nome de uma causa, ou de algumas causas, geralmente conservadoras e em nome da  nação, por isto são contra a diversidades: negros, índios, gays, feministas, pessoas democratas de esquerda, defensores de direitos humanos e liberais. Quando estes regimes são apoiados por parte da população, ela mesma se torna a promotora do ódio e da perseguição aos diferentes, como já ocorrera em muitos países. Os modelos de governo que mais flertam com os autoritarismos são os governos conservadores, sejam eles ditos de esquerda, sejam de direita, quando culpam parcela da sociedade pelos momentos de crise e estimulam o ódio e a violência contra parcelas da população que pensam ou agem diferente de suas convicções políticas e morais.

Sintetizando, quaisquer outras formas de Estados Nacionais que concentrem o poder nas mãos de um grupo político e não respeitem a harmonia e os limites entre os poderes constitucionais: executivo, legislativo e judiciário, penderá para o autoritarismo, à semelhança de regimes monárquicos absolutistas. Portanto, Democracias e Autocracias se excluem por definição.

Considerações Finais

Estados democráticos são mais participativos, mais igualitários, com maior liberdade de expressão e maior equilíbrio entre igualdade social e liberdades individuais, quando comparados aos Estados autocráticos, que são mais autoritários e que concentram o poder exclusivamente em um pequeno grupo (militares, burocratas, religiosos, castas, proprietários).

Independente das posições políticas mais ou menos progressistas ou conservadoras, mais ou menos liberais ou socialistas, mais ou menos à direita ou à esquerda, os estados democráticos buscam as suas soluções a partir da participação coletiva e com o legítimo funcionamento das instituições, da constituição e das leis vigentes elaboradas também no contexto democrático. O aprimoramento das democracias não é algo fácil e simples, pois depende da participação coletiva como princípio duradouro, buscando o equilíbrio entre as garantias de liberdades individuais e de justiça social, mesmo que para algumas posições ideológicas (e todas são: mais à direita ou mais à esquerda) pese mais um ou outro lado da balança, estas garantias devem coexistir como princípio da vida coletiva.  

Nas experiências autoritárias, o estado é antidemocrático, mais hierarquizado e mais desigual, mais militarizado e mais violento, sendo menor ou muito limitada a liberdade de expressão. Muitos são os crimes cometidos por interesses políticos ou crimes que não interessam ao estado esclarecer, por afetarem pessoas que o grupo no poder despreza. Em alguns casos, o próprio estado estimula a eliminação de certos grupos sociais indesejados (por etnia ou raça, pela religião, pelo seu posicionamento político, pela sua posição social ou por suas escolhas sexuais-afetivas).

Em qualquer entendimento plausível sobre o Estado e a vida política no mundo contemporâneo, as democracias podem ser mais perfeitas ou imperfeitas, mais à esquerda ou à direita, mais conservadoras ou progressistas, mais liberais ou mais socialistas; mas nas autocracias, uma pessoa ou um pequeno grupo fazem da sociedade o que quiserem, como quiserem e quando quiserem e mudam de ideais e percepções sobre economia e sociedade a depender de sua vontade e protegidos pela força militar. Na história recente, todas as experiências autocráticas foram extremamente violentas e excludentes. As democracias são a única solução viável para se construir saídas às crises econômicas e sociais, só há possibilidade de se construir justiça social através da participação coletiva, seja ela como for possível.       
Frank Marcon[12]
Marco Aurélio Dias de Souza[13]

Algumas referências para quem se interessa por Política além do Whatsapp
BOBBIO, N. Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política. São Paulo: UNESP, 1995. Disponível em:  http://www.comtudo.com.br/edicoes/pdfs/bobbio_esquerda_direita.pdf.
O livro do cientista político italiano Norberto Bobbio é uma das principais obras sobre a definição de direita e esquerda.

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2000. Disponível em: .
O livro de Paulo Bonavides apresenta definições claras sobre alguns conceitos de política que constantemente vemos aflorar em épocas de eleição.

PATEMAN, C. Participação e Teoria Democrática. São Paulo: Paz e Terra, 1992. Disponível em: http://files.anexositecp.webnode.pt/200000082-88343892ea/PATEMAN,%20C.%20Participa%C3%A7%C3%A3o%20e%20Teoria%20Democr%C3%A1tica.pdf
Nesse livro Carole Pateman faz uma análise profunda sobre a questão envolvendo as ideias de representação (que significa votar em alguém que nos representará no congresso) e a de participação (ideia central no debate sobre democracia de que devemos participar o tempo todo da vida política).

POLONYI, K. A Grande Transformação: As origens de nossa época. Rio de Janeiro: Compus, 2000. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1973131/mod_resource/content/1/Polanyi_A%20grande%20transform.%20-%20livro%20todo.pdf.
Polonyi escreveu um rico texto sobre o debate entre o liberalismo teórico, sobre suas tentativas de implantação e sobre as resistências sociais criadas seus efeitos. Apontando que os governos totalitários, de esquerda e de direita, surgidos durante o século XX, como o Fascismo, o Nazismo e o Socialismo Totalitário Soviético foram resultados do empobrecimento e das crises econômicas causados por essas medidas.

RIBEIRO, R. J. Democracia. São Paulo: Publifolha, 2008. Disponível em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-democracia-renato-janine-ribeiro-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/
Renato Janine Ribeiro trabalha com as diferenças entre República (com a ideia da necessidade de notáveis que liderariam a população) e Democracia (com a ideia de participação de todas as pessoas na vida pública).





[1] No século anterior (XVII), a Inglaterra iniciou seu processo revolucionário o que resultou na extinção da monarquia absolutista e dividiu o parlamento entre conservadores (que defendiam um maior poder para o rei) e Liberais (que defendiam o poder do parlamento). 
[2] Essa oposição de ideias, responsáveis pelo processo revolucionário, foi duramente criticada pelo conservador inglês Edmund Burke que considerava que os franceses haviam decapitado seu rei pelas motivações imaginárias da liberdade, igualdade e fraternidade (até então estes termos não faziam parte do debate político).

[3] No caso da escravidão no Brasil, conservadores e alguns liberais se posicionaram pela sua manutenção. Os liberais argumentando que legislações que impediam o comércio de escravos ou a utilização desta mão de obra resultariam em crises econômicas motivadas pela intervenção estatal na economia.
[4] Que levaram a participação de novos grupos no processo eleitoral.
[5] Vários movimentos políticos e conjuntos de ideias desenvolveram-se nesse período: no campo da esquerda surgem as ideias marxistas, anarquistas, sociais-democratas e propostas cristãs igualitárias. No campo da direita surgem modelos utilitaristas (que pautavam na busca individual pela felicidade) e o positivismo (que tem o seu lema Ordem e Progresso até hoje presente em nossa bandeira).
[6] Como exemplo a revolução de 1848, quando uma série de revoltas de trabalhadores se espalhou pela Europa, reivindicando principalmente o direito ao voto e melhores condições de trabalho e foram reprimidas pelos governos nacionais (esse foi o primeiro momento que movimentos de esquerda utilizaram a cor vermelha que na revolução francesa representava a fraternidade).
[7] Embora os termos Liberal e Comunista tenham e continuem sendo utilizados para definir suas tentativas fracassadas de aplicação e, principalmente, para atacar governos com temáticas mais à direita ou mais à esquerda, jamais existiu na história suas implantações de forma integral. No caso do liberalismo por mais que governos implantem medidas ditas liberais, sempre se manteve proteção de determinados setores, como exemplo do mercado de trabalho (negando a ideia de meritocracia ao reservá-lo apenas para a população que vive em um determinado país) e da tecnologia militar (grande parte da tecnologia que depois foi repassada para a indústria veio de investimentos estatais no exército). No caso do Comunismo a confusão é ainda maior, uma vez que, teoricamente, a ideia de comunismo parte da coletivização dos meios de produção e do fim das classes sociais (o que resultaria na obra de Marx uma futura não necessidade da existência de um Estado, compreendido como um instrumento de dominação de classes). Ou seja, considerar liberalismo a simples diminuição do Estado e considerar o Comunismo o aumento dele é, na teoria, completamente o oposto do que essas ideias representam.
[8] Vide lista dos partidos em atividade no país (Acessada em 21/10/2018): http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse
[9] O sistema eleitoral estadunidense estruturado em uma lógica majoritariamente bipartidária faz com que grande parte dos debates mais radicalizados ocorra a partir de disputas de correntes no interior destes dois partidos, durante suas prévias. O que estimula a mobilização política e permite que no momento das eleições as campanhas ocorram com alianças definidas.
[10] Movimento político que ganhou força em oposição ao governo Barack Obama, principalmente, opondo-se a reforma do sistema de saúde a partir de uma defesa radicalizada da constituição.
[11] Essa força exterior é construída de uma forma ideológica, atribuindo a ele os problemas gerados pela estrutura social. Na história temos vários exemplos desse tipo de leitura, como críticas a uma elite globalista, a uma suposta dominação de um marxismo cultural, a um determinado grupo religioso ou racial. O caso mais notório desse processo foi o da Alemanha Nazista que atrelou aos judeus a decadência do país e a aceitação de um regime totalitário.
[12] Professor universitário com Mestrado em História e Doutorado em Antropologia.
[13] Professor universitário com Doutorado em Sociologia.