©EUTERS/Ronen Zvulun |
Por
Laise Maria da Silva
Maurice
Halbwachs, sociólogo francês, inicia o texto refletindo sobre o pensamento do
filósofo Auguste Comte, em que ressalta que o filósofo observou o equilíbrio
mental que decorre a partir da pouca mudança de objetos que estão ao redor das
pessoas, e de acordo com a reflexão do mesmo, isto oferece uma imagem de
permanência e estabilidade.
O
sociólogo defende que quando um grupo está inserido em uma parte do espaço, ele
a transforma à sua maneira, do mesmo modo em que se sujeita e se adapta as
coisas materiais que a ele resistem. Ele exemplifica essa questão dando o
exemplo da casa, a maneira que objetos e móveis estão dispostos refletem a
marca das pessoas que moram naquele ambiente.
Ou
seja, Halbwachs explica que o lugar recebe a marca do grupo e o grupo recebe a
marca do lugar, que ambos se influenciam. Sendo assim, de acordo com o
pensamento do mesmo, cada aspecto e detalhe deste lugar tem um sentido
inteligível apenas para os membros do grupo.
O
autor salienta que a memória coletiva e o ambiente material podem mudar com
acontecimentos que modifiquem o grupo ou o lugar. Para melhor compreensão, ele
usa como exemplo a família, que é modificada com acontecimentos como casamento
e morte e também acontecimentos que modifiquem o ambiente em que este grupo
convive, no caso a família enriquecer ou empobrecer.
Vale
salientar que Halbwachs foca a discussão do texto em três agrupamentos: o
jurídico, o econômico e o religioso, e posteriormente em seus espaços. De
acordo com o autor, esses agrupamentos aparentemente não possuem bases espaciais,
ou seja, seguem regras sem relação com a configuração do espaço.
Nesse
sentido, sobre o espaço jurídico, ele argumenta que as relações jurídicas estão
fundamentadas sobre o fato de que os homens possuem direitos e podem contrair
obrigações que, pelo menos, na sociedade não parecem subordinadas à posição
deles no meio exterior. Ele cita como exemplo o direito do homem à terra, que é
possível reconhecer a partir da memória, que um determinado terreno pertence ao
dono, isto é, ele explica que é a partir da memória de vizinhos, das pessoas
que vivem em torno daquele terreno que o direito do proprietário é reafirmado. Posto isto, Halbwachs destaca que o espaço
jurídico é o espaço permanente, pelos menos por um certo limite de tempo, que
permite a cada instante à memória coletiva, desde que perceba o espaço, de nele
localizar a lembrança dos direitos.
Com
relação ao espaço econômico, o sociólogo defende que o mundo do valor é
diferente do mundo físico, e que os preços das coisas são estabelecidos nesses
grupos econômicos. Halbwachs enfatiza ainda que os mesmos são delineados sobre
um fundo espacial, ou seja, nos locais de trabalho, nas lojas, oficinas, etc.
Desta forma, o grupo econômico reconstitui o mundo dos valores, por não poder
estender sua memória por um período bastante longo e por não conseguir projetar
suas lembranças de preço.
Por
fim, Halbwachs reflete sobre o espaço religioso, enfatizando que as lembranças
de um grupo religioso são lembradas na visão de certos lugares. Ou melhor, pela
separação sagrado e profano. O fundamento e o conteúdo da memória coletiva
religiosa está, segundo o sociólogo, em uma certa direção e inclinação uniforme
da sensibilidade e do pensamento. Deste modo, de acordo com o pensamento do
mesmo, a memória religiosa tem a necessidade de imaginar os lugares, para que
seja possível a evocação de acontecimentos aos quais a mesma se liga. Halbwachs
cita como exemplo Jerusalém, que é um espaço muito significativo para religiões
cristãs, mesmo que muitos nunca o tenham visitado.
À
vista disto, o sociólogo considera que não é certo que para lembra-se seja
necessário se transportar em pensamento para fora do espaço, quando na verdade
é a imagem do espaço que, em consequência de sua estabilidade, transmite uma
ilusão de não mudar através do tempo. Logo, é assim que se pode definir memória
e espaço, que só é suficientemente estável para poder durar sem envelhecer, sem
perder nenhuma de suas partes.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva e o espaço. In: A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.