quinta-feira, 21 de abril de 2011

JUVENTUDE E ESTILOS DE VIDA: OS USOS DOS LUGARES DE LAZER E SOCIABILIDADES NO BAIRRO SIQUEIRA CAMPOS

Por Mateus Antonio de Almeida Neto

No presente texto, eu tentarei estruturar algumas informações sobre minha pesquisa de mestrado em Antropologia Social (UFS), que versa sobre a juventude num bairro de Aracaju, estado de Sergipe, Brasil.. O problema de pesquisa gira em torno dos usos dos lugares de lazer e sociabilidades, onde jovens realizam processos de identificação e construtos de estilos de vida em territorialidades que se conflituam no espaço público da rua. Meu objetivo é analisar os processos identitários juvenis praticados nos usos dos lugares de lazer e sociabilidades no bairro Siqueira Campos. Nesse sentido, de forma mais operacional, delimitei a pesquisa a partir quatro estilos de vida juvenis distintos presentes no bairro: galera do "heavy metal", do "hip hop", do "reggae", e, principalmente, dos jovens que se identificam como do "pagode baiano". Tenta-se perceber as tensões, os gostos, as formas de lazer e o consumo cultural entre estes estilos de vida no uso desses espaços.

Localizado na zona oeste da cidade de Aracaju, “porta de entrada e saída da capital sergipana”, o bairro Siqueira Campos no final do século passado, aos poucos, tornou-se um grande pólo comercial. Hoje à área do bairro é recortada por vários estabelecimentos comerciais. A partir daí, constata-se pelos dados demográficos a diminuição de uma população permanente. No entanto, ao seguir a estratégia das caminhadas pela materialidade do lugar, nota-se um relativo aumento de uma população flutuante a procura das mercadorias, dos equipamentos urbanos e do consumo cultural ofertados nos estabelecimentos comerciais, de lazer e entretenimento, funcionando como ponto de referência para um número mais diversificado de freqüentadores ao permitir a circulação de indivíduos de várias procedências e estilos de vida juvenis distintos.

O referencial teórico que utilizo dialoga com os estudos sobre a temática das culturas juvenis, dos usos dos espaços de lazer e sociabilidades, do cotidiano, dos estilos de vida e das identidades culturais. Segundo Pais (2003, p. 70), as culturas juvenis têm que ser entendidas a partir de seus contextos vivenciais, cotidianos, “[...] isto é, no curso das suas interações, que os jovens constroem formas sociais de compreensão e entendimento que se articulam com formas específicas de consciência, de pensamento, de percepção e acção”.

Os estudos sobre os estilos de vida e das identidades culturais juvenis apontam que os contatos socioculturais, nesse sentido, supõem proponentes de uma cultura de consumo que se configuram a partir de símbolos, elementos culturais, como: vestuário, cortes de cabelo, gostos musicais, formas de lazer envolvendo grupos de amigos e territorialidades efêmeras, que denotam certas sensações constantes de segurança ontológica entre os praticantes nos usos desses espaços. (FEATHERSTONE, 1995).

Divido o trabalho em três capítulos. Inicialmente, no primeiro capítulo, Espaços de lazer e
sociabilidades no bairro Siqueira Campos: lugares e estilos de vida
; dedico-me a traçar um panorama sobre o bairro. A análise se dá a partir da descrição do território, dos espaços de lazer, das vivências e das sociabilidades no cotidiano do bairro a partir de uma estratégia metodológica que implica caminhadas sistemáticas pela paisagem.

O percurso teórico utilizado no segundo capítulo, O cotidiano, os usos e os discursos da juventude sobre os lugares, paira sobre dois grandes eixos da antropologia: os usos dos espaços de lazer e sociabilidades cotidianas, e os processos identitários juvenis, como construtos de estilos de vida. Em relação ao primeiro eixo, procuro evidenciar os discursos sobre os usos e as práticas que caracterizam a cultura juvenil nesses espaços. Estabeleço a discussão sobre a categoria circuito como conceito analítico, salientando a sua importância na análise do significado e da experiência proporcionada pelos jovens e seus processos de identificação mediados pelas ações simbólicas. Pretendo, com isto, evidenciar os gostos, o consumo cultural, os grupos e as territorialidades no bairro.

No terceiro e último capítulo, intitulado, Processos identitários juvenis no Bairro Siqueira Campos, busco a partir das reflexões de Gilberto Velho (1979), pôr-me no lugar do “outro”, observando seus estilos de vida, as tensões entre os grupos identitários, o consumo e as experiências particulares realizadas nos espaços de lazer e sociabilidades no âmbito do bairro. Como diz o autor, trata-se de transformar o familiar em exótico e estranhar o que está próximo, pois o que encontramos pode ser familiar, mas não necessariamente conhecido, e o que não vemos e encontramos pode ser exótico, mas, até certo ponto, conhecido.

Essa parte do trabalho dedica-se a perceber e analisar os processos identitários dos jovens nos usos dos lugares de lazer e sociabilidades no Bairro Siqueira Campos. Trata-se de evidenciar, primordialmente, quatro grupos juvenis de estilos de vida distintos: a galera do heavy metal, do hip hop, do reggae e principalmente os pagodeiros. Nesse sentido, busco compreender como cada um dos grupos percebe os “outros” e como vêem a “si” mesmos, além de analisar como eles se caracterizam e como se relacionam com os espaços de lazer e sociabilidades no bairro, imprimindo um sentido aos territórios.

Referências bibliográficas

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de Consumo e Pós-modernismo. São Paulo, Studio Nobel, 1995.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. “Os circuitos dos jovens urbanos”. In: Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 17, n. 2, 2005, pp. 173-205. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n2/a08v17n2.pdf.
PAIS, José Machado. Culturas Juvenis. Edição: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2003.
VELHO, Gilberto. Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1979.

4 comentários:

Frank Marcon disse...

olá Mateus. segue uma provocação: e quais são, como são e quando são utilizados os adscritores de identificação entre os jovens?

Felipe Araujo disse...

Oi Mateus! Além desses quatro de seu recorte, existem outros grupos que se destacam no Siqueira Campos?

Frank Marcon disse...

Pessoal, aos interessados, não deixem de ler o artigo de Françoise Dosse, analisando Certeau, sobre a cidade e o bairro. http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/viewFile/1373/1243
Quando o grupo de Certeau investe na noção de espaço como lugar praticado, nos colocam diante do desafio de estudarmos como tais espaços são inventados e experenciados. No caso do texto do Mateus e de sua proposta, fica o questionamento também sobre como estes jovens habitam e vivenciam o espaço. Muito no sentido de como dominam e praticam uma línguagem do espaço (para utilizarmos uma analogia de Certea).

Mateus Neto disse...

Olá povo do gerts,
Muito obrigado pelas contribuições. Vou tentar, aqui, fazer este exercício mental e responder os questionamentos. Bem, meu lócus de pesquisa não é apenas a praça Dom José Thomaz, mas o que eu considero como o circuito do lazer no bairro Siqueira Campos. Ou seja, além da praça vão entrar, também, as ruas onde tem casas de shows e os jovens praticam relações de sociabilidades, lazer e troca cultural.
No entanto, estou considerando a praça como o espaço central, catalisador e via por onde se processa as relações socioculturais e identitárias. De modo mais operacional, selecionei quatro estilos de vida ligados as culturas juvenis e que mais se destacam nas suas relações e modos de consumir estes espaços. São jovens que são conhecidos nesses “lugares” e se denominam como pagodeiros, galera do hip hop, do reggae e do heavy metal.
O interessante é que mesmo todos esses jovens praticarem relações de sociabilidades e lazer no mesmo espaço, e, ainda, muitos deles se conhecerem a anos, é com se fossem estranhos ao mesmo tempo. A galera do “hip hop”, do “reggae” e do “heavy metal” são mais unidos em termos dessas relações intergrupais. Frequentam os mesmos espaços e tem uma boa relação entre eles. O que os diferenciam são as roupas, os cortes de cabelo e alguns adereços.
Geralmente, vivem em rodas, onde todos eles conversam sobre tudo, principalmente, política, bandas e artistas ligados a música, além de festas e mulheres. Eu chamo essas relações intergrupais de estilos de vida distintos, de grupos de afinidades, pois são amigos tem discurso e retórica identitárias que caracterizam essas relações.
A questão da musicalidade entre esses grupos de afinidades não é muito discutida, pois acreditam que seus estilos musicais são complementares. Entretanto, também é um mecanismo de diferenciação.
Já em relação aos pagodeiros os conflitos são mais frequentes. Estes jovens também praticam suas relações de sociabilidades e lazer na praça, no entanto, por este estilo de música ser mais comercial, há no bairro outros lugares para esta prática. São as casas comerciais que se transformam em casas de espetáculos ligadas a este estilo musical, as casas de samba.
Todos estes estilos de vida que trato em minha pesquisa são caracterizados pelos bens culturais ligados as culturas juvenis: vestuário, musicalidade, formas de lazer e o consumo cultural em geral.
Espero ter respondido as indagações de vocês.
Obrigado pelas contribuições.