APPADURAI,
Arjun. Etnopaisagens globais: notas e perguntas para uma antropologia
transnacional. In: Dimensões culturais da globalização. Lisboa: Teorema, 2004, p.
71-93.
HALL,
Stuart. Para Allon White: metáforas de transformação. In: Da Diáspora. Identidades e
Mediações Culturais. Belo Horizonte: EdUFMG/Humanitas, 2003, p.
205-228.
Lucas Santos Passos
Sérgio da Silva Santos
APPADURAI apresenta em
seu trabalho uma discussão em torno de uma noção da etnopaisagem, que ele
define como uma forma de construir uma ideia de não homogeneidade da
identidade. O autor remete à perspectiva de uma indeterminação quando se trata
de identidade, principalmente por não se construir de forma redomada e simples.
Sua ideia passa por uma discussão importante para a produção nas ciências
sociais na contemporaneidade, buscando uma reinterpretação nas análises sociais
e resignificação dos termos produzidos por uma teoria social herdada do ocidente.
Assim, propõe uma critica ao determinismo de algumas correntes teóricas como o
funcionalismo e o estruturalismo.
A crítica ao
funcionalismo presume sua ideia fundamental de organicidade das relações
sociais, que determina o lugar e a função dos indivíduos num sistema. Esse
pensamento influenciou muito as produções da antropologia e da sociologia, e
que sem certo sentido, ainda influenciam muitas das produções contemporâneas. A
crítica ao estruturalismo remete a ideia de determinação de termos, sendo o
marxismo o mais importante lócus de produção. Termos como classes sociais, modo
de produção, estão sempre em consonância com uma ideia de estrutura, com um
momento de estruturação e de classificação das relações sociais. E que emerge
também na contemporaneidade.
Nesse sentido, APPADURAI
propõe a saída desse modelo de pensamento, e propõe um caminho de
indeterminação, de reinterpretação e de resignificação. Para construir um
modelo de produção etnográfico que permita uma analise no sentido de
deslocamento do específico e do particular. Sendo assim, o autor se coloca
diante do problema ao incitar uma discussão interessante ao momento atual da
produção sociológica e antropológica, permitindo-se aumentar o universo de análise
a partir da observação dos fenômenos da desterritorização.
Para APPADURAI, esse
fenômeno indetermina a identidades, criam formas de representação a partir do
mecanismo da imaginação. A partir dessa ideia, o autor afirma que os termos da
negociação entre vidas imaginárias e mundos desterritorializados são complexos
e por certo não podem ser captados somente pelas estratégias de localização da
etnografia tradicional. Assim, o que uma nova espécie de etnografia pode fazer
é captar os impactos da desterritorização sobre os recursos imaginativos das
experiências locais vividas. Ou seja, a questão central da etnografia agora é a
seguinte: qual a natureza localidade como experiência vivida num mundo
globalizado, desterritorializado?
APPADURAI mostra que o
princípio de indeterminação, somado com as novas perspectivas contemporâneas de
vida social, onde a desterritorialização e o imaginário ou, como ele mesmo
afirma, a fantasia como pratica social, não devem ser entendidos pelos
etnógrafos de forma contentar-se com a percepção “falsa” do local. Devem-se sim
entender os deslocamentos ocorridos no intuito de não conceber a identidade
como algo genérico.
Já HALL nos traz em seu
texto uma discussão levantada por Allon White e Peter Stallybrass no livro “A
política e a poesia da transgressão”. A ideia discutida aqui é desdobramento da
teoria cultural que ocorria nos domínios dos estudos que aparentemente se
mostravam incompatíveis. Nesse sentido, esclarece-se que a discussão de maior
importância dentro do contexto dos dois autores é a “natureza contraditória das
hierarquias simbólicas”. Hall discorre sobre a perspectiva de que o baixo não é
mais a imagem refletida do alto. Assim, esse processo de transformação permite
que haja uma aproximação com os estudos culturais.
Desta forma, é possível
afirmar que HALL interpreta o texto de Allon White e Peter Stallybrass a partir
de um posicionamento próximo ao dos Estudos Culturais. Assim, possibilita a
aproximação dos autores com seu pensamento. Hall identifica uma transgressão à
estabilidade do ordenamento cultural de alto e baixo a partir dos conceitos de
ambivalência, hibridismo e interdependência.
Os textos apresentam
uma proximidade teórica importante quando ambas pretendem desenvolver uma
possibilidade de desconstrução de ideias, a partir de uma criação ou significação.
A valorização do imaginário permite uma abordagem crítica da racionalidade, e
permite um pensamento voltado para um sujeito essencializado pela forte
tendência a criação, ou mesmo a construção de uma realidade a partir desta.
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