História
dos Conceitos
Historicamente as expressões direita e
esquerda remontam à Revolução Francesa, de 1789, que é considerada um marco na
queda do absolutismo monárquico (forma de governos monárquicos autoritários),[1] e ao lado de outros
movimentos políticos no mundo inauguraram o Estado Moderno, pautado pelo
equilíbrio entre os três poderes (executivo, legislativo e judiciário), ou
seja, a base do que se passou a entender por estado democrático a partir de
então.
Naqueles tempos, a Assembleia Nacional Francesa
era composta por grupos políticos que defendiam a monarquia e tinham ideias
econômicas mais liberais, aqueles que se sentavam a direita; outro que defendia
ideias econômicas moderadas, aqueles que se sentavam ao centro; e os que
defendiam ideias contrárias à monarquia e visões mais inovadoras de justiça
social e participação popular, que se sentavam à esquerda da assembleia. Foi
naquele momento histórico que surgiu o lema da Revolução Francesa: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, assim como, uma das principais diferenciações entre a
esquerda clássica e a direita clássica, com a primeira dando maior ênfase a
ideia de igualdade (sociedade) e a segunda a ideia de liberdade (indivíduo)[2].
Com o tempo, outros países foram se
tornando Repúblicas ou Monarquias Parlamentares rompendo com os modelos monárquicos
absolutistas e autocráticos (influenciados também pela Inglaterra), e estes
estereótipos de direita e esquerda foram, de um certo modo, se tornando
marcadores de dois extremos de pensamento econômico, mas também de diferenças
entre os pensamentos sobre sociedade e indivíduo, como constituidores de
estados democráticos.
Já os posicionamentos políticos passaram a
ser entendidos como mais conservadores (a direita) e mais inovadores e
progressistas (a esquerda). Por exemplo, no século XIX alguns partidos
continuaram defendendo monarquias, como no Brasil, o que do ponto de vista
político é uma visão de direita, mesmo que o governo em algum momento possa ser
mais ou menos conservador ou liberal do ponto de vista econômico e a depender
do contexto e dos interesses em jogo. Lembremos que o Brasil foi escravocrata[3] até 1888, e monárquico até
1889, misturando valores conservadores com doses de liberalismo econômico.
Pensar o século XIX é também perceber o
crescimento dos direitos civis e políticos, o surgimento de movimentos
sufragistas[4],
a consolidação de ideias democráticas, a formação das primeiras organizações
políticas de trabalhadores[5], as discussões sobre
jornada e condições de trabalho, a expansão da ideia de educação e de saúde
pública e, também, relacionado a esses avanços, uma série de conflitos que nem
sempre ocorriam por vias democráticas[6]. No Brasil tais mudanças
ocorrerão com maior força só a partir de meados do século XX.
Conceitos
Político-Econômicos e Sociais
Assim sendo, quando falamos de direita e de
esquerda no Estado-Nação moderno, nas democracias do século XX para cá, se
entende que estamos falando de posições econômicas
de mercado e de relações de trabalho mais liberais (mais à direita) ou posições
econômicas com maior intervenção do estado (mais à esquerda). O que isto
significa, do ponto de vista econômico, é que quanto mais liberal a economia,
menos o governo deve intervir na sua regulação e na regulação das relações de
trabalho, pois se acredita que a economia deve ser livre para se autorregular
(inclusive a educação, a saúde e a segurança passam a ser vistas como produtos
do mercado) e que a medida que a economia cresce tudo que ela oferece estaria
acessível para todos. Na perspectiva mais dirigista de economia (que pode ser
entendida como mais socialista, mesmo quando sendo uma postura no próprio
sistema capitalista) não se acredita nessa autorregulação plena, porque se
entende que o mercado não é suficientemente sensível às desigualdades sociais,
como também pode acabar produzindo a própria desigualdade social, já que o
lucro seria a finalidade maior do mercado[7]. Portanto, para os pensamentos
mais à esquerda, o Estado (mesmo capitalista) deve fortalecer as instituições e
os serviços públicos para antes produzir justiça social e um equilíbrio mais
igualitário entre o acesso aos bens, para que assim possa crescer a economia
com maior justiça social. Para os pensamentos mais à direita, o Estado deveria
deixar os “serviços públicos” a cargo de empreendedores individuais,
fortalecendo, com isto, a livre concorrência que resultaria na redução de
preços e no aumento da qualidade desses serviços. Novamente a diferença entre
direita e esquerda no pensamento econômico é baseada em uma ideia pró-sociedade
(esquerda) versus pró-individuo (direita).
Sintetizando,
em economia, quanto mais à direita, menos intervenção do Estado, quanto mais à
esquerda, mais intervenção do Estado. A ideia de centro, procura moderar ambas
as posições econômicas, em alguns momentos pendendo mais para um lado ou para o
outro.
Do ponto de vista político de concepção de sociedade também se fala em direita e
esquerda em termos de valores morais e direitos. Por exemplo, os valores
sociais mais conservadores são considerados de direita, por temerem as mudanças
e se apegarem as ideias de verdades absolutas, de autoridade, de hierarquia, de
honra, de religião e de objetividade, geralmente recusando a perda do estatuto
social de poder daqueles que já estão em posições privilegiadas, que defendem
posições hierárquicas tradicionais (patriarcal, machista, racista, heteronormativa,
de classe, religiosa). A ideia de meritocracia se baseia nessas hierarquias já
postas, porque não olha para as desigualdades sociais reais como condição da
concorrência. Já os valores mais progressistas são considerados mais à esquerda
no sentido de entenderem que a sociedade se transforma e estas mudanças de
valores devem ser consideradas, aceitas e respeitadas, incluindo a necessidade
da quebra de hierarquias estruturais tradicionalmente consolidadas por estados
moralistas (que legitimaram desigualdades através do machismo, da homofobia, do
racismo, do preconceito religioso e da desigualdade de classes). Ou seja, os
progressistas combatem o que consideram ser formas morais preconceituosas de
hierarquizar as pessoas e os grupos humanos, defendendo a necessidade de
políticas que promovam o equilíbrio social.
Novamente, no centro, estão aqueles que ora são mais progressistas em
algumas questões, ora são mais conservadores em outras. A exemplo do debate
sobre armas, aborto, drogas (os de centro podem ser a favor das pessoas poderem
portar armas de um lado, mas serem a favor de que sejam livres para consumir
drogas de outro, podem ser contra ao aborto e favoráveis à pena de morte, o que
pode parecer contraditório e demonstra que os de centro mais dificilmente
concordam com tudo o que possa ser definido como valores mais conservadores ou
mais progressistas).
Os partidos políticos no Brasil e seus
diferentes nomes fazem alusão aos termos direita/esquerda, liberal/social,
conservador/progressista sem necessariamente fazerem o uso adequado e
esclarecido do que eles significam. Muitos, inclusive, misturam ideias que
muitas vezes são incoerentes e divergentes por definição[8]. Os estatutos dos partidos
muitas vezes são muito contraditórios nessas questões e muitas vezes sequer são
levados a sério na prática política dos mesmos, sem exigir coerência de seus
partidários. Muitos trocam de partido, saltando de um que teria conceitualmente
uma postura mais à esquerda ou mais à direita, mais conservadora ou mais
liberal, para outros, mesmo que as ideias sejam completamente opostas. Poucos
desses políticos mantêm toda sua trajetória e suas práticas políticas em uma
destas linhas de coerências.
No caso dos E.U.A, ainda como exemplo, os
Democratas (mais à esquerda) e os Republicanos (mais à direita) são dois lados
opostos muito próximos ao centro no que diz respeito ao pensamento econômico[9]. As diferenças mais
extremas entre eles são sobre valores morais e políticos mais ou menos
conservadores ou progressistas. O exemplo mais significativo do extremo
conservadorismo é o do grupo Tea Party[10], que é um grupo dentro do
partido republicano que reúne a ala de maior poder econômico do partido e que
financiou a candidatura de Trump e o que ela representa em termos de retirada
de direitos sociais (como o fim do programa de saúde criado por Obama, seu
antecessor, do Democratas). É contra políticas para os imigrantes, tem
posicionamentos machistas e racistas, se posiciona contra os direitos humanos, não
acredita na versão científica do aquecimento global e demonstra posicionamentos
autoritários em situações de crise.
Sintetizando,
no capitalismo podemos ter políticos e partidos que digam ser conservadores nos
valores e liberais na perspectiva econômica (conservador-liberal), ou
progressistas nos valores e liberais na perspectiva econômica
(progressista-liberal), ou ainda, conservadores nos valores e mais dirigistas
na perspectiva econômica (conservador-dirigista) ou ainda mais progressistas
nos valores e mais socialistas na perspectiva econômica
(progressista-socialista).
Alguns
conceitos Políticos presentes nas Democracias
Esquerda
Progressista – São muitos os níveis de intensidade no
significado do que pode ser uma esquerda progressista. De modo geral, quanto
mais à esquerda do ponto de vista econômico, mais se defende a intervenção e
regulação do Estado na economia, com o objetivo de promover a justiça social no
acesso aos recursos e às riquezas produzidas no País, o que pode se dar por
políticas de redistribuição de renda ou através de políticas fiscais que cobrem
mais dos que têm mais e outras estratégias para promover o que considera
justiça social. Defende que as garantias constitucionais de educação, saúde e
segurança são atribuições fundamentais do estado, mas também, de algum modo,
que o estado deve controlar a produção energética como matriz do
desenvolvimento econômico (dirigismo estatal). Durante o século XX, as
perspectivas mais radicais da esquerda se definiam como socialistas e defendiam
o máximo de intervenção estatal nas relações trabalhistas e nos sistemas de
produção econômica. Sobre valores, sobre a moral e a política, defende que a
nação é formada por diferentes grupos étnicos, raciais, de gênero, de classe e
de religião e que o estado deve levar em conta estas diferenças, promovendo o
convívio, a defesa e o equilíbrio dos múltiplos interesses dos diversos grupos
e o acesso igualitário aos direitos. Se considera uma posição mais democrática
por defender a diversidade e respeitar as diferenças culturais, econômicas,
regionais e religiosas.
Centro
- Social Democracia – Procura ser o equilíbrio entre direita
e esquerda no que diz respeito ao econômico, mas entende que o Estado tem um
papel importante na regulação de desigualdades extremas. Sobre valores morais
também procura se posicionar ao centro, atribuindo ao coletivo às
responsabilidades do caminho a seguir. O Brasil, desde Fernando Henrique Cardoso,
é um bom exemplo, sendo, desde os anos noventa, uma social democracia, ora mais
à direita liberal, ora mais à esquerda progressista, sem ter caído em nenhum
dos polos. É também o modelo atual da maioria dos países da Europa, desde a
criação da Comunidade Europeia, em 1992. No Brasil, quando se falava em
neoliberalismo nos anos 90, se falava a partir de uma ideia de social
democracia, mas quando se falava também em governo populista após 2003, também
se estava falando de social democracia, no sentido mais à centro-esquerda. Se
considera mais democrático por tentar equilibrar as forças e interesses,
considerando méritos, sem descuidar da diversidade social e das desigualdades
sociais extremas.
Direita
Liberal - Hoje há muitos níveis de liberalismo (direita).
Quanto mais liberal, menos intervenção do Estado. Por exemplo, existe uma
vertente ultraliberal que é chamada de libertarianismo, que tem como base
teórica a escola austríaca de economia, que no seu extremo defende a total
liberdade do capital (inclusive a desestatização total da economia, incluindo de
quaisquer controle sobre energia, educação, saúde e segurança) o que denominam
de viés anarcoliberal, pois também se consideram progressistas por defenderem que
o estado não deve se meter na vida das pessoas, não devendo tutelar suas vidas
em nenhum aspecto. Portanto, as pessoas podem decidir o que quiserem no que diz
respeito ao uso de drogas, ao porte de armas, ao aborto, ao meio ambiente, etc.
Entende que a sociedade se autorregula pela economia e as pessoas são livres e
autorresponsáveis. Por exemplo, na questão polêmica do aborto, eles não chegam
a um entendimento, mas os mais coerentes com a filosofia irão dizer que não é
problema do estado e sim do âmbito da vida privada, sendo a favor que as
pessoas decidam e caso optem por fazê-lo que o façam com seus próprios recursos.
Pode ser considerado mais democrático por quem concorda com tal postura, pela defesa
das liberdades individuais ampliadas e até mesmo ilimitadas.
Direita
Conservadora – Defende a intervenção limitada do
estado na economia, quando e se os dirigentes e grupos econômicos julgarem
necessário proteger ou fortalecer o sistema financeiro e a economia nacional,
principalmente em defesa dos proprietários dos bens de produção, que são
considerados os geradores da riqueza. É conservadora também nos valores, por
imaginar que os valores morais dos grupos tradicionalmente dirigentes são os
únicos moralmente corretos, por isto é contrário às ideias feministas, aos
imigrantes, à diversidade sexual, às relações homoafetivas, contra a
diversidade religiosa e contra os indígenas, etc. Defende que a sociedade é
hierarquizada entre a boa e a má conduta, ou seja, dividida entre bons e maus.
Os representantes e defensores das direitas conservadores se veem como os
representantes da boa moral, como bons (defendem exclusivamente o ponto de
vista do que consideram ser a sua raça, classe, religião, opção sexual). Se
imagina mais democrático por defender uma essência de nacionalidade, de honradez,
de raça e de moral. Um dos representantes mais acabado desse modelo, na
atualidade, é Trump, nos EUA. Alguns exemplos conceituais de direita
conservadora são chamados de neoconservadores, conservadores tradicionalistas,
positivistas, vertentes religiosas conservadoras.
Direita
Reacionária
– Embora
o termo reacionário em muitos momentos seja utilizado como sinônimo para
conservador, existem diferenças filosóficas importantes entre as duas leituras.
Enquanto conservadores defendem mudanças paulatinas e não abruptas na
sociedade, uma vez que acreditam na capacidade de aperfeiçoamento do ser humano
e das instituições ao longo dos anos. A direita reacionária parte de uma
motivação estabelecida a partir de uma visão de crise (cultural/moral). Para
eles as relações sociais foram corrompidas por alguma força exterior[11] e chegaram a uma situação
inaceitável. Isso justificaria intervenções autoritárias para retornar valores
morais perdidos ao longo da história. A crença nesse tipo de ideologia tensiona
a memória ao construir uma visão de passado imaginado, sem conflitos ou
problemas, negando a produção científica, as obras clássicas e a história. São
posicionamentos que começam a definir a suspenção democrática, em troca da
manutenção da moral, inclusive com ameaça de perseguição e eliminação dos
grupos sociais que são contrários ao seu entendimento de nação. Este
posicionamento é mais próximo de formas autoritárias de governo. Como exemplos:
defensores do retorno à monarquia, defensores do retorno da ditadura, entre
outros. Vários desses posicionamentos foram defendidos por um recente candidato
à presidente no Brasil.
Perdendo
a Democracia - Conceitos de Autoritarismo
Autocracias: Em sua definição
autocracias são governos em que apenas uma representação é detentora de poder e
controla todos os níveis do governo. Normalmente ela se concentra na figura de
um líder que é autorizado a tomar medidas a partir de seus pontos de vistas. Essa estrutura de governo não está alinhada
exclusivamente ao que por analogia se denominou de campos da direita ou da
esquerda, existindo versões em ambos os campos e até mesmo vertentes anteriores
a divisão direita/esquerda. Em confrontação com a democracia, os regimes
autocratas negam a participação popular, compreendendo a população como incapaz
de decidir sobre as suas necessidades, tutelando a sua participação ou mesmo a
possibilidade de representatividade em troca de um “bem maior”. Em regimes
autocráticos ainda podem ser mantidos, mesmo que de maneira limitada e
figurativa, algumas instituições e direitos seletivos. Alguns exemplos são as monarquias absolutistas, as ditaduras e os
estados de exceção. Regimes autoritários são violentos e militarizados, não
são nada transparentes sobre a forma de governar ou de julgar, estabelecem
censuras sobre a comunicação e usam uma enorme máquina de propaganda para
transmitir com exclusividade apenas os conteúdos que interessam a quem governa.
Totalitarismos – São autocracias violentas
e antidemocráticos por excelência, por militarizarem o governo, estimularem o
culto aos líderes, transmitirem informações falsas e concentrarem a autoridade
em um indivíduo ou grupo. Estes regimes estão fora do que se considera
admissível na sociedade contemporânea, são tudo o que representa a antipolítica
no sentido stricto sensu. No século
vinte, os regimes totalitários mais conhecidos foram o nazismo (na Alemanha), o
fascismo (na Itália, Espanha e Portugal) e estiveram muito próximos deste
conceito também o apartheid (na África do Sul) e o estalinismo (na União
Soviética). Todos produziram milhares de assassinatos. Na história do Brasil,
os momentos de maior aproximação com o totalitarismo foram as formas
autoritárias de governo do Estado Novo (1937-45) e a Ditadura Civil-Militar
(1964-1985), quando se suspenderam os direitos políticos das pessoas e se
concentrou o poder nas mãos de grupos militares e econômicos, se perseguindo os
opositores do regime e instaurando formas ilegítimas e não democráticas de
governo. Propostas autoritárias ou totalitárias podem chegar ao poder através
do voto, mas só depois de chegar ao governo é que institucionalizam práticas
autocráticas e autoritárias perseguindo grupos sociais e políticos, sejam
democratas de direita, sejam de esquerda. Os regimes autoritários e totalitários
são ditaduras que promovem o extermínio de todos os que pensam diferente do ou
dos líderes, estimulando ações em nome de uma causa, ou de algumas causas,
geralmente conservadoras e em nome da
nação, por isto são contra a diversidades: negros, índios, gays,
feministas, pessoas democratas de esquerda, defensores de direitos humanos e
liberais. Quando estes regimes são apoiados por parte da população, ela mesma
se torna a promotora do ódio e da perseguição aos diferentes, como já ocorrera
em muitos países. Os modelos de governo que mais flertam com os autoritarismos são
os governos conservadores, sejam eles
ditos de esquerda, sejam de direita, quando culpam parcela da sociedade pelos
momentos de crise e estimulam o ódio e a violência contra parcelas da população
que pensam ou agem diferente de suas convicções políticas e morais.
Sintetizando,
quaisquer outras formas de Estados Nacionais que concentrem o poder nas mãos de
um grupo político e não respeitem a harmonia e os limites entre os poderes
constitucionais: executivo, legislativo e judiciário, penderá para o
autoritarismo, à semelhança de regimes monárquicos absolutistas. Portanto,
Democracias e Autocracias se excluem por definição.
Considerações
Finais
Estados democráticos são mais
participativos, mais igualitários, com maior liberdade de expressão e maior
equilíbrio entre igualdade social e liberdades individuais, quando comparados
aos Estados autocráticos, que são mais autoritários e que concentram o poder exclusivamente
em um pequeno grupo (militares, burocratas, religiosos, castas, proprietários).
Independente das posições políticas mais
ou menos progressistas ou conservadoras, mais ou menos liberais ou socialistas,
mais ou menos à direita ou à esquerda, os estados democráticos buscam as suas
soluções a partir da participação coletiva e com o legítimo funcionamento das
instituições, da constituição e das leis vigentes elaboradas também no contexto
democrático. O aprimoramento das democracias não é algo fácil e simples, pois
depende da participação coletiva como princípio duradouro, buscando o
equilíbrio entre as garantias de liberdades individuais e de justiça social,
mesmo que para algumas posições ideológicas (e todas são: mais à direita ou
mais à esquerda) pese mais um ou outro lado da balança, estas garantias devem
coexistir como princípio da vida coletiva.
Nas experiências autoritárias, o estado é antidemocrático,
mais hierarquizado e mais desigual, mais militarizado e mais violento, sendo
menor ou muito limitada a liberdade de expressão. Muitos são os crimes
cometidos por interesses políticos ou crimes que não interessam ao estado
esclarecer, por afetarem pessoas que o grupo no poder despreza. Em alguns
casos, o próprio estado estimula a eliminação de certos grupos sociais
indesejados (por etnia ou raça, pela religião, pelo seu posicionamento político,
pela sua posição social ou por suas escolhas sexuais-afetivas).
Em qualquer entendimento plausível sobre o
Estado e a vida política no mundo contemporâneo, as democracias podem ser mais
perfeitas ou imperfeitas, mais à esquerda ou à direita, mais conservadoras ou
progressistas, mais liberais ou mais socialistas; mas nas autocracias, uma
pessoa ou um pequeno grupo fazem da sociedade o que quiserem, como quiserem e
quando quiserem e mudam de ideais e percepções sobre economia e sociedade a
depender de sua vontade e protegidos pela força militar. Na história recente, todas
as experiências autocráticas foram extremamente violentas e excludentes. As
democracias são a única solução viável para se construir saídas às crises
econômicas e sociais, só há possibilidade de se construir justiça social
através da participação coletiva, seja ela como for possível.
Frank Marcon[12]
Marco Aurélio Dias de Souza[13]
Algumas
referências para quem se interessa por Política além do Whatsapp
BOBBIO,
N. Direita e Esquerda: Razões e
Significados de uma Distinção Política. São Paulo: UNESP, 1995. Disponível
em: http://www.comtudo.com.br/edicoes/pdfs/bobbio_esquerda_direita.pdf.
O
livro do cientista político italiano Norberto Bobbio é uma das principais obras
sobre a definição de direita e esquerda.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2000. Disponível em:
.
O livro de Paulo Bonavides apresenta
definições claras sobre alguns conceitos de política que constantemente vemos
aflorar em épocas de eleição.
PATEMAN, C. Participação e Teoria Democrática. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
Disponível em: http://files.anexositecp.webnode.pt/200000082-88343892ea/PATEMAN,%20C.%20Participa%C3%A7%C3%A3o%20e%20Teoria%20Democr%C3%A1tica.pdf
Nesse
livro Carole Pateman faz uma análise profunda sobre a questão envolvendo as
ideias de representação (que significa votar em alguém que nos representará no
congresso) e a de participação (ideia central no debate sobre democracia de que
devemos participar o tempo todo da vida política).
POLONYI,
K. A Grande Transformação: As
origens de nossa época. Rio de Janeiro: Compus, 2000. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1973131/mod_resource/content/1/Polanyi_A%20grande%20transform.%20-%20livro%20todo.pdf.
Polonyi
escreveu um rico texto sobre o debate entre o liberalismo teórico, sobre suas
tentativas de implantação e sobre as resistências sociais criadas seus efeitos.
Apontando que os governos totalitários, de esquerda e de direita, surgidos
durante o século XX, como o Fascismo, o Nazismo e o Socialismo Totalitário
Soviético foram resultados do empobrecimento e das crises econômicas causados
por essas medidas.
RIBEIRO,
R. J. Democracia. São Paulo:
Publifolha, 2008. Disponível em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-democracia-renato-janine-ribeiro-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/
Renato
Janine Ribeiro trabalha com as diferenças entre República (com a ideia da
necessidade de notáveis que liderariam a população) e Democracia (com a ideia
de participação de todas as pessoas na vida pública).
[1] No século anterior (XVII), a
Inglaterra iniciou seu processo revolucionário o que resultou na extinção da
monarquia absolutista e dividiu o parlamento entre conservadores (que defendiam
um maior poder para o rei) e Liberais (que defendiam o poder do
parlamento).
[2] Essa oposição de ideias,
responsáveis pelo processo revolucionário, foi duramente criticada pelo
conservador inglês Edmund Burke que considerava que os franceses haviam
decapitado seu rei pelas motivações imaginárias da liberdade, igualdade e
fraternidade (até então estes termos não faziam parte do debate político).
[3] No caso da escravidão no Brasil,
conservadores e alguns liberais se posicionaram pela sua manutenção. Os
liberais argumentando que legislações que impediam o comércio de escravos ou a
utilização desta mão de obra resultariam em crises econômicas motivadas pela
intervenção estatal na economia.
[4] Que levaram a participação de novos
grupos no processo eleitoral.
[5] Vários movimentos políticos e
conjuntos de ideias desenvolveram-se nesse período: no campo da esquerda surgem
as ideias marxistas, anarquistas, sociais-democratas e propostas cristãs
igualitárias. No campo da direita surgem modelos utilitaristas (que pautavam na
busca individual pela felicidade) e o positivismo (que tem o seu lema Ordem e Progresso até hoje presente em
nossa bandeira).
[6] Como exemplo a revolução de 1848,
quando uma série de revoltas de trabalhadores se espalhou pela Europa,
reivindicando principalmente o direito ao voto e melhores condições de trabalho
e foram reprimidas pelos governos nacionais (esse foi o primeiro momento que
movimentos de esquerda utilizaram a cor vermelha que na revolução francesa
representava a fraternidade).
[7] Embora os termos Liberal e
Comunista tenham e continuem sendo utilizados para definir suas tentativas
fracassadas de aplicação e, principalmente, para atacar governos com temáticas
mais à direita ou mais à esquerda, jamais existiu na história suas implantações
de forma integral. No caso do liberalismo por mais que governos implantem
medidas ditas liberais, sempre se manteve proteção de determinados setores,
como exemplo do mercado de trabalho (negando a ideia de meritocracia ao reservá-lo
apenas para a população que vive em um determinado país) e da tecnologia
militar (grande parte da tecnologia que depois foi repassada para a indústria
veio de investimentos estatais no exército). No caso do Comunismo a confusão é
ainda maior, uma vez que, teoricamente, a ideia de comunismo parte da
coletivização dos meios de produção e do fim das classes sociais (o que
resultaria na obra de Marx uma futura não necessidade da existência de um
Estado, compreendido como um instrumento de dominação de classes). Ou seja,
considerar liberalismo a simples diminuição do Estado e considerar o Comunismo
o aumento dele é, na teoria, completamente o oposto do que essas ideias
representam.
[8] Vide lista dos partidos em
atividade no país (Acessada em 21/10/2018): http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse
[9] O sistema eleitoral estadunidense
estruturado em uma lógica majoritariamente bipartidária faz com que grande
parte dos debates mais radicalizados ocorra a partir de disputas de correntes
no interior destes dois partidos, durante suas prévias. O que estimula a
mobilização política e permite que no momento das eleições as campanhas ocorram
com alianças definidas.
[10] Movimento político que ganhou
força em oposição ao governo Barack Obama, principalmente, opondo-se a reforma
do sistema de saúde a partir de uma defesa radicalizada da constituição.
[11] Essa força exterior é construída
de uma forma ideológica, atribuindo a ele os problemas gerados pela estrutura
social. Na história temos vários exemplos desse tipo de leitura, como críticas
a uma elite globalista, a uma suposta dominação de um marxismo cultural, a um
determinado grupo religioso ou racial. O caso mais notório desse processo foi o
da Alemanha Nazista que atrelou aos judeus a decadência do país e a aceitação
de um regime totalitário.
[12] Professor universitário com
Mestrado em História e Doutorado em Antropologia.
Um comentário:
Bolsomito
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