Por Wener Brasil (de Santiago - Chile)
Chile avançou rumo ao novo, deu um passo democrático de muito valor
para a história deste país. Após 30 anos vivendo sob a constituição herdada do
governo de Augusto Pinochet, e um ano após o Estadillo Social iniciado
dia 18 de outubro de 2019, o povo chileno faz história aprovando, com mais de
78% dos votos, o desejo de uma nova constituição.
A ainda atual constituição redigida pelo governo Pinochet é a última
herança deixada por essa fase. Além disso, também os chilenos e chilenas
votaram para que a nova constituição seja redigida desde zero. A convenção
constitucional alcançou cerca de 79% dos votos.
Um país sufocado pelo neoliberalismo criou um movimento que não é
liderado pelas instituições políticas clássicas e sindicatos. A pressão popular vivenciada semanalmente
desde 2019 foi quem fez acontecer o então plebiscito. É por isso que nenhuma
força política foi acessada pelo povo. Essa foi uma solicitação protagonizada
pelos cidadãs e cidadãos do Chile, incluindo os estrangeiros residentes no país
por mais de cinco anos.
As pautas sociais, econômicas e de cidadania são diversas, entre as que
mais se destacam estão a educação, a saúde e a segurança pública, num país no
qual os itens de necessidades básicas são privados e caros, como a água e a
alimentação. Apesar da economia ser uma das mais sólidas da América do Sul, os
chilenos sofrem com educação e saúde seletivas e caras, desiguais e muitas
vezes inacessíveis, além de terem uma previdência social comandada por
empresas, políticos e banqueiros. É para mudar esse cenário tão desigual que os
chilenos e chilenas começaram uma nova caminhada aprovando de forma democrática
que seja redigida uma nova constituição que englobe os interesses de todos e todas. O
processo constituinte deve ser iniciado do zero - para a conhecida hoja en
blanco - e ainda será bastante discutido nos próximos meses, pois o passo
seguinte será eleger 155 membros de uma comissão eleita por um novo processo
eleitoral previsto para ocorrer dia 11 de abril de 2021.
O plebiscito histórico dá margem a reflexão do quanto a presença de uma
extrema direita neoliberal calou por três décadas uma nação que sente a
repressão firmada em uma constituição nada favorável, nem aprovada pelo povo.
Entretanto, apesar de haver acontecido reformas, a atual constituição chilena
não passou pelo crivo público, fazendo assim favorecimentos ainda mais
amarrados, beneficiando empresas e uma pequena parcela da sociedade.
Ver um povo vivenciando um sentimento de liberdade é emocionante e
também compreensível diante da explosão social que há vivido no último ano. Um
povo que sofre, seja da capital, das zonas periféricas,
do povo Mapuche, do norte ao sul, que veem seus direitos serem silenciados, sem
força, baixando guarda por uma repressão pinóchetísta. O grito “Chile despertó”
é a prova de um reconhecimento do poder de um povo vítima de um governo
ditatorial.
Para os passos seguintes a sociedade tratará de conhecer e apontar os candidatos que querem que redijam a nova constituição. E esse pleito já começou com as falas de vereadores e vereadoras, prefeitos e prefeitas, partidos políticos que querem escrever na história do país seus interesses. Os civis também poderão participar seja vinculado a um partido ou não. A paridade de gênero será fundamental para a composição da constituinte que será formada. A partir de agora o Chile mostra que tudo está em aberto e que as forças políticas e populares terão que se organizar e demonstrar um esforço para conquistar os direitos exigidos.
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