quinta-feira, 2 de junho de 2011

ÍNDIOS E ICONOGRAFIA DIDÁTICA: ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES EM MANUAIS DE HISTÓRIA DO PNLD 2011

(por Diogo Monteiro)

O texto que segue apresenta as propostas de um projeto de pesquisa, que estuda as formas de representação dos índios, a partir das imagens inseridas nos livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), edição 2011. O objetivo central é analisar as formas de representação elaboradas pelos autores de manuais escolares de história acerca da cultura e modos de vida indígenas. Pretende-se, ainda, perceber como consumidores de livros escolares, professores e alunos de escolas públicas estaduais da cidade de Aracaju, apropriam-se dessas imagens e constroem suas impressões sobre os índios.
Ao inserir nossas reflexões no interior dos debates acerca das implicações político-pedagógicas geradas pela instituição da Lei 11.645/08, que estabelece a obrigatoriedade da inclusão de conteúdos de História e Cultura indígenas no currículo de escolas do ensino básico, públicas e particulares do Brasil, levantamos os seguintes questionamentos: em que medida os conteúdos das imagens e dos textos dos livros didáticos, avaliados e distribuídos pelo PNLD 2011, refletem as disposições da Lei 11.645/08? Os autores de livros didáticos, a partir de uma visão relativizadora, atendem aos imperativos de respeito à diversidade cultural indígena e valorização das suas contribuições à formação da sociedade brasileira? Ou perpetuam a visão eurocêntrica sobre seus costumes e modos de vida? E, no âmbito das práticas de ensino-aprendizagem escolar da história, como professores e alunos têm reagido à introdução destas inovações legislativas nos livros didáticos que consomem? De que maneira estes manuais têm influenciado na construção de suas representações sobre a alteridade indígena?
Será relevante para o desenvolvimento da investigação o diálogo com o conceito de livro didático difundido pelo professor Kazumi Munakata, que afirmou: “O livro didático é um artefato de papel e tinta, costumeiramente utilizado em situações didáticas.” (MUNAKATA, 1997, p. 84). Ele, porém alerta: “não são meramente ideias, sentimentos, imagens, sensações ou significações que o texto possa representar. Nem tampouco é o texto em abstrato, pois esse texto de que as pessoas normalmente veem apenas ideias, sentimentos, imagens, etc., é constituído de letras (confeccionadas com tinta sobre o papel) segundo uma família de tipo (ou face de tipo ou fonte), que lhes dá homogeneidade. ”(id.,).
Já a imagem, elemento de imprescindível importância na constituição da materialidade dos impressos, será aqui entendida não como o “real”, mas pelo menos, como o seu “analogon” perfeito. Impregnada desta perfeição analógica da realidade, a imagem comporta duas mensagens: uma mensagem denotada, o próprio “analogon”, e uma mensagem conotada, a maneira pela qual a sociedade oferece à leitura, dentro de certa medida, o que ele pensa (BARTHES, 1990, p. 12-13).
Desta forma, entendemos representação, a partir de Foucault (1970 apud BURKE, 2004, p. 219), como uma imagem cuja produção e significado não se restringem à reprodução da realidade em si mesma, e que estão intimamente vinculadas às normatizações da sociedade. Em síntese, ela seria “uma imagem verbal ou pictórica de algum objeto, feita de acordo com um determinado conjunto de convenções”, que interessavam mais do que a maior ou menor fidelidade com a qual o objeto foi descrito ou pintado.
Esta pesquisa terá como fontes fundamentais para a extração de dados, alguns dos manuais listados no Guia do Livro Didático do PNLD 2011, selecionados pelos professores e gestores de escolas de Ensino Fundamental da rede pública estadual da cidade de Aracaju.
A triagem das obras a serem analisadas nesta investigação, seguiu o critério dos títulos do 7º ano mais adotados durante o processo de avaliação e escolha dos livros didáticos pelos professores e gestores de escolas públicas estaduais da cidade de Aracaju, a partir do Guia do Livro Didático do PNLD 2011.
Optamos por analisar os volumes dos livros didáticos do 7º ano do Ensino Fundamental, por neles estarem, geralmente, contemplados de maneira mais recorrente, os conteúdos de cultura e história indígena, quando trata, mais especificamente, do período colonial da história do Brasil e da América.
Efetivada a seleção das obras didáticas, realizaremos a classificação dos tipos de imagens inseridas em suas laudas (desenhos, gráficos, pinturas, xilogravuras, litogravuras, fotografias, reproduções, entre outros), pelo fundamento dos níveis de iconicidade, em que cada imagem possui um potencial expressivo e certa carga informacional.
As representações acerca dos povos indígenas, elaboradas pelos autores de livros didáticos alvos da investigação, serão percebidas através de uma análise conjunta dos conteúdos das imagens, legendas e textos nucleares.
Após a conclusão desta fase, cruzaremos as informações extraídas da descrição e da análise das imagens e dos textos para percebermos o nível de conexão entre as visões sobre os índios presentes simultaneamente nos textos visuais e verbais, que conformarão o universo dos significados tecidos pelos autores dos livros didáticos.
Coletaremos amostragens entre professores e alunos da área urbana de Aracaju. A comunidade escolar que habita esta região, distanciada territorialmente de comunidades indígenas, constitui um público privilegiado para a captação de impressões específicas e originais sobre os índios, que são construídas, primordialmente, a partir de leituras e interpretações das imagens e textos dos livros didáticos de história, seus principais meios de contato com estes povos e seus modos de vida.
Serão gravadas e filmadas entrevistas com 4 professores e 8 alunos do 7º ano de 4 instituições de Ensino Fundamental de Aracaju. Os depoentes serão submetidos a roteiros de entrevista de memória oral, que tratarão das suas trajetórias de vida (familiar, estudantil e profissional) e de aspectos relacionados aos processos de escolha, usos e apropriações do livro didático de história, principalmente, no que se refere às imagens sobre os índios inseridas em suas laudas.
Efetivaremos ainda a etapa de transcrição das entrevistas, a passagem dos depoimentos coletados da forma oral para a escrita. A partir destas transcrições, realizaremos a leitura, seleção e escolha dos trechos mais importantes das falas dos entrevistados, que servirão como base para a extração e interpretação das informações disponibilizadas.
O primeiro capítulo da pesquisa tratará da apresentação formal dos livros didáticos. Realizaremos uma breve exposição das características gerais das imagens sobre os índios, destacando o lugar que elas ocupam no interior das laudas, sua distribuição por unidades e capítulos, as tipologias, cores e temáticas mais recorrentes. Numa seção posterior, observaremos a construção das representações sobre os índios elaboradas pelos autores, a partir da conexão analítica entre imagens, legendas e textos base de seus livros didáticos.No segundo tópico, realizaremos breve exame das características epistemológicas dos livros didáticos, para compreendermos, ainda que residualmente, qual a concepção de História ou paradigmas historiográficos e sócio-antropológicos esses livros representam ou privilegiam.
No segundo capítulo, apreciaremos, pelos dados coligidos das entrevistas com professores e alunos, os critérios de avaliação e escolha dos manuais adotados, bem como as formas de uso e apropriação em situações didáticas das suas imagens sobre os índios.
No terceiro e último capítulo, exporemos as impressões dos professores e alunos acerca das culturas e modos de vida indígena, destacando a sua constituição por intermédio dos suportes imagéticos introduzidos nos manuais escolares de história analisados.

Referências
BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990
BURKE, P. Testemunha ocular: História e imagem. Bauru, SP, EDUSC, 2004.
MUNAKATA, K. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. São Paulo, 1997. Tese (Doutorado em História e Filosofia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
BRASIL, Presidência da República. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade dos estudos de história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, no Brasil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 mar. 2008.

Fontes a serem consultadas
COTRIN, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Saber e Fazer História – História Geral e do Brasil. São Paulo: Saraiva Livreiros Editores. 2009.
JÚNIOR, Alfredo Boulos. História Sociedade e Cidadania – Nova edição. 7º ano. São Paulo: Editora FTD. 2009.
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino; LEMOS, Thiago Tremonte. História e vida integrada. 7º ano. São Paulo: Editora Ática. 2009.
VICENTINO, Cláudio Roberto. Projeto Radix – História. São Paulo: Editora Scipione. 7º ano. 2009.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Juventudes e cinema no Brasil: memórias da ditadura militar

Mais de 40 anos depois do golpe militar ocorrido no Brasil, em 02 de abril de 1964, Barros (1994) acredita que a memória do regime ditatorial que se seguiu a ele pode parecer apenas um amontoado de generais-presidentes que desfilam de forma impositiva pela história do Brasil. Porém, há outras memórias sobre o período que buscam ser compartilhadas, já que a produção de uma memória supõe que outra foi silenciada, ou apenas não evidenciada.

O presente texto busca apresentar algumas questões sobre o meu projeto de dissertação de mestrado em antropologia, ainda em fase inicial. Partindo da ideia de que a ditadura militar é um tema que ainda mereça muita discussão e que, geralmente, tem apenas um lado mais divulgado, principalmente aos jovens, o trabalho busca analisar o cinema como um mecanismo de disseminação de memórias às juventudes de hoje sobre o período no Brasil.

As formas pelas quais o país passou da ditadura para a pós-ditadura, lenta e sem julgamento devido, “provocam diferentes imposições de silenciamento sobre os crimes cometidos” (SOUZA, 2008, p. 58). A questão das memórias da ditadura no país pode ser discutida através do que nos diz Pollak, que aponta o retraimento de lembranças sobre eventos e experiências traumáticas (POLLAK apud SOUZA, 2008, p. 58).

O cinema, devido o uso de imagens e a maneira com que se comunica com o espectador, além de ser uma forma de entretenimento, é um importante mecanismo de transmissão de informação. Imagens postas, dispostas podem ou não provocar reflexões e ser promotoras e construtoras de memórias. Neste caso, memórias com o sentido atribuído por Halbwaschs: como leituras do passado elaboradas no presente, sendo individuais e coletivas ao mesmo tempo. “O processo de rememoração provocado pela linguagem fílmica é ainda mais marcante” (ZANINI, 2008, p. 4) pela possibilidade de comunicação e facilidade de contar uma história.

Até o momento, o objetivo principal da pesquisa é entender como e de que forma o cinema pode revelar à juventude de hoje uma nova perspectiva sobre o período ditatorial brasileiro, diferente daquela contada pela história oficial e livros nas escolas, entendendo que a memória é um importante mecanismo de manipulação e criação de identidades. Dentre os objetivos específicos, a dissertação pretende também analisar como o cinema brasileiro trabalha com a temática, entender como o cinema produzido no país lida com a juventude e analisar a forma que obras transmitem uma história.

A pesquisa busca encontrar, a partir de uma interpretação da arte cinematográfica, uma sensibilidade maior sobre o período analisado, compreendendo como tais memórias individuais podem se tornar importantes para a criação da memória coletiva. Para Geertz (1997), a capacidade de uma arte fazer sentido varia de indivíduo para outro, é, como todas as outras capacidades plenamente humanas, um produto da experiência coletiva que vai bem mais além dessa própria experiência. O diálogo entre cinema, história e memória (SANTOS, 2009) é possível devido a importância que os filmes têm hoje na vida das pessoas. A arte faz parte da vida e não há outro meio de interpretá-la senão dentro do curso da vida do mundo (GEERTZ, 1997). No caso das obras cinematográficas sobre a ditadura militar, “os filmes organizam imaginativamente, pela emoção, uma memória suplementar, a qual se refere tanto àquele passado como aos momentos posteriores” (SOUZA, 2008 p. 51).

Os filmes selecionados para análise serão a partir do período conhecido como “retomada do cinema brasileiro”, em 1995. No primeiro momento, no qual se encontra a presente pesquisa, está sendo realizado um levantamento bibliográfico e filmográfico para concluir a metodologia, além de entender a relação entre memória, cinema e antropologia. A princípio, o passo seguinte é analisar a relação do jovem com o cinema brasileiro, a partir do levantamento de filmes feitos para a juventude e a recepção deles pelo público, pesquisando dados como bilheteria, temáticas e a forma como o jovem é retratado.

Em seguida, haverá uma discussão de aspectos da ditadura militar no Brasil, além de um estudo de como os filmes nacionais tratam o tema, analisando obras consideradas importantes devido a temática, seu sucesso e a história por trás de sua produção, como Batismo de Sangue e Ação entre Amigos.

Por último, será demonstrado como o cinema pode ajudar a contar outra história da ditadura no país, disseminando diferentes memórias para a juventude e como ela a recepciona, a partir da análise da linguagem, da narrativa, dos atores, das histórias e também da carreira cinematográfica, a recepção e a opinião dos jovens.

Barbosa (1999) acredita que o cinema e a antropologia têm estabelecido um intenso diálogo ao longo de suas histórias, sendo um deles compreender as relações entre a produção imagética de uma sociedade e sua própria vida social. Sem cair ingenuamente no engano de considerar o cinema como espelho da vida, procura-se caminhos para desvendar essa complexa relação entre arte e vida

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARBOSA, Andréa C. M. Marques. Ana Lúcia Andrade. O filme dentro do filme. Revista de Antropologia, 2000. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012000000100013. Acesso em outubro de 2010.
BARROS, Edgar. Os governos militares. São Paulo: Editora Contexto, 1994.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro: Estudos históricos, 1989.
SOUZA, Maria Luiza Rodrigues. Tese de doutorado: Um estudo das narrativas cinematográficas sobre as ditaduras militares no Brasil (1964 – 1985) e na Argentina (1976 – 1983). Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
ZANINI, Maria Catarina Chitolina. Por que cinema com antropologia? Breve relato de uma experiência etnográfica de recepção fílmica. UFSCAR, 2008.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Sebem Entrevista Vagabanda

Faculdade de Rimas - Kuduro brasileiro



Música Africana
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/07/g1-lista-15-discos-para-conhecer-musica-africana.html

sábado, 28 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Breve entrevista com Alberto da Costa e Silva

O diplomata, ensaísta, poeta, historiador e africanólogo Alberto da Costa e Silva completa 80 anos e lança nova edição de seu livro: A Enxada e a Lança: a África antes dos Portugueses. Ele fala sobre: a Casa Grande e sua relação com a Senzala, o ineditismo da escravidão "racial", as "Áfricas" e suas culturas, a relação dele com o pai poeta, a perda da esposa, os próximos livros.

Clique aqui para ver a entrevista dada ao jornalista Edney Silvestre no programa Espaço Aberto Literatura da Globo News.

sábado, 14 de maio de 2011

Roadie Crew: discurso e tradição.

No presente texto, trato brevemente de questões relativas à fase inicial da minha monografia, cujo objeto de estudo é a revista especializada em heavy metal, Roadie Crew.

Em 1994, surgiu o fanzine brasileiro Roadie Crew, que se tornara a Revista Roadie Crew, três anos depois, motivada pelo Philips Monster of Rock, evento realizado no estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo, em 27 de agosto de 1994 (ROADIE CREW, 2007).
O evento contou com a apresentação das bandas brasileiras: Dr. Sin, Angra, Raimundos e Viper, além das internacionais: Suicidal Tendencies, Kiss, Slayer e Black Sabbath. O festival representou um momento muito especial para o heavy metal no Brasil, pois foi o primeiro concerto da banda Black Sabbath no país.
A publicação, segundo seus autores, já trazia em seu bojo o princípio editorial básico – “valorizar a música pesada, sem constrangimento de dizer abertamente que se trata de uma publicação cuja matéria-prima principal é o heavy metal” – como podemos ver, na fala do editor do fanzine, tratava-se de uma publicação passional.
Neste primeiro momento, a publicação não tinha pretensões de natureza comercial, pois um fanzine (fanatic magazine) trata-se de uma revista editada por fãs, não comportando em sua ideia originária nenhum valor de natureza comercial. Pelo contrário, os fanzines nascem geralmente num contexto de contracultura e pretendem ser um informativo sobre alguma temática específica. Outro sentido de tal tipo de publicação é o de rivalizar com os mass media tradicionais.
Após três anos com frequência irregular, distribuição e quantidade limitadas, surge a Roadie Crew Editora Ltda, com sede em São Paulo, constituída com o “desejo de profissionalização”, que possibilitou a criação da revista, além de também investir na elaboração de um site na internet.

O meu objetivo com a pesquisa é analisar um suposto discurso de identificação, construído pela revista, que a partir de recorrentes visitas ao passado, ressalta valores e características essenciais do heavy metal da década de 1980, tais como, os que são definidos por agressividade, peso sonoro e fidelidade musical (WEINSTEIN, 2000).

O frequente apelo à memória é uma das marcas discursivas mais comuns da revista e podemos encontrá-las com alguma frequência no discurso dos três atores enunciativos presentes na publicação: os jornalistas, os músicos e os leitores.

Geralmente, tal deslocamento é feito com o intuito de explicar ou justificar uma demanda do cotidiano. No caso da revista, acontece quando faz suas críticas sobre novos álbuns, shows e bandas, no do músico, quando fala acerca de suas influências estéticas e, no caso do leitor (headbanger), quando exprime seu gosto por uma banda ou estética.

Em todo o caso, os elementos retóricos mais enfáticos da Revista são construídos com os poderosos argumentos que idealização uma tradição, objetivando, de algum modo, um desejo por um determinado padrão de conduta e produção estética do heavy metal.

Parto hipoteticamente das ideias nativas, presentes no texto da Revista, de “real” e “falso”, referências muito comuns às “bandas reais” – que têm fortes vínculos com a tradição – e as “bandas falsas”, isto é, entendidas como comerciais ou “modinhas” que não teriam ligação com o heavy metal "tradicional", bem como aos adeptos e músicos envolvidos nesse estilo de vida.

Quanto à metodologia, no primeiro momento, farei uma análise objetivando uma contextualização da Revista desde seu surgimento. A abordagem priorizará a análise sobre o entendimento do corpo e das linhas editoriais, a hierarquização burocrática, as informações comerciais sobre vendas e tiragem, o diálogo com empresas fonográficas, de acessórios e de instrumentos musiciais, bem como, a política de direção, de relação com colaboradores nacionais e estrangeiros e a sua inserção no mercado midiático da música em geral.

No segundo momento, por meio da análise do discurso de origem francesa, visando compreender as estratégias discursivas, sua qualidade performativa, analisarei o emprego de elementos verbais e não-verbais utilizados na publicação e na construção da política editorial e, sobretudo, como essa linguagem constrói, regula e dissemina um conhecimento especializado.

Referências bibliográficas:
ROADIE CREW. 100 grandes álbuns- heavy metal e classic rock, São Paulo. ano 10, n°100, 2007.
WEINSTEIN, Deena. Heavy Metal: the music and its culture. Capo Press, rev. ed. 2000

terça-feira, 10 de maio de 2011

“PUXO O CAVAQUINHO PRA CANTAR DE GALO”: ESTILO DE VIDA, CONFLITO E SOLIDARIEDADE NO CIRCUITO DO CHORO DE ARACAJU.

(por Daniela Moura Bezerra)

A proposta do presente texto é a de apresentar brevemente os encaminhamentos adotados para a elaboração de minha Dissertação de Mestrado em Sociologia (em andamento), um trabalho que tem dado continuidade as discussões apresentadas na monografia de conclusão de curso em Ciências Sociais, no ano de 2008.

Em linhas gerais, o objetivo é o de estudar a presença e a consolidação do estilo musical conhecido por choro, na cidade de Aracaju/ SE. Segundo Fortuna (1998), a abordagem sonora da cidade, sendo a música apenas um desses sons, representa uma faceta que permite conhecer e entender as trajetórias, configurações sociais, os estilos de vida e as formas de estrutura social. A idéia defendida aqui é a de que a prática do choro – seja por tocá-lo ou por freqüentar os locais em que este pode ser ouvido – acaba por definir um estilo de vida com padrões particulares na cidade. Conforme argumenta Featherstone (1995), os estilos de vida representam as disposições, práticas culturais e formas de lazer que possibilitam a demarcação de fronteiras entre grupos. Tais fronteiras são estabelecidas principalmente pelo acúmulo de prestígio e de critérios legitimadores em um dado campo social. Os estilos de vida, portanto, podem servir de demarcadores espaciais das cidades, que são entendidos neste caso como circuitos. Utilizo tal categoria para descrever e analisar os usos que um determinado grupo faz do espaço urbano (MAGNANI, 1999).

O circuito aracajuano do choro é composto atualmente por sete grupos, que se reúnem em bares, restaurantes e residências, localizados em diferentes pontos da cidade. A estratégia adotada para a identificação desses conjuntos foi a de utilizar as indicações dos próprios participantes para encontrá-los, o que além de indicar os espaços, revelou a existência de rivalidades no circuito, tendo em vista que o fato de não mencionarem outros grupos não se devia ao não conhecimento dos mesmos, mas sim a falta de afinidade, quer musical, quer afetiva entre eles. Deste modo, é possível afirmar que tal circuito encontra-se fragmentado e no conflito os grupos reivindicam para si o título de “verdadeira boemia aracajuana”.

Entender quais são os critérios ativados ao se tomar o próprio choro enquanto estilo de vida constitui, deste modo, o cerne do trabalho. A análise das entrevistas revelou na tentativa de legitimação cada grupo destaca ou ativa uma particularidade, tais como: ser um virtuoso (músico excepcional), ser o grupo mais antigo, promover constantemente eventos relacionados ao choro, ser o grupo mais atuante, entre outras. Estes são considerados nesse universo musical critérios legítimos. Contudo, a maneira que o circuito está organizado dá indicações da existência de outros recursos, talvez até de maior peso nesse processo, perceber quais são estes é o que se propõe a pesquisa.

O desenvolvimento metodológico do trabalho acorreu em algumas etapas. Após a identificação do atual circuito, foi feito um levantamento a respeito do que se tem escrito a respeito do choro. Foram lidas reportagens de revistas especializadas e jornais locais, livros que contam a história do estilo musical no Brasil e trabalhos acadêmicos referente ao mesmo. Também foram revistos os vídeos, anotações de campo e transcrições feitas no desenvolvimento do trabalho de monografia. Por fim, foi realizada a observação de campo que consistiu em frequentar os locais produtores do choro em Aracaju.

A proposta de Dissertação está estruturada em três capítulos, o primeiro, intitulado Por uma sociologia da música: as representações do choro no cenário musical brasileiro, inicialmente situa a proposta metodológica do presente trabalho. Em seguida, apresentamos o que para fins de análise classificamos de “histórias oficiais” sobre o gênero no país e com o intuito de se perceber de que maneira as narrativas, a respeito do seu desenvolvimento no Brasil, têm servido como uma estratégia de legitimação na escolha do ouvir e do executar o choro. Também discutimos o papel da Rádio Aperipê na sustentação e manutenção do estilo musical e a criação do Projeto Cidade do Chorinho, pelo governo estadual.

No segundo capítulo, Discursos e práticas de diferença e identificação no circuito do choro de Aracaju, apresentamos como o choro tem se constituído em um estilo de vida, pois acreditamos que esse tipo de música tem desempenhado um papel central na vida do grupos estudados. Posteriormente, analisaremos os discursos e práticas de diferença e identificação que compõem o circuito do choro e que têm contribuído para o surgimento de ralações de rivalidade e solidariedade entre os grupos. O último tópico apresenta um estudo comparativo entre as rodas de choro e casas de serestas encontradas no Bairro Industrial da cidade. Para isso, buscamos perceber se a diferenciação entre os estilos é uma questão de técnica musical ou de contexto social.

No terceiro e último capítulo, A busca por legitimidade no contexto das rodas de choro da cidade, fazemos um estudo sobre os trajetos dos músicos no circuito, ou seja, das escolhas feitas por estes no circuito. A idéia defendida aqui é de que essas escolhas em muito dependem de suas histórias de vida e que, por sua vez, conferem prestígio ou não a eles. Também serão abordadas as retóricas identitárias que constroem a figura do ser chorão em Aracaju.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEATHERSTONE, Mike; SIMÕES, Julio Assis (Trad.). Cultura de consumo e pós modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995
FORTUNA, Carlos. Imagens da cidade: sobre a heurística das paisagens sonoras e ambiente sociais urbanos. Coimbra: Centro de Estudos Sociais, Nº 104, 1998.
MAGNANI, Jose Guilherme Cantor. Mystica urbe: um estudo antropológico sobre o circuito neo -esotérico na cidade. São Paulo: Estudo Nobel, 1999.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Produção, Consumo e Estilo de vida: o Rock e o Sertão em Sergipe


O presente texto irá tratar de alguns pontos referentes ao meu projeto de pesquisa aprovado para o Mestrado de Antropologia Social – UFS. O trabalho intitulado “Produção, consumo e estilo de vida: o Rock e o Sertão em Sergipe”, tem como referencial teórico os Estudos Culturais, estudos da juventude, do estilo de vida e do consumo. Nesse contexto, tenho como objeto de pesquisa o evento Rock Sertão, que acontece no município sergipano de Nossa Senhora da Glória (Situada no sertão sergipano a 126km da capital e com 30.466habitantes, segundo dados do censo de 2008 do IBGE) desde o ano de 2001 e que no de 2011 está em sua 9ª edição.


A partir de pesquisa feita no Blog - www.rocksertao.com.br/blog/ - idealizado pela comissão organizadora do evento, obtive conhecimento de que festival Rock Sertão surgiu a partir da necessidade dos integrantes de uma banda de rock local, chamada Fator RH, em divulgar seu trabalho e promover um intercâmbio entre as bandas que se intitulam alternativas (termo para designar grupos à margem do circuito midiático) e independentes (termo usado para designar bandas sem vínculo com gravadoras renomadas) para que elas também pudessem ter um espaço para demonstrar suas músicas.


De acordo com os idealizadores, a idéia pensada para o festival era a de que as bandas alternativas de vários estilos musicais pudessem demonstrar suas produções, sem cobrar cachê, num evento que ocorreria em praça pública para que assim se pudesse formar um público maior para esse estilo musical e atender os anseios do público local. Além disso, buscava-se também através do festival o acesso a uma produção musical oriunda da própria região e o estimulo ao surgimento de novas bandas de rock, contrapondo-se aos estilos musicais mais evidenciados pelas propagandas de governo em Sergipe e pela mídia comercial, como: o forró, o pagode e o axé.


O festival, ao longo de sua trajetória, foi sendo ampliado e tem conseguindo espaço de divulgação local através de um programa que vai ao ar aos domingos na Rádio Comunitária “Boca da Mata FM” e que toca diversas músicas do cenário do rock independente sergipano. Através do festival, o público pode também comprar materiais das bandas, como CD’s, camisetas, adesivos e conhecendo melhor a produção das bandas.

O público e a participação no evento foram se ampliando. As pessoas começaram a ligar para a rádio Boca da Mata e pedir que tocassem as músicas das bandas que participavam do evento, fato que propiciou a organização decidir quais bandas poderiam tocar e agradar o público local. Dessa maneira, eles foram atraindo cada vez mais público, até que na 6ª edição chegaram a participar 16 bandas sergipanas e um cantor de reconhecimento nacional: Zeca Baleiro. A partir dessa aceitação local, o festival foi também chamando atenção da mídia sergipana, tendo sua programação divulgada na maior emissora de TV sergipana, vinhetas divulgadas nas rádios, divulgação na internet e em blogs, além de na penúltima e última edição contar com o apoio do poder público estadual para a realização do festival.
Dito isto, o objetivo geral da pesquisa é analisar a partir do festival Rock Sertão, o consumo cultural e estilos de vida dos jovens produtores e consumidores do festival e sua relação com o que este evento significa em Sergipe.


Como metodologia da pesquisa, proponho contextualizar a trajetória do surgimento do festival, como ele se firmou, como é financiado, como é caracterizado e produzido, através de entrevistas com os produtores do evento. Estou acompanhando, através da observação direta, toda a logística dos dias que antecedem o festival deste ano, e estarei presente nos dias de realização do evento. Etnografar o momento do festival, analisando os atores presentes (produtores, músicos e consumidores), como agem, como se movimentam, como se vestem, suas percepções sobre o evento, suas relações de sociabilidade, usos dos espaços, apropriações simbólicas e expressões que aproximam a análise sobre o consumo do festival, bem como sobre um estilo de vida próprio. Além disso, a idéia é entrevistar atores do setor midiático municipal e estadual a fim de entender suas percepções sobre o festival e como ele se situa diante do contexto do mainstream cultural sergipano.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

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