Juliana Almeida, Gregorio Cerqueira e Mirtes Rose Menezes
HALL, Stuart. Para
Allon White: metáforas de transformação. HALL. Stuart. Da Diáspora. Identidades e
Mediações Culturais. Belo Horizonte: EdUFMG/Humanitas, 2003.
Hall
faz uma reflexão em torno da obra A
política e a poética da transgressão, de Peter Stallybrass e Allon White,
que explora as categorias culturais ‘alto/baixo’ e sua predominância na Europa.
O autor fala das metáforas da transformação e lança hipóteses sobre o que
aconteceria se os valores culturais predominantes fossem transformados e novos
significados socioculturais surgissem. Essas metáforas devem ter uma
preocupação analítica para se entender as relações entre os domínios social e
simbólico nos processos de mudanças.
Uma crítica às idéias da classe dominante de
Marx é feita por Hall, que relaciona à força material com a força intelectual –
uma das metáforas clássicas de transformação. A teoria cultural já abandonou
esse ponto de vista marxista e trata a questão social e simbólica na
perspectiva de um ‘jogo’ entre poder e cultura. Esta referência à cultura ‘alta
e ‘baixa’ não é recente, mas ainda nos é atual quando há a ameaça da ‘cultura
minoritária’ pela presença constante da cultura de massa mercantilizada.
Stallybrass
e White se apóiam na idéia de Bakhtin sobre o carnaval para dar uma noção de
‘transgressão’ dessa dualidade cultural. Nesse aspecto, o carnaval traz uma
inversão temporária e consentida da ordem, onde alto e baixo se confundem. Essa
metáfora do carnaval representa uma ligação com novas fontes de vitalidade,
onde a fertilidade e os excessos proporcionam o transbordamento da energia
libidinal e transformam o carnavalesco em uma poderosa metáfora da
transformação social e simbólica. Não é simplesmente uma metáfora de inversão
da estrutura binária, mas a transgressão dessa dicotomia ofuscando a
determinação da ordem hierárquica e revela uma interdependência.
Desde
o modernismo tem sido cada vez mais difícil manter o alto e o baixo
distanciados nos seus modelos de classificação e o ‘popular’ vem sendo
repensando na perspectiva do relacionamento,
da resistência na visão de Gramsci onde o conceito ‘nacional-popular’ é um
terreno de luta cultural e hegemônica ‘relativamente autônomo’ em relação a
outros tipos de luta social. Hall cita Volochínov e o livro Marxismo e filosofia da linguagem, onde
o caráter discursivo da ideologia é estabelecido e o domínio da ideologia e dos
signos se coincidem. Esta obra exerce uma função crítica e faz um deslocamento
da metáfora ‘base e superestrutura’ para a concepção ideológica do ‘discurso e
poder’.
Hall
cita Derrida, para definir que essa distinção alto/baixo está sob rasura e os
conceitos de ambivalência, hibridismo e interdependência transgrediram essa
estabilidade binária no campo cultural. Isso não significa que essa força
metafórica ‘de cima’ e ‘de baixo’ sejam abandonadas. Eles continuam sendo
fundamentais à organização das práticas culturais que não se situam fora do
jogo do poder, na medida em que, através da cultura o poder opera para
sobrepor, regular os mecanismos da hegemonia cultural. Portanto, como bem diz
Hall, “aquilo que é socialmente periférico pode ser simbolicamente central”.
(p. 226)
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